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Notícias

31
mar
2025
(TECNOLOGIA)
Técnica de agricultura florestal de Tomé-Açu ganha destaque com a COP30

Após a decisão de realizar a COP30 em Belém, uma cidade na foz do Rio Amazonas tem recebido com frequência missões ambientais internacionais. Essa cidade é Tomé-Açu, localizada a cerca de 187 km a sudoeste da capital do estado do Pará, Belém. Foi lá que em 1929 chegaram os primeiros imigrantes japoneses à Amazônia, em uma área de colonização que, na época, era apenas floresta tropical. Depois de superar dificuldades, como doenças endêmicas como a malária e doenças nas culturas agrícolas, como a fusariose, a cidade se transformou em um modelo de agricultura sustentável, sendo agora um local de destaque mundial pela prática do Sistema Agroflorestal de Tomé-Açu (SAFTA). A cidade também se tornou um importante centro de produção de açaí, cacau, frutas tropicais, pimenta e óleo de palma, influenciando os hábitos alimentares em todo o mundo.

Desafios da Colonização na Selva

O primeiro grupo de 189 imigrantes enviados pela Companhia de Colonização da América do Sul, do Japão, chegou a Tomé-Açu em 22 de setembro de 1929. O plano era cultivar cacau como principal produto agrícola, mas o que os aguardava era uma selva intocada. Antes de começar a plantação, foi necessário fazer queimadas e construir casas e plantações.

Em 1931, antes de começar a colheita do cacau, começaram a cultivar vegetais, gerando renda e estabelecendo a Cooperativa Agrícola de Acará (atualmente CAMTA – Cooperativa Agrícola Mista de Tomé-Açu), vendendo os produtos em Belém. Na época, somente os ricos consumiam vegetais, e os imigrantes precisavam ensinar as pessoas a preparar esses produtos.

Com as dificuldades do cultivo de cacau e o surto de doenças como a malária, muitos colonos abandonaram a região. Em dezembro de 1933, a malária havia infectado mais pessoas do que a população residente, com um total de 3.065 casos registrados para 2.043 habitantes. Até 1942, 78% das famílias que haviam se estabelecido, ou seja, 276 famílias, abandonaram a terra.

O presidente da CAMTA, Kiichi Alberto Otsuhata, reflete sobre aquele período, dizendo: “Agradecemos pelos nossos ancestrais, que morreram de doença, e pelas lições que aprenderam na luta”.

Otsuhata, presidente da CAMTA, afirma que o cacau de Tomé-Açu é exportado para o Japão

A Queda Após o Sucesso da Pimenta

Em 1933, o imigrante Makinosuke Usui trouxe de Cingapura duas mudas de pimenta preta, que em dezembro de 1947 se tornaram uma das principais fontes de renda da Cooperativa de Acará. No ano seguinte, as vendas aumentaram oito vezes, e 95% dos agricultores passaram a cultivar pimenta em monocultura, construindo grandes “palácios de pimenta”. Naquela época, Tomé-Açu representava 40% da produção de pimenta do Brasil.

Porém, nos anos 60, a pimenta foi infectada por fungos do gênero Fusarium e, em 1974, uma forte chuva causou sérios danos à produção. O imigrante Koji Suzuki, ao lembrar desse período, contou: “As pessoas não conseguiam esquecer a pimenta e continuaram plantando. Como havia espaço vago, começaram a plantar melões e maracujás”.

A Simples Ideia que Pode Salvar o Planeta

O método agroflorestal que surgiu em Tomé-Açu, conhecida como SAFTA, começou com o uso racional da terra. Em 1974, o então diretor da cooperativa agrícola, Noboru Sakaguchi, percebeu a fartura dos povos indígenas durante viagens de barco entre Belém e Tomé-Açu. A vida dos índios era harmoniosa com a natureza, e eles cultivavam as plantas que gostavam de consumir em seus jardins. Não eram áreas de desmatamento ou queimadas, mas sim uma convivência pacífica com a floresta.

Francisco Watanabe, filho de Noboru Sakaguchi, pesquisador da agricultura florestal

Sakaguchi, que era pesquisador, começou a plantar várias árvores, como maracujá, mangostão, cupuaçu e açaí, no terreno cultivado por sua esposa. Seu filho, Francisco Watanabe, lembra que o pai dizia: “Não vá contra a natureza, aprenda com ela. Se há uma floresta primária e animais vivem nela, o ser humano não deve destruí-la. Vamos fazer um cultivo agrícola que respeite isso”.

O experimento de Sakaguchi revelou que a sombra das árvores era essencial para o cultivo de cacau. Quando o preço do cacau disparou em 1975, ele incentivou sua produção em Tomé-Açu. Apesar de resistências por parte dos agricultores, que haviam falhado no cultivo anterior, os que visitaram a plantação de Sakaguchi começaram a adotar essa técnica, e ela foi se espalhando. Um estudo do professor Masaki Yamada, da Universidade de Agricultura e Tecnologia de Tóquio, ajudou a trazer reconhecimento mundial ao método, que passou a ser conhecido como SAFTA.

Cultivo de açaí e pimenta

O Sucesso da Agricultura SAFTA e a Fábrica de Sucos

O SAFTA envolve o cultivo simultâneo de culturas como arroz e feijão (curto prazo), pimenta e maracujá (médio prazo) e óleo de palma (longo prazo) na mesma terra. No início do SAFTA, havia uma grande produção de maracujá, mas o transporte de frutas de Tomé-Açu para fábricas em outros estados resultava em muitos desperdícios devido à deterioração das frutas, tornando o negócio inviável.

Em resposta a isso, a ajuda financeira da JICA permitiu a construção de uma fábrica de sucos em Tomé-Açu. Assim, as frutas como maracujá, açaí e cupuaçu começaram a ser processadas em sucos, trazendo prosperidade de volta ao local. O presidente da CAMTA, Otabata, afirmou: “Sem a fábrica de sucos, o SAFTA não teria continuado”.

O SAFTA Hoje

Mais de 50 anos se passaram desde o início do SAFTA, e atualmente mais de 200 combinações de agricultura florestal são praticadas em Tomé-Açu. Pesquisadores e instituições, como a empresa de cosméticos Natura, que tem demonstrado interesse na sustentabilidade do SAFTA, ajudaram a expandir a pesquisa e a prática desse modelo.

Em 2006, a Natura iniciou uma pesquisa com SAFTA para produção de palma de óleo (dendê) em parceria com a cooperativa agrícola de Tomé-Açu, e até 2035, a meta é estabelecer 40 mil hectares com foco em palma.

 

Tomé-Açu e a COP30

A reportagem visitou a fazenda de Ernesto, filho de Koji Suzuki, que também está auxiliando a Natura na pesquisa. Nos campos, ele pratica principalmente o SAFTA, para produzir óleo de palma, e colhe pimenta, maracujá, andiroba, açaí, cacau, feijão, banana, mandioca e outras culturas.

Uma vez plantadas, as palmeiras podem durar 100 anos. No entanto, à medida que as árvores crescem e ficam mais altas, os custos de cultivo se tornam inviáveis, então são cultivadas em ciclos de 25 a 30 anos, sendo cortadas e replantadas. Após 12 anos de pesquisa, o sucesso do SAFTA se tornou evidente, e o cultivo de dendê, que antes era uma monocultura, agora está mudando para o SAFTA. Eles também extraem óleo de manteiga e gorduras vegetais de sementes de cupuaçu, maracujá, cacau, andiroba e açaí. O que resta do material é enviado para uma central de compostagem e distribuído aos cooperados.

A andiroba também é usada em cosméticos, sabonetes e xampus. Também pode ser misturado com mel e bebido para dor de garganta ou ser usado como pomada para ferimentos.

Ernesto disse, rindo: “Noboru Sakaguchi aplicava o óleo no cabelo, dizendo que era eficaz contra cabelos grisalhos, deixando um cheiro forte”.

No campo de Suzuki, as abelhas estão polinizando flores de açaí. Acredita-se que no futuro produtos como mel e própolis possam ser desenvolvidos.

Atualmente, está sendo pesquisado como cultivar cogumelos e integrar pássaros no SAFTA.

Ernesto disse: “Muitos anos se passaram desde os tempos difíceis da imigração, e agora nos desenvolvemos na agrofloresta que temos hoje. Gostaria de continuar nossa pesquisa e espalhar esse modelo pelo mundo”.

O modelo de cultivo sustentável da Amazônia em Tomé-Açu é uma fonte crescente de interesse global, especialmente com o foco da COP30, que já tem atraído muitos visitantes interessados na prática do SAFTA. Esse modelo de cultivo está sendo estudado também em países como Bolívia e Gana.

 

Fonte: https://portal.nipponja.com.br/

ITTO Sindimadeira_rs