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Notícias
29
nov
2005
(GERAL)
Conferência começa sem clima no Canadá
Já não eram otimistas as perspectivas para a 11ª COP (Conferência das Partes) da Convenção do Clima, que reúne a partir de hoje em Montréal representantes de 189 países que deveriam decidir o futuro do combate aos gases de efeito estufa. O debate sobre como o mundo deve lidar com o problema a partir de 2012, quando o Protocolo de Kyoto expira, é ameaçado pelo impasse entre os EUA --que se recusam a aceitar metas de redução de emissões-- e a União Européia, favorável a elas.
E a situação só piora hoje, quando o Parlamento do Canadá, país-anfitrião, deve derrubar o governo do premiê Paul Martin, acusado de corrupção. Muitos ministros e parlamentares que deveriam estar na COP estarão se mobilizando para as eleições, que devem ser anunciadas já amanhã.
"Esse é um cenário de pesadelo que ambientalistas do mundo inteiro esperariam que fosse evitado", disse Elizabeth May, diretora-executiva da ONG verde Sierra Club no Canadá.
O que está em jogo
A COP-11 é a primeira reunião dos países signatários da Convenção do Clima da ONU depois da entrada em vigor, em fevereiro, do Protocolo de Kyoto.
O acordo determina que, entre 2008 e 2012, os países industrializados reduzam suas emissões de gases-estufa (em especial o dióxido de carbono, ou CO2) em 5,2% em relação aos níveis de 1990.
Kyoto quase afundou em 2001, quando o presidente dos EUA, George W. Bush, retirou o maior emissor de CO2 do mundo do tratado, alegando razões econômicas. A UE tomou a frente das negociações e salvou o protocolo, feito politicamente relevante mas que na prática não resolve o problema: sem os EUA, que detêm 36% das emissões do mundo desenvolvido, o acordo é inócuo.
A COP de Montréal tem como objetivo iniciar as negociações para um segundo período de compromisso do protocolo, de 2013 a 2017 ou 2020. O objetivo da UE é trazer para o tabuleiro tanto os EUA quanto grandes emissores do Terceiro Mundo, como Brasil, China e Índia --dispensados de reduzir emissões por Kyoto.
Especialistas avaliam que será uma tarefa difícil de cumprir. Primeiro, porque vários países aumentaram suas emissões de gases-estufa; só no Canadá, esse aumento foi de 57,5% até 2003. O mundo subdesenvolvido aumentou suas emissões em 9,2%.
"Os europeus talvez introduzam metas maiores, de 10% de reduções até 2020", disse à Folha o secretário de Estado do Meio Ambiente de São Paulo, José Goldemberg. Ele deve assinar na próxima segunda-feira, em Montréal, um acordo bilateral entre os Estados de São Paulo e da Califórnia (EUA) para combater emissões.
Depois, países como Brasil e China não querem nem ouvir falar em metas. "Os grandes responsáveis [pelo aquecimento global] são os países ricos. Eles assumiram na Convenção do Clima [em 1992] um compromisso de reduzir emissões, assim como o Brasil tem sua dívida externa", defende o físico Luiz Pinguelli Rosa, secretário-executivo do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas. "O Brasil não deve ir à negociação com os leões e os lobos bancando o bobalhão", afirmou.
"MDL do B"
Numa revisão de uma posição histórica do Itamaraty, no entanto, o Brasil aceitou tocar, em Montréal, na sua maior ferida climática: as emissões causadas pelo desmatamento, que representam dois terços do total nacional.
O país deve apresentar na quarta-feira uma proposta de financiamento internacional para reduzir o desmatamento abaixo de um dado patamar, possivelmente gerando créditos negociáveis de redução de emissões.
Mas diplomacia brasileira, afirmou Pinguelli Rosa, está tomando o cuidado de não incluir a proposta no chamado MDL (Mecanismo de Desenvolvimento Limpo), dispositivo de Kyoto pelo qual os países pobres geram certificados de redução de emissões para quem tem metas a cumprir.
Até agora, a posição brasileira era a de não abordar o chamado desmatamento evitado --o que, aliás, será feito pela Costa Rica em Montréal. Com a nova proposta, ao mesmo tempo em que reconhece que é preciso fazer alguma coisa em relação às florestas, o Brasil se desobriga de uma redução compulsória de emissões.
Fonte:Folha de São Paulo - Com "New York Times"
E a situação só piora hoje, quando o Parlamento do Canadá, país-anfitrião, deve derrubar o governo do premiê Paul Martin, acusado de corrupção. Muitos ministros e parlamentares que deveriam estar na COP estarão se mobilizando para as eleições, que devem ser anunciadas já amanhã.
"Esse é um cenário de pesadelo que ambientalistas do mundo inteiro esperariam que fosse evitado", disse Elizabeth May, diretora-executiva da ONG verde Sierra Club no Canadá.
O que está em jogo
A COP-11 é a primeira reunião dos países signatários da Convenção do Clima da ONU depois da entrada em vigor, em fevereiro, do Protocolo de Kyoto.
O acordo determina que, entre 2008 e 2012, os países industrializados reduzam suas emissões de gases-estufa (em especial o dióxido de carbono, ou CO2) em 5,2% em relação aos níveis de 1990.
Kyoto quase afundou em 2001, quando o presidente dos EUA, George W. Bush, retirou o maior emissor de CO2 do mundo do tratado, alegando razões econômicas. A UE tomou a frente das negociações e salvou o protocolo, feito politicamente relevante mas que na prática não resolve o problema: sem os EUA, que detêm 36% das emissões do mundo desenvolvido, o acordo é inócuo.
A COP de Montréal tem como objetivo iniciar as negociações para um segundo período de compromisso do protocolo, de 2013 a 2017 ou 2020. O objetivo da UE é trazer para o tabuleiro tanto os EUA quanto grandes emissores do Terceiro Mundo, como Brasil, China e Índia --dispensados de reduzir emissões por Kyoto.
Especialistas avaliam que será uma tarefa difícil de cumprir. Primeiro, porque vários países aumentaram suas emissões de gases-estufa; só no Canadá, esse aumento foi de 57,5% até 2003. O mundo subdesenvolvido aumentou suas emissões em 9,2%.
"Os europeus talvez introduzam metas maiores, de 10% de reduções até 2020", disse à Folha o secretário de Estado do Meio Ambiente de São Paulo, José Goldemberg. Ele deve assinar na próxima segunda-feira, em Montréal, um acordo bilateral entre os Estados de São Paulo e da Califórnia (EUA) para combater emissões.
Depois, países como Brasil e China não querem nem ouvir falar em metas. "Os grandes responsáveis [pelo aquecimento global] são os países ricos. Eles assumiram na Convenção do Clima [em 1992] um compromisso de reduzir emissões, assim como o Brasil tem sua dívida externa", defende o físico Luiz Pinguelli Rosa, secretário-executivo do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas. "O Brasil não deve ir à negociação com os leões e os lobos bancando o bobalhão", afirmou.
"MDL do B"
Numa revisão de uma posição histórica do Itamaraty, no entanto, o Brasil aceitou tocar, em Montréal, na sua maior ferida climática: as emissões causadas pelo desmatamento, que representam dois terços do total nacional.
O país deve apresentar na quarta-feira uma proposta de financiamento internacional para reduzir o desmatamento abaixo de um dado patamar, possivelmente gerando créditos negociáveis de redução de emissões.
Mas diplomacia brasileira, afirmou Pinguelli Rosa, está tomando o cuidado de não incluir a proposta no chamado MDL (Mecanismo de Desenvolvimento Limpo), dispositivo de Kyoto pelo qual os países pobres geram certificados de redução de emissões para quem tem metas a cumprir.
Até agora, a posição brasileira era a de não abordar o chamado desmatamento evitado --o que, aliás, será feito pela Costa Rica em Montréal. Com a nova proposta, ao mesmo tempo em que reconhece que é preciso fazer alguma coisa em relação às florestas, o Brasil se desobriga de uma redução compulsória de emissões.
Fonte:Folha de São Paulo - Com "New York Times"
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