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Notícias
22
nov
2005
(GERAL)
Construir e viver com a madeira: avanços e necessidades do século XXI
Ao invés de vender a matéria-prima, entregando nosso "ouro verde", temos que gerar riqueza a partir desse ativo, investindo em tecnologia, qualidade e produtividade, gerando diferenciais competitivos que agregam valor ao material.
Difundir a nobreza e a importância da madeira reflorestada e estimular seu uso são imprescindíveis. Até mesmo como preservação da mata nativa e de fontes energéticas.
Certa vez ouvi uma frase que "colou" na minha cabeça: "Madeira é bom, mas ninguém sabe". Eu, como produtor de casas, perfis e móveis de madeira, e tendo vivido anos no Japão, país que reúne tecnologia e respeito pelo uso da madeira, admito que sou um entusiasta dessa matéria-prima.
Entendo que a madeira tem inúmeros benefícios, inclusive para o meio ambiente, desde a prática do plantio até o uso adequado do material reflorestado, pois minimiza a exploração da mata nativa, escassa e cara. Talvez, por isso mesmo, a minha estranheza.
Mas os fatos são evidentes: apesar do Brasil ser um país com vocação florestal, das potencialidades de reflorestamento e de uma crescente demanda por moradias, a tradição construtiva em alvenaria de tijolos, introduzida pelos portugueses na época da colonização do país, ainda é a mais utilizada. Entre nós, o uso da madeira ainda está restrito aos produtos de acabamento como pisos, rodapés, estrutura do telhado e esquadrias.
Embora tenhamos tecnologias disponíveis para construções em madeira, este conhecimento ainda está restrito, em grande parte, às universidades, em função do pouco diálogo entre os empresários que atuam nos segmentos de produtos de madeira e os pesquisadores universitários. E as próprias universidades lutam para trabalhar com as pequenas verbas disponibilizadas para a pesquisa voltada ao desenvolvimento de tecnologias de construção em madeira.
A madeira é o único material construtivo que pode ser reposto pela própria natureza e, por ser biodegradável, os resíduos são totalmente aproveitados. Numa época de crise energética e de preocupação com o meio ambiente é de se esperar um maior interesse por este material, cujo beneficiamento requer pouco consumo de energia.
Outros materiais estruturais, como o aço e o concreto armado, são produzidos por processos altamente poluentes, antecedidos por agressões ambientais consideráveis para a obtenção de matéria-prima. Os referidos processos requerem alto consumo energético e a matéria-prima retirada da natureza jamais será reposta. Já a madeira, se renova mesmo sob rigorosas condições climáticas.
O Brasil possui a maior e a mais diversificada floresta do mundo, nosso clima e solo são apropriados ao plantio de espécies de rápido crescimento, especialmente eucalipto e pinnus. Fruto de suas condições privilegiadas, o Brasil é hoje um recordista em produtividade: espécies que demandam 80 anos para o adequado beneficiamento nos países produtores, em território nacional precisam de apenas 25 anos.
A área cultivada com eucalipto e pinnus, com o grande impulso de incentivos fiscais das décadas de 70 e 80, passou de 4 mil hectares para 4,8 milhões de hectares. O Brasil é hoje o quarto maior produtor mundial de produtos florestais, mas no ramo das exportações ainda é apenas o 14.°.
Historicamente, nossas riquezas têm sido exploradas no sentido negativo, extrativista apenas, sendo levadas de nosso território para gerar divisas e desenvolvimento em outros países. Fruto dessa cultura é que temos tão pouca expressividade mundial na exportação de produtos de madeira, e nos encontramos diante de um contra-senso, na iminente possibilidade de termos que importar madeira em função de um possível "apagão" florestal.
Está na hora do Brasil prestar atenção à produção e uso da madeira. Ao invés de vender a matéria-prima, entregando nosso "ouro verde", temos que gerar riqueza a partir desse ativo, investindo em tecnologia, qualidade e produtividade, gerando diferenciais competitivos que agregam valor ao material.
Para que tudo isso aconteça é fundamental que esteja presente na pauta estratégica do governo um programa florestal consistente onde o setor produtivo esteja incluído. Ações de incentivo do plantio e a produção sustentável de madeira são indispensáveis, mas devem ser acompanhadas de estímulo à agregação de valor, gerando empregos e inclusão social.
Além de políticas de redução de alíquotas de importação de equipamentos e tecnologia, e ampliação das restrições de exportação de produtos sem valor agregado (toras brutas, por exemplo).
Dadas as vantagens comparativas que o país possui, a participação de apenas 4% no PIB nacional parece muito pequena. Se for considerada uma área plantada de 4,8 milhões e os 500 mil empregos gerados, pode-se concluir que o setor florestal ainda pode expandir significativamente.
Se o país caminha para ser o "celeiro do mundo", que o seja também na produção de madeira, fonte de riqueza cada vez mais valiosa. Está mais do que na hora de todo mundo saber que a madeira é ótima, sim, e o seu uso racional, melhor ainda.
Fonte: Estadão – 17/03/2004
Difundir a nobreza e a importância da madeira reflorestada e estimular seu uso são imprescindíveis. Até mesmo como preservação da mata nativa e de fontes energéticas.
Certa vez ouvi uma frase que "colou" na minha cabeça: "Madeira é bom, mas ninguém sabe". Eu, como produtor de casas, perfis e móveis de madeira, e tendo vivido anos no Japão, país que reúne tecnologia e respeito pelo uso da madeira, admito que sou um entusiasta dessa matéria-prima.
Entendo que a madeira tem inúmeros benefícios, inclusive para o meio ambiente, desde a prática do plantio até o uso adequado do material reflorestado, pois minimiza a exploração da mata nativa, escassa e cara. Talvez, por isso mesmo, a minha estranheza.
Mas os fatos são evidentes: apesar do Brasil ser um país com vocação florestal, das potencialidades de reflorestamento e de uma crescente demanda por moradias, a tradição construtiva em alvenaria de tijolos, introduzida pelos portugueses na época da colonização do país, ainda é a mais utilizada. Entre nós, o uso da madeira ainda está restrito aos produtos de acabamento como pisos, rodapés, estrutura do telhado e esquadrias.
Embora tenhamos tecnologias disponíveis para construções em madeira, este conhecimento ainda está restrito, em grande parte, às universidades, em função do pouco diálogo entre os empresários que atuam nos segmentos de produtos de madeira e os pesquisadores universitários. E as próprias universidades lutam para trabalhar com as pequenas verbas disponibilizadas para a pesquisa voltada ao desenvolvimento de tecnologias de construção em madeira.
A madeira é o único material construtivo que pode ser reposto pela própria natureza e, por ser biodegradável, os resíduos são totalmente aproveitados. Numa época de crise energética e de preocupação com o meio ambiente é de se esperar um maior interesse por este material, cujo beneficiamento requer pouco consumo de energia.
Outros materiais estruturais, como o aço e o concreto armado, são produzidos por processos altamente poluentes, antecedidos por agressões ambientais consideráveis para a obtenção de matéria-prima. Os referidos processos requerem alto consumo energético e a matéria-prima retirada da natureza jamais será reposta. Já a madeira, se renova mesmo sob rigorosas condições climáticas.
O Brasil possui a maior e a mais diversificada floresta do mundo, nosso clima e solo são apropriados ao plantio de espécies de rápido crescimento, especialmente eucalipto e pinnus. Fruto de suas condições privilegiadas, o Brasil é hoje um recordista em produtividade: espécies que demandam 80 anos para o adequado beneficiamento nos países produtores, em território nacional precisam de apenas 25 anos.
A área cultivada com eucalipto e pinnus, com o grande impulso de incentivos fiscais das décadas de 70 e 80, passou de 4 mil hectares para 4,8 milhões de hectares. O Brasil é hoje o quarto maior produtor mundial de produtos florestais, mas no ramo das exportações ainda é apenas o 14.°.
Historicamente, nossas riquezas têm sido exploradas no sentido negativo, extrativista apenas, sendo levadas de nosso território para gerar divisas e desenvolvimento em outros países. Fruto dessa cultura é que temos tão pouca expressividade mundial na exportação de produtos de madeira, e nos encontramos diante de um contra-senso, na iminente possibilidade de termos que importar madeira em função de um possível "apagão" florestal.
Está na hora do Brasil prestar atenção à produção e uso da madeira. Ao invés de vender a matéria-prima, entregando nosso "ouro verde", temos que gerar riqueza a partir desse ativo, investindo em tecnologia, qualidade e produtividade, gerando diferenciais competitivos que agregam valor ao material.
Para que tudo isso aconteça é fundamental que esteja presente na pauta estratégica do governo um programa florestal consistente onde o setor produtivo esteja incluído. Ações de incentivo do plantio e a produção sustentável de madeira são indispensáveis, mas devem ser acompanhadas de estímulo à agregação de valor, gerando empregos e inclusão social.
Além de políticas de redução de alíquotas de importação de equipamentos e tecnologia, e ampliação das restrições de exportação de produtos sem valor agregado (toras brutas, por exemplo).
Dadas as vantagens comparativas que o país possui, a participação de apenas 4% no PIB nacional parece muito pequena. Se for considerada uma área plantada de 4,8 milhões e os 500 mil empregos gerados, pode-se concluir que o setor florestal ainda pode expandir significativamente.
Se o país caminha para ser o "celeiro do mundo", que o seja também na produção de madeira, fonte de riqueza cada vez mais valiosa. Está mais do que na hora de todo mundo saber que a madeira é ótima, sim, e o seu uso racional, melhor ainda.
Fonte: Estadão – 17/03/2004
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