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Notícias
22
nov
2005
(GERAL)
Amazônia pode ser fonte de CO2, diz estudo.
Trechos da floresta amazônica, considerada por muito tempo uma garantia do planeta contra o aquecimento global, podem estar, na verdade, lançando na atmosfera --mais do que absorvendo-- o principal gás a causar o problema, de acordo com cientistas brasileiros e norte-americanos.
"Ainda não se sabe como a floresta atua na escala regional, mas estamos vendo que a variabilidade [em relação à absorção ou emissão de gás carbônico] é muito maior do que imaginávamos", diz Humberto Ribeiro da Rocha, 39, do Departamento de Ciências Atmosféricas do IAG (Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP).
Ao lado de colegas da USP, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), da Universidade Harvard (EUA) e de outras instituições norte-americanas, Rocha é um dos autores do artigo que sai hoje na revista "Science" (www.sciencemag.org). A pesquisa mediu por três anos a saída e a entrada de gás carbônico (CO2) na Floresta Nacional do Tapajós, ao sul de Santarém, no Pará.
A intenção da equipe é mapear como os diversos processos biológicos da floresta interagem com a atmosfera ao longo do ano, emitindo ou absorvendo CO2. Feita a contabilidade final desses processos, o importante é saber o que predomina, já que o gás carbônico retém radiação do Sol na atmosfera do planeta e, por isso, é o principal vilão do aquecimento global, ou efeito estufa descontrolado.
Para isso, os cientistas usam sensores em torres de 60 m de altura, acima das árvores mais altas, que captam os gases que emanam da floresta e conseguem medi-los. Há também instrumentos que captam a emissão de CO2 do solo e o chamado método biométrico --nesse caso, o aumento dos troncos das árvores é usado para estimar quanto carbono elas precisaram absorver para crescer.
Até hoje, medições feitas com esses métodos perto de Manaus (AM) e em Rondônia, por exemplo, haviam sugerido que a mata mais sequestrava do que liberava gás carbônico, numa proporção que ia de 1 a 5 toneladas por hectare por ano. "Esses resultados provavelmente foram superestimados, mas é quase certo que lá a floresta realmente esteja absorvendo carbono", diz Rocha.
A coisa mudou de figura, no entanto, quando a equipe examinou os dados de Santarém: nada menos que 1,3 tonelada por hectare de CO2 estava sendo lançada para a atmosfera pela floresta, anualmente. "Os dados biométricos apontaram 2 toneladas, já que têm um erro padrão grande, mas o que importa é o sinal [positivo em vez de negativo]", diz Rocha.
Esse, no entanto, é só o primeiro dos paradoxos observados na floresta. Por muito tempo acreditou-se que o ápice da absorção de carbono acontecia na época das chuvas, quando as plantas crescem mais e, portanto, usam mais CO2 para construir sua biomassa. A pesquisa, no entanto, revelou que isso acontecia na seca, enquanto a floresta "emagrecia" (perdia biomassa) na estação chuvosa.
"Esse é o grande xis da questão", diz o cientista espacial Volker Kirchhoff, 61, do Inpe, que também assina a pesquisa. "O que acontece é que um dos ciclos [o seco] está sendo menor que o outro." No caso, sugere a equipe, o fator que faz a diferença é a chamada liteira, a camada de folhas e material orgânico em decomposição que recobre o chão da floresta. "Os microrganismos que decompõem esse material precisam de um nível alto de umidade para operar", diz Rocha.
Na seca, com menos umidade, há menos respiração nessa faixa da floresta, e a emissão de CO2 despenca, enquanto a fotossíntese (que "devora" a substância) não chega a cair muito. Com as chuvas, no entanto, a atividade da liteira volta com toda a força, desequilibrando a balança, no fim, a favor da emissão de carbono.
Para os pesquisadores, muitos outros dados são necessários para estimar como toda a floresta se relaciona com o ciclo de carbono. "Um fator em Santarém é que aparentemente a floresta foi perturbada, talvez por secas causadas pelo El Niño", diz Kirchhoff. A ação humana poderia causar os mesmos efeitos adversos, sugere o cientista. "De qualquer forma, a floresta derrubada é garantia de José Maria Alves da Silva,emissão de CO2", diz Rocha.
Reinaldo José Lopes
Fonte: Folha de São Paulo
01/dez/03
"Ainda não se sabe como a floresta atua na escala regional, mas estamos vendo que a variabilidade [em relação à absorção ou emissão de gás carbônico] é muito maior do que imaginávamos", diz Humberto Ribeiro da Rocha, 39, do Departamento de Ciências Atmosféricas do IAG (Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP).
Ao lado de colegas da USP, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), da Universidade Harvard (EUA) e de outras instituições norte-americanas, Rocha é um dos autores do artigo que sai hoje na revista "Science" (www.sciencemag.org). A pesquisa mediu por três anos a saída e a entrada de gás carbônico (CO2) na Floresta Nacional do Tapajós, ao sul de Santarém, no Pará.
A intenção da equipe é mapear como os diversos processos biológicos da floresta interagem com a atmosfera ao longo do ano, emitindo ou absorvendo CO2. Feita a contabilidade final desses processos, o importante é saber o que predomina, já que o gás carbônico retém radiação do Sol na atmosfera do planeta e, por isso, é o principal vilão do aquecimento global, ou efeito estufa descontrolado.
Para isso, os cientistas usam sensores em torres de 60 m de altura, acima das árvores mais altas, que captam os gases que emanam da floresta e conseguem medi-los. Há também instrumentos que captam a emissão de CO2 do solo e o chamado método biométrico --nesse caso, o aumento dos troncos das árvores é usado para estimar quanto carbono elas precisaram absorver para crescer.
Até hoje, medições feitas com esses métodos perto de Manaus (AM) e em Rondônia, por exemplo, haviam sugerido que a mata mais sequestrava do que liberava gás carbônico, numa proporção que ia de 1 a 5 toneladas por hectare por ano. "Esses resultados provavelmente foram superestimados, mas é quase certo que lá a floresta realmente esteja absorvendo carbono", diz Rocha.
A coisa mudou de figura, no entanto, quando a equipe examinou os dados de Santarém: nada menos que 1,3 tonelada por hectare de CO2 estava sendo lançada para a atmosfera pela floresta, anualmente. "Os dados biométricos apontaram 2 toneladas, já que têm um erro padrão grande, mas o que importa é o sinal [positivo em vez de negativo]", diz Rocha.
Esse, no entanto, é só o primeiro dos paradoxos observados na floresta. Por muito tempo acreditou-se que o ápice da absorção de carbono acontecia na época das chuvas, quando as plantas crescem mais e, portanto, usam mais CO2 para construir sua biomassa. A pesquisa, no entanto, revelou que isso acontecia na seca, enquanto a floresta "emagrecia" (perdia biomassa) na estação chuvosa.
"Esse é o grande xis da questão", diz o cientista espacial Volker Kirchhoff, 61, do Inpe, que também assina a pesquisa. "O que acontece é que um dos ciclos [o seco] está sendo menor que o outro." No caso, sugere a equipe, o fator que faz a diferença é a chamada liteira, a camada de folhas e material orgânico em decomposição que recobre o chão da floresta. "Os microrganismos que decompõem esse material precisam de um nível alto de umidade para operar", diz Rocha.
Na seca, com menos umidade, há menos respiração nessa faixa da floresta, e a emissão de CO2 despenca, enquanto a fotossíntese (que "devora" a substância) não chega a cair muito. Com as chuvas, no entanto, a atividade da liteira volta com toda a força, desequilibrando a balança, no fim, a favor da emissão de carbono.
Para os pesquisadores, muitos outros dados são necessários para estimar como toda a floresta se relaciona com o ciclo de carbono. "Um fator em Santarém é que aparentemente a floresta foi perturbada, talvez por secas causadas pelo El Niño", diz Kirchhoff. A ação humana poderia causar os mesmos efeitos adversos, sugere o cientista. "De qualquer forma, a floresta derrubada é garantia de José Maria Alves da Silva,emissão de CO2", diz Rocha.
Reinaldo José Lopes
Fonte: Folha de São Paulo
01/dez/03
Fonte:
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