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22
nov
2005
(GERAL)
Selo verde: Madeira com RG
Vá a um depósito de madeira e pergunte sobre o selo verde. Em 80% das tentativas você ficará sem resposta, segundo pesquisa realizada em 2001 pelos institutos Imazon e Imaflora e pela ONG Amigos da Terra. Os fornecedores não têm informações precisas e confiáveis sobre a proveniência de seus produtos. E isso contribui para uma assustadora estatística: a de aumentar o rombo de 600 mil km² (o equivalente à área da região Sul do Brasil) que surgiu na Amazônia nos últimos 30 anos. "A extração da madeira, material renovável que consome menos energia em seu processamento em relação ao concreto, é de interesse nacional. Para fazer isso sem destruir, temos que manejar a floresta", opina o professor Pedro Afonso de Oliveira Almeida, da Universidade de São Paulo (USP).

Em todo o Brasil, já existem áreas de manejo pertencentes a madeireiras, indústrias e projetos comunitários produzindo madeira certificada. Só da Amazônia saem 270 mil m3 por ano. "Hoje pouco mais de 1 milhão de hectares são certificados no Brasil. Em um ano, esse número deve dobrar", diz Tasso Azevedo, do Imaflora, órgão auditor que concede o selo verde. Porém, isso não se traduz em oferta para o mercado interno. "As grandes madeireiras vão continuar exportando. Com o dólar alto, lucra-se mais vendendo para fora", explica Azevedo. Há cinco empresas certificadas na Amazônia. O grupo Precious Woods, dono da Mil Madeireira e da Lisboa, por exemplo, manda quase toda a sua produção para o exterior. A Juruá Florestal exporta 80% e a Cikel Brasil Verde, 50%. A Gethal, por questões estratégicas, não revela as porcentagens. Assim, sobram para o mercado interno produtos como os compensados. E a madeira para construção aparece timidamente (veja tabela abaixo). "Nunca consegui usar uma espécie certificada por causa do custo e da dificuldade de encontrar. Selo verde ainda é grife", pondera o arquiteto paulista André Guidotti, comprador assíduo de eucalipto para suas obras.

O entrave do preço

Quem já comprou confirma: o custo da madeira certificada supera em até 40% o da madeira sem selo. Isso quando se trata de árvores nativas, como jatobá, cedro e ipê. "A diferença está nos impostos, que as madeireiras ilegais sonegam. Além disso, fazer o manejo é caro, e a baixa oferta sobe o preço", avalia José Lopes Pinto, gerente da EcoLeo, loja da rede paulista Leo Madeiras recém-inaugurada que só venderá produtos certificados. Apesar da porcentagem acima, dá para dispor do material sem inflar o orçamento da obra. "Use a madeira certificada só na estrutura e a conta se diluirá no custo final", argumenta o engenheiro Hélio Olga, de São Paulo, que pretende só trabalhar com espécies que ostentem o selo.

O problema é construir uma casa inteira com esse material, como mostra o exemplo da Casema, empresa de pré-fabricadas de Atibaia, SP. "Não conseguimos vender um único kit com o selo do FSC porque um modelo de R$ 30 mil vai para R$ 60 mil. Os clientes até se preocupam com a questão ecológica, mas ninguém se dispõe a pagar o dobro", diz o diretor executivo, Danilo Akinaga Vavassori. Nesse cenário, uma das alternativas é o pínus, que não apresenta diferenças de preço significativas. A Battistella, também do ramo de pré-fabricadas, cultiva essa espécie e já deu início ao processo para certificar sua floresta, situada entre os estados do Paraná e de Santa Catarina. Ela deve receber o selo ainda este ano.

Como construir com madeira certificada Leve em conta algumas questões práticas antes de entrar em contato com os fornecedores e fazer seu pedido. Como a extração de baixo impacto é um processo caro, já que cumpre todas as leis ambientais, as madeireiras querem aproveitar as toras da melhor forma possível para não perder dinheiro. "O projeto tem que otimizar o material. Medidas especiais, nem pensar", fala Tasso Rezende, do Imaflora. "E muitas vezes não dá para fazer tudo com a mesma espécie. O consumidor precisa se adaptar ao que existe, não o contrário", pondera. O construtor Ricardo Salem, de Trancoso, na Bahia, fez exatamente isso. "Entrei em contato com a Associação Chico Mendes e comprei a madeira disponível. Com o que consegui, elaborei o projeto da minha casa", conta.

Sabendo dessa dificuldade, a Ecolog Produtos Florestais funciona como intermediária entre os clientes e as comunidades. "Calculamos a madeira necessária para a estrutura de acordo com o projeto fornecido pelo arquiteto e encomendamos tudo. As vigas e os pilares chegam à obra numerados e não há desperdício. Em duas semanas, uma equipe de três pessoas consegue montar o esqueleto de uma casa de 300 m². O preço sai igual ao de uma estrutura de concreto", explica o engenheiro paulista Fabio de Alburquerque.

Fonte: Revista Arquitetura & Construção

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Jooble Neuvoo