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12
ago
2006
(GERAL)
Insumo importado reduz custos para moveleiros
A perda de competitividade causada pelo atual patamar do dólar obrigou os fabricantes de móveis de São Bento do Sul (SC), o maior pólo moveleiro do País, a recorrer à substituição de produtos nacionais por importados para reduzir os custos de produção e tentar fazer frente aos produtos asiáticos. A participação dos importados já responde por cerca de 10% dos insumos comprados pelos fabricantes da região, segundo Álvaro Weiss, vice-presidente da Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário (Abimóvel) e presidente da Artefama . “No caso das placas de MDF (medium density fiberboard), por exemplo, o custo do produto importado da Argentina e do Chile é cerca de 12% mais barato do que o produto nacional”, diz o executivo.

Além do MDF, chapa fabricada a partir da madeira e utilizada no mercado moveleiro, a região tem importado ferragens da China, cola dos Estados Unidos e alguns tipos de vernizes do Chile. Outro produto importado da Argentina é o pinus. Apesar de a oferta brasileira do produto ser competitiva em relação ao importado, os fabricantes de móveis optam por comprar o item no país vizinho para manter o contato com os fornecedores. “Ainda compramos pequenos volumes de pinus, mas se as condições dos argentinos melhorarem, também podemos ampliar as importações desse produto”, revela Weiss.

A Artefama, a maior exportadora da região, importa grande parte do MDF necessário para a fabricação de seus móveis. “Nos últimos 12 meses, as empresas reduziram custos e estão tentando aumentar a produtividade. No entanto, enquanto o dólar se mantiver abaixo de R$ 2,40, a melhor opção é recorrer às importações”, diz. Já a divisão de móveis da Irani importa cerca de 30% de todo o insumo necessário em sua linha de produção. Em média, o preço de colas, ferragens e MDF está cerca de 15% mais barato do que o oferecido por produtores nacionais.

Segundo a Associação da Indústria de Painéis de Madeira (Abipa), as importações de aglomerados, MDF e chapas de fibra cresceram 10% no primeiro semestre, em relação a igual período de 2005. Mas a superintendente executiva da entidade, Rosane Donati, não vê sinais de substituição de produtos nacionais. “As importações de MDF do País estão em patamares normais e a produção acumulada de produtos de madeira no primeiro semestre está em alta”, diz. A Masisa, fabricante de MDF, confirma que as vendas para a região de Santa Catarina estão normais. Já a Duratex preferiu não se pronunciar sobre o assunto, enquanto que a direção da Tafisa não foi encontrada pela reportagem do DCI.

Retração

A Irani, assim como a Artefama, direciona suas vendas para o exterior. No ano passado, devido às dificuldades em competir no mercado externo, a Irani foi obrigada a reduzir em 20% o quadro de funcionários. “Diante das dificuldades, trabalhamos novos produtos, com maior valor agregado, buscamos novos clientes e reduzimos nossos custos”, afirma a diretora da divisão de móveis da empresa, Cristiana Jahn. Os resultados do trabalho já foram sentidos no primeiro semestre, quando a empresa conseguiu ampliar em 10% suas vendas, em relação a igual período de 2005.

Apesar do cenário de recuperação, a executiva destaca que as venda da divisão, que faturou R$ 29 milhões no ano passado, ainda são 15% inferiores às registradas no primeiro semestre de 2004. Outra estratégia da Irani foi renegociar preços e prazos de pagamento com os fornecedores. “Já conseguimos reduzir em 12% nossos gastos com a compra de madeira, tintas, ferragens e também com prestadores de serviços. Já em relação a prazos, elevamos de 30 dias para algo entre 40 e 42 dias o período para os pagamentos”, diz ela.

A Weihermann, uma das mais tradicionais exportadoras do setor e que destina ao exterior cerca de 90% da produção, também busca soluções para manter a competitividade no mercado externo. A empresa optou por importar colas dos Estados Unidos e ferragens da China, essas alcançando valores até 50% menores do que similares nacionais, segundo o presidente da companhia, Udo Weihermann. Além de importar insumos, a empresa não descarta uma possível entrada mais agressiva no mercado interno, apesar de não ser muito provável em curto prazo. Atualmente cerca de 10% do faturamento da Weihermann provém do mercado nacional, tendo como parceiro a rede Tok & Stok.

A redução nas vendas e na produção das empresas catarinenses fez com que a participação do estado nas exportações do setor encerrassem o ano passado em 42% — o estado já respondeu por 52% das vendas externas do setor, em 2002. As exportações dos moveleiros catarinenses no primeiro semestre totalizaram US$ 172,4 milhões, queda de 24,3% sobre os US$ 227,8 milhões comercializados em igual período de 2005, de acordo com a Abimóvel.

Com as dificuldades em garantir as vendas para o exterior, as empresas foram obrigadas também a cortar postos de trabalho. No ano passado, os moveleiros catarinenses demitiram aproximadamente 6,5 mil pessoas, de acordo com a Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (Fiesc). “Na exportação, a queda do dólar reduziu nossa competitividade. O industrial que não se adequar ao cenário perde o cliente. No mercado interno, parte das empresas que exportava redirecionou a produção para o mercado doméstico, aumentando a oferta interna”, afirma o presidente da Associação dos Moveleiros do Oeste de Santa Catarina, Nivaldo Luiz Lazaron.

O cenário dos fabricantes de móveis de Santa Catarina este ano, no entanto, dá sinais de melhoria em decorrência da redução de custos de produção. No primeiro semestre de 2006, o setor moveleiro do estado abriu cerca de 1,4 mil vagas. “Em 2005, esse setor foi o que mais desempregou no estado. No entanto, as empresas tentaram aprimorar o design dos produtos, reduzir os preços e buscar novos mercados compradores”, afirma o 1º vice-presidente da Fiesc, Glauco Côrte.

Ele destaca que outro agravante para os fabricantes de móveis do estado foi a retenção do repasse de créditos federais e estaduais para os exportadores. “Apenas em São Bento do Sul os tributos federais a serem devolvidos às empresas totalizam entre R$ 40 milhões e R$ 50 milhões”, revela. Sem recursos no mercado interno e com a queda registrada nas exportações, a saída para os fabricantes é mesmo importar. “Essa opção é 'benéfica' quando é decorrente de um crescimento do País, mas na atual conjuntura ela só acontece como forma de substituição da produção nacional”, alerta Côrte.

Fonte: André Magnabosco e Henrique Puccini (DCI)

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