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(GERAL)
Integração gera crescimento em moveleiras
O pólo moveleiro da região de Ubá, na Zona da Mata mineira, definitivamente não é mais o mesmo. Com integração e investimento em design, qualidade dos produtos e marketing, os empresários estão migrando da fabricação de commodities, setor em que o preço define o negócio, para o produto diferenciado, que valoriza a origem e tem melhor acolhida pelo mercado.

A cooperação e a união de empresários de um mesmo setor não são novidades em Ubá. A cidade tornou-se um exemplo do que especialistas chamam de Arranjo Produtivo Local (APL): um aglomerado de empresas de um mesmo setor em um determinado território que podem (e devem) interagir e absorver instituições voltadas a seu desenvolvimento.

Objeto de um projeto iniciado pelo Sebrae em 2002, que envolve 32 parceiros e recursos da ordem de R$ 5,348 milhões, as empresas já uniram as frotas, a preocupação com o meio ambiente e a busca por mercados, no Brasil e no exterior. Hoje as indústrias de móveis de Ubá colhem os resultados e também compartilham um crescimento sustentado.

São mais de 300 empresas moveleiras instaladas em Ubá (onde estão mais concentradas), Guidoval, Piraúba, Rio Pomba, Rodeiro, São Geraldo, Visconde do Rio Branco e Tocantins, cidades próximas. Juntas, elas geram mais de sete mil empregos. Apenas em Ubá, a atividade corresponde a mais de 50% da arrecadação de ICMS. Dessas indústrias, 140 participam do Projeto de Desenvolvimento do Pólo Moveleiro de Ubá, um dos primeiros da metodologia de Gestão Estratégica Orientada para Resultados (Geor), utilizada hoje pelo Sebrae para promover o crescimento de empresas de vários setores em todo o Brasil.

"Quando começamos, havia um terreno fértil, uma riqueza de capital humano. Já se viam as redes de empresários e instituições apoiadoras necessárias para o desenvolvimento do APL", explica o consultor do Sebrae Rogério Allegretti. Para ele, graus adequados de sensibilização e mobilização dos empresários e entidades permitiram que o planejamento estratégico fosse realizado com sucesso. Quatro grupos de empresários foram formados para pensar soluções nas áreas: mercado e imagem; tecnologias e gestão; capacitação e desenvolvimento de recursos humanos; além de finanças.

Os avanços podem ser vistos a olho nu, apesar de os números não representarem a situação real por causa de problemas na realização das pesquisas do projeto. Uma das frentes de ações do projeto foi o design. "Éramos conhecidos como um pólo que copiava modelos e não criava. Então trouxemos designers para convencer os empresários de que era preciso criar uma identidade própria", conta Eliane Rosignoli, técnica do Sebrae em Minas.

"Nas primeiras conversas, os moveleiros não entenderam nada", lembra Eliane Rosignoli. Depois do primeiro contato, conseguimos convencê-los a contratar designers para atender às empresas e um curso foi criado para treinar funcionários locais.

"Vimos que sem o design as empresas não criam diferencial e passam a vender preço e não produto. Em um pólo com tantas empresas e tão próximas, a cópia faria com que não houvesse crescimento com saúde e permanência", avalia o presidente do Sindicato das Intermunicipal das Indústrias de Marcenaria de Ubá (Intersind), Rogério Gazola.

Tornou-se indispensável a tradução da competitividade conquistada com a busca da originalidade, e o primeiro passo foi a criação de uma logomarca que identificasse os produtos da cidade. "A marca trouxe visibilidade nacional. As melhorias nas fábricas e nos processos de produção foram significativas", diz Eliane Rosignoli.

A fábrica de armários de sucupira Glaucelar, que nunca havia utilizado um desenho profissional em seus móveis, percebeu que, sem diferenciais, estava fabricando commodities. "As linhas populares de sucupira têm concorrência muito acirrada. Então resolvemos também investir em salas de jantar mais sofisticadas", explica o administrador Sebastião Baldez Júnior.

Pelo projeto, foi contratado um designer que criou as novas linhas. "As salas de jantar são um mercado mais rentável, que não teríamos conquistado sem um bom desenho", avalia. Há dez anos três amigos funcionários de outra fábrica de móveis decidiram abrir a Glaucelar. "Era o que eles sabiam fazer", conta Sebastião Baldez Júnior.

O administrador é filho de um dos sócios e começou sua carreira com apenas 16 anos, na fábrica do pai. Hoje, com 26, já não é um iniciante e sabe que o percurso de empreendedor é difícil e que orientação, informação e trabalho conjunto são definitivos para a prosperidade. "Estamos engatinhando, mas sabemos que é para o lado certo", diz.

Cara e Coragem


Delfim Teixeira também começou a carreira cedo, na indústria de móveis. "Aos 14 anos já trabalhava em uma fábrica", lembra. A vida de empresário começou quando ele, então caminhoneiro que transportava os móveis de Ubá, resolveu abrir seu negócio com outros dois irmãos. "Não tínhamos nada, não sei nem explicar como foi no princípio. Foi com a cara e a coragem, muita coragem."

Hoje o trabalho é muito, mas os vôos são cada vez mais altos. Delfim divide seu tempo entre Ubá e Belo Horizonte, onde inaugurou, há seis meses, oito lojas de móveis. "Resolvemos investir também no varejo, diversificar os negócios", explica. O novo empreendimento emprega 150 pessoas e a fábrica tem outros 300 funcionários. São 40 mil peças por mês que garantem a solidez do negócio. "Investimos em tecnologia e nos trabalhadores para garantir a melhor produtividade. Foi assim que crescemos", ensina Delfim.

A meta para 2006 é exportar entre 15% e 20% da produção. "O dólar não está ajudando, mas eu creio que essa dificuldade é temporária. Não é problema ficar baixo, o maior problema é a oscilação muito grande", argumenta.

Atualmente, México e Estados Unidos, além de países da África são os destinos dos móveis de Delfim. A cidade já tem dois grupos de empresários envolvidos com exportação. O MovExport reúne 12 empresas mais amadurecidas para o mercado externo. O outro, Minas Furniture, tem nove empresas que ainda buscam seu lugar ao sol. "É o segundo consórcio de exportação formado em Ubá e já está começando a dar resultados", conta Eliane Rosignoli.

Chuva de informação

Silber Silveira é diretor de Marketing da Parma Móveis e comemora um aumento de cerca de 50% no faturamento desde o início do projeto. "Não consigo mais enxergar a empresa sem esse trabalho", afirma. Programa de Qualidade Total, projeto de design e apoio no licenciamento ambiental mudaram a empresa e o administrador. "Foi uma chuva de informação e eu não estava preparado", conta.

A fábrica vem prosperando e os investimentos aumentaram o mercado. "Antes vendíamos principalmente para São Paulo, Rio de Janeiro e para a região. Hoje também temos mercado no Nordeste, no Norte e já estou no grupo de exportação", diz. O consórcio, batizado de Minas Furniture, prepara oito empresas para começar a vender em outros países.

Outro avanço da cidade foi a Central de Frete, conseqüência do alto grau de cooperação entre empresários. "Cada empresa tinha que esperar encher um caminhão com mercadoria para uma determinada rota para, só então, poder despachar. A idéia surgiu quando dois caminhoneiros com poucas peças de Ubá foram fazer uma entrega na mesma cidade e se encontraram", lembra a técnica do Sebrae.

A Central tem um software que cruza as rotas dos 65 caminhões cadastrados com os pedidos a serem entregues pelas fábricas. A velocidade de entrega é maior e o custo cai. "Também já conseguimos acordos com transportadoras e entramos em locais em que era difícil distribuir, como o Vale do Jequitinhonha e do Mucuri", conta o gerente da Central de Frete, Maximiliano Gregório.

Meio Ambiente

O meio ambiente foi outra preocupação dos empresários. A estação de tratamento de resíduos líquidos era uma exigência para que as fábricas de móveis tubulares, que levam banhos de produtos químicos, continuassem operando. "O investimento para a empresa, individualmente, era alto e o maquinário consegue atender a várias. Então, eles estão construindo de forma conjunta", explica Eliane Rosignoli.

Os resíduos sólidos também terão um destino. A indústria de Ubá foi uma das contempladas pelo edital da Finep e do Sebrae para inovação tecnológica de pequenas empresas. Junto com a Universidade Federal de Viçosa (UFV) foi feito um projeto para uma Unidade Piloto de Tratamento de Resíduos Sólidos, que deve ficar pronta em dois anos e consumir recursos da ordem de R$ 460 mil. Com as sobras de madeira e serragem, serão produzidos briquetes, utilizados na queima para gerar energia.

Transição

A metodologia de desenvolvimento do Pólo Moveleiro de Ubá, denominada Gestão Estratégica Orientada para Resultados (Geor), passa agora por uma transição. A função executiva do projeto, que era realizada pela técnica do Sebrae Eliane Rosignoli, junto com Heliane Martins, gerente do Intersind, estará daqui para a frente nas mãos do sindicato.

"Continuaremos a ter grande atuação no projeto e entregaremos a coordenação das ações. É uma vitória para o pólo", avalia o consultor do Sebrae Rogério Allegretti. É a primeira vez que um projeto da metodologia tem sua coordenação transferida a outro parceiro.

Segundo Allegretti, os parceiros criaram um ambiente propício para a aprendizagem e agora conseguem ter autonomia sem perder a qualidade. "O papel do Sebrae é de catalisador, de articulação, de mobilização. Sua principal contribuição foi e continuará sendo o conhecimento", diz.

"É um processo de maturação", define o presidente do Intersind, Rogério Gazola. Para ele, a metodologia Geor ensina a articular as ações. "Agora, conseguimos ter uma visão global do que acontece, eleger prioridades, ordenar as atividades", explica. Para Heliane Martins, o momento é de aprimorar as conquistas. "Já conseguimos reunir os parceiros e trabalhar na mesma direção. Isso deixa tudo muito mais eficaz", acredita.

Fonte: Agência Sebrae de Notícias

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Jooble Neuvoo