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Notícias

22
nov
2005
(GERAL)
Resíduos viram energia para quilombolas.
Lideranças das comunidades remanescentes dos quilombos, localizadas em Abaetetuba, conheceram ontem, o equipamento que transforma sobras de vegetais em energia elétrica. A tecnologia indiana adaptada pela Universidade Federal do Pará levará a luz para uma delas, Jenipaúba, mas com uma distribuição associada a organização produtiva para geração de renda.

A implantação do motor para “gaseificação” em Jenipaúba faz parte do programa Raízes, criado pelo governo estadual. Além de regularizar a situação fundiária das comunidades quilombolas, o programa envolve todas as secretarias executivas para auxiliar essas comunidades na melhoria da base da economia local.

A parceria entre o programa e a UFPA garantirá dois tipos de benefício a Jenipaúba. Um, individual, será a comodidade de trocar velas e lamparinas pela energia elétrica, além de se poder utilizar eletrodomésticos. Outro, coletivo, será a possibilidade de melhorar a economia local por causa do uso de equipamentos que armazenam e agilizam a produção.

O motor movido a gás é fundamental porque há localidades onde o custo para implantação da rede convencional - servida por hidrelétrica - é alto demais para a arrecadação que geraria. Somente em Abaetetuba, outras nove comunidades estão nessa situação por causa da distância e da população reduzida.

O equipamento mostrado ontem para os líderes comunitários é capaz de gerar 25 quilowatts de energia. Isso é mais do que os 15 quilowatts necessários para abastecer as 49 casas de Jenipaúba, além da produção de açaí, durante 24 horas. O motor precisa ser alimentado com 20 quilos de rejeitos a cada hora.

O que alimenta o motor são cascas de árvores e de castanha, galhos, caroço de açaí ou qualquer outro resíduo vegetal. Se o equipamento for adaptado para gasolina, é possível movê-lo somente com os resíduos. Caso seja adaptado para diesel, funciona com apenas um quinto do combustível necessário no motor convencional.

O resultado é a produção de gás carbônico, produto que já foi consumido por residências de Belém para fazer funcionar fogões, segundo Brígida Rocha, professora que coordena o trabalho executado no laboratório de química da UFPA. Ela afirma que o gás produzido agora é mais limpo porque será utilizado na geração de energia elétrica.

Os pesquisadores precisaram adaptar o motor indiano às condições climáticas daqui para filtrar as impurezas deixadas no equipamento durante o funcionamento. É o único aperfeiçoamento no motor que, ao final da produção, também gera o carvão ativado utilizado comercialmente em equipamentos de filtragem de água.

Primeiro motor poderá ser instalado pelo Programa Raízes em janeiro de 2004

Integrante do grupo gestor do Raízes, Osias Aquino revela que o motor poderá ser instalado em Jenipaúba em janeiro de 2004. Paralelo à instalação, será realizado um trabalho de orientação das comunidades para que organizem cooperativas. A expectativa é que soma dos dois investimentos melhore a economia local com a verticalização da produção de açaí.

Segundo Osias, o governo estadual doará o equipamento para a comunidade. As instalações também serão construídas sob a supervisão da Secretaria Executiva de Obras e a instalação do motor será feita pela UFPA. Não haverá licitação e sim um acordo para doação.

Osias afirma não se tratar de paternalismo, mas de uma compensação pelos erros cometidos há anos contra os escravos que deram origem às áreas quilombolas. Também se trata, diz, de uma política de geração do desenvolvimento sustentável.

As dez comunidades quilombolas de Abaetetuba reúnem 817 famílias e uma população de 4 mil habitantes. Do total, 540 famílias estão envolvidas diretamente na coleta de açaí. Hoje, essa produção é toda vendida, in natura, para os revendedores instalados no centro de Abaetetuba, com nenhum aproveitamento do caroço da fruta.

A lógica do Raízes, coordenado pela Secretaria Executiva de Justiça (Seju), é fazer essas comunidades retirarem a polpa do açaí para venda do produto congelado, o que gera ganho local maior. O caroço antes descartado também é revertido em benefício ao alimentar o motor de geração de energia a ser instalado e ainda ser revendido em forma de carvão.

O ganho econômico seria mais amplo porque atingiria as comunidades quilombolas servidas pela energia hidrelétrica. Em Jenipaúba, os produtores de açaí já estão mais organizados e fazem, inclusive, a exploração manejada da fruta.

Segundo o presidente da Associação das Comunidades Remanescentes de Quilombos das ilhas de Abaetetuba, Gercino Costa, algumas comunidades têm recebido treinamento sobre manejo do açaí, desenvolvimento da avicultura, fruticultura e apicultura desde 2001. A expectativa é que essa produção seja impulsionada com a energia elétrica.

Fonte: Oliberal

12/dez/03

Fonte:

Neuvoo Jooble