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(GERAL)
Papel imprensa não é prioridade no Brasil
O Brasil não é grande produtor de papel imprensa, também conhecido como papel jornal (fabricado principalmente com gramatura entre 45 e 56 g/m2, em processo industrial mecânico, isto é, sem aditivos químicos e utilizado em grandes tiragens). Por ano, o mercado editorial consome aproximadamente 500 mil toneladas, mas a produção local é de apenas pouco mais que um quarto do consumo interno, segundo a ANJ (Associação Nacional de Jornais), restante, cerca de 340 mil toneladas, é importado. Dados consolidados pela Bracelpa (Associação Brasileira de Celulose e Papel) confirmam a informação, acrescentando que nos anos 1990 a produção chegou à casa das 300 mil toneladas, caindo drasticamente para o patamar de 160 mil toneladas no início deste século.

Com um quadro cíclico de oferta e demanda, o papel sofre as influências ditadas pelas condições do mercado internacional. Os veículos questionam esses fatores, pedindo novas fábricas ou mesmo a expansão do único fabricante no Brasil, a Norske Skog, multinacional norueguesa instalada no Paraná. Paulo Novaes, diretor do Comitê de Tecnologia da ANJ, afirma que "deveríamos ter fábricas suficientes para atender o mercado brasileiro e ainda exportar, como faz o Chile, por exemplo".

Porém, Andres Romero, presidente da Andipa (Associação Nacional dos Distribuidores de Papel), afirma que o "papel imprensa é feito de fibras longas, de madeira Pinus, que não são abundantes no Brasil". De acordo com Romero, esse fator por si só inibe a produção nacional.

Já Novaes enfatiza que o maior entrave inibidor dos investimentos dos grandes fabricantes mundiais é a alta carga de impostos, inclusive sobre os bens de capital. "Isso torna o Brasil pouco competitivo frente a outros países, onde há incentivos ao investimento", informa.

A reação dos associados da ANJ a esse assunto é bastante clara: querem suprimento adequado às suas necessidades, papel de qualidade a preço competitivo, pago em moeda local e com fornecedores próximos o suficiente para reduzir o tempo e o custo do transporte, permitindo reduções de estoques reguladores.

Paulo Novaes acredita ainda que todos esses quesitos podem ser atendidos perfeitamente por fábricas no país. Além de Novaes, o diretor regional da Abrarj (Associação Brasileira de Revistas e Jornais), Sidney de Moraes, não deixa por menos quando o assunto é custo. "Não temos uma produção nacional adequada e temos que brigar por preços competitivos com os importados", declara.

Sidney conhece de perto essa briga porque também é diretor de redação do jornal Mogi News. Na busca pelo melhor preço, ele cita o exemplo da APJ (Associação Paulista de Jornais), que congrega 16 jornais líderes do interior do Estado de São Paulo que acabam comprando mais barato, porque negociam direto com o fabricante.

JORNAIS UNIDOS

A APJ foi fundada em 1993 e hoje conta com a participação do Correio Popular e Diário do Povo (Campinas), Cruzeiro do Sul (Sorocaba), e Comércio de Franca (Franca), entre outros. Esses jornais se uniram para, além de outros objetivos, negociar em conjunto com os principais fornecedores visando melhor qualidade com o menor custo.

Por meio de uma parceria firmada entre o Núcleo de Insumos da APJ e a Norske Skog, a associação conseguiu diminuir em quase 20% o valor do papel jornal, se comparado ao praticado quando os jornais compravam isoladamente.

Segundo Márcia Nogueira Rodrigues, coordenadora do Núcleo de Insumos da APJ, "cada jornal associado envia principais fornecedores visando melhor qualidade com o menor custo. Por meio de uma parceria firmada entre o Nao fabricante sua programação mensal para a compra do papel imprensa, nas condições e valores firmados entre o Núcleo e a Norske Skog".

Márcia assegura ainda que a produção de papel para imprensa no Brasil é insuficiente, "porque o fabricante, para atender à demanda do mercado interno, importa papel de suas fábricas no exterior". Afonso Noronha, vice-presidente de Assuntos Institucionais da Norske Skog, afirma que a importação procura assegurar aos seus clientes um papel de qualidade por um preço melhor. "Produzir o papel no Brasil, por enquanto, é uma tarefa onerosa, principalmente por conta do capital necessário para ampliar a produção, além de problemas tributários e um setor energético no país muito volátil e incerto", diz.

Sobre a Norske Skog, sediada no Paraná, Márcia afirma que a empresa "prepara-se para investir US$ 600 milhões em uma segunda máquina de papel na fábrica de Jaguariaíva, no Paraná", mas, segundo ela, condicionou o investimento a mudanças tributárias. Noronha confirma essa informação. "Com relação ao problema tributário, ele está quase resolvido com o Governo, faltam apenas alguns detalhes", explica o vice-presidente da Norske Skog. "Como só temos um fabricante de papel imprensa, a competição se dá com os fornecedores de papel do exterior", reclama Márcia Rodrigues, da APJ.

IMPORTADO X NACIONAL

A Samab é uma tradicional fornecedora de papel para jornais e editoras de livros e revistas no país. No papel importado, representa e distribui com exclusividade o papel jornal da Abitibi Consolidated, fabricante canadense, com a segunda maior produção mundial, bem como da UPM-Kymmene da Finlândia, que é o maior produtor mundial de papéis para a impressão de revistas.

Segundo Pauli Soisalo, presidente da Samab, a importadora comercializa 25% de todo o papel imprensa consumido no país e 27% de todo o papel de revistas. Soisalo afirma que "o papel jornal sempre foi e continuará sendo uma commodity, cujo preço é parametrizado por demanda e oferta mundial".

Para Soisalo, o consumo de papel jornal no Brasil é baixo e varia significativamente em função da situação econômica e política. Desde 2001, segundo Soisalo, o consumo diminuiu por conta da queda na circulação e na venda de publicidade dos jornais e também na diminuição de renda da população, além da competição dele com as outras mídias.

"Eu acho que o Brasil tem um potencial de crescimento nesse setor, mas exige muito trabalho e criatividade por parte dos jornais" assegura Pauli Soisalo. De acordo com o presidente da Samab, na época do Plano Real, em 1994, houve um crescimento na venda de papel jornal.

"Agora, expandir ou não a fabricação de papel jornal aqui depende basicamente da demanda, bem como dos custos", afirma. Soisalo defende o papel imprensa importado "pois é muito superior em qualidade e é preferido pelos principais jornais do país, que são abastecidos com papel importado há décadas, até porque proporciona um rendimento maior".

A Branac, com sede em São Paulo, é uma empresa multinacional que comercializa papéis e possui sua matriz, a Central National Gottesman, nos Estados Unidos. Ela também importa papel imprensa da Finlândia e da Noruega, trazendo tanto para estoque próprio (que é revendido em menores quantidades) como para clientes, entregando a mercadoria diretamente na gráfica.

Segundo Adriana Basso, analista de comércio exterior da Branac, "as fábricas estabelecem uma quota de importação e nós aceitamos um pedido mínimo de 20 toneladas, que corresponde a mais ou menos um contêiner. Isso pode variar de acordo com a medida da bobina, mas em geral é trazido o de gramatura 48,8 g por metro quadrado".

FABRICANTE NACIONAL

A Norske Skog é uma das principais fabricantes de papel imprensa no mundo e única a ter uma instalação no Brasil para produzir papel jornal. A empresa chegou ao país em 2000, quando comprou a PISA, em Jaguariaíva, Paraná, e montou uma joint venture com a Klabin, a primeira fábrica de papel jornal do Brasil. O acordo foi terminado em março de 2003 e a Klabin hoje atua no mercado de papel ondulado e para embalagens.

A Norske Skog alcança praticamente todo o território brasileiro, vendendo para os principais jornais nacionais, grandes gráficas e também para editores de revistas e listas telefônicas. Segundo Carolina Van Der Laars Ribeiro, analista de marketing da Norske Skog para a América do Sul, "a capacidade de produção local é de 185 mil toneladas por ano, toda ela vendida no mercado doméstico".

Além disso, segundo Carolina, a Norske Skog importa cerca de 140 mil toneladas por ano de suas fábricas na Europa, totalizando uma participação de aproximadamente 50% no consumo de papel imprensa do mercado brasileiro". As principais matérias-primas utilizadas pela empresa (madeira e energia) são supridas localmente. Já a celulose fibra longa é importada do Chile e da Argentina.

Afonso Noronha, vice-presidente da Norske Skog, reclama principalmente da falta de neutralidade tributária para o papel imprensa. "Quando importamos, o papel não paga diversos impostos no país de origem e, ao chegar ao Brasil, também não recolhe taxas pois é usado para fins editoriais e, por isso, é imune. Quando fabrico, não posso me creditar do ICMS dos insumos, como energia, que preciso pagar. O papel imprensa é imune para quem compra, não para quem fabrica, isto é, o fabricante é obrigado a arcar com os impostos das matérias-primas", explica.

Pauli Soisalo, da Samab, enfatiza que isso confere a esse mercado no Brasil uma característica de commodity global. "Os preços são ditados pelo mercado mundial, principalmente pelo norte-americano, e permanecem competitivos no âmbito internacional", afirma. Carolina, da Norske Skog, no entanto, lembra que, historicamente, os preços mundiais de papel imprensa variam por ciclos. "Mas o excesso de oferta atual alterou esta base histórica. No momento, há uma fase de ajustes, após um longo período de queda de preços", avisa ela.

A recém-aprovada MP 255 (sucessora da MP do Bem) estabelece a isenção de PIS e Confins para equipamentos adquiridos para fabricação de papel de imprensa por um período de três anos. Para ela, "é um estímulo a investidores nesse mercado, porém o segmento de papel imprensa só será competitivo no Brasil quando houver a neutralidade tributária na comercialização, entre o papel importado e o produzido localmente, principalmente com relação ao ICMS".

Para Afonso Noronha, se persistir esse modelo de tributação, o melhor seria apenas importar o papel e não fabricar. "Mas, ao que tudo indica, logo teremos uma solução para essa questão e voltaremos a analisar investimentos na compra e instalação de uma nova máquina", revela.

Quanto a ampliações de estrutura no curto prazo, esse assunto não está em pauta na Norske Skog. A empresa hoje opera, segundo Carolina, em sua capacidade máxima. O investimento anual da multinacional é de R$ 22 milhões a R$ 44 milhões, principalmente para melhorar a qualidade do produto e a competitividade de sua planta em Jaguariaíva. "Atualmente dois mercados concentram os investimentos da Norske Skog, Ásia e América do Sul, principalmente no Brasil", informa Afonso Noronha.

Fonte: Cristina Braga (Portal da Comunicação)

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