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De semente em semente, um grupo de pesquisa da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) tem feito a diferença na reconstrução do meio ambiente em áreas devastadas pela enchente de maio. O Núcleo de Estudos e Pesquisas em Recuperação de Áreas Degradadas (Neprade), em parceria com o Ibama, realizou a semeadura de espécies florestais em uma propriedade rural de Agudo. Mais do que recuperar áreas degradadas, a ação tem o objetivo de evidenciar a importância de grupos coletores de sementes na região.
A semeadura foi realizada na tarde ensolarada do dia 23 em uma propriedade rural da Linha Boêmia, uma das localidades mais afetadas do município, especialmente pela proximidade com o Rio Jacuí. A coordenadora do Neprade, Ana Paula Moreira Rovedder, conta que o objetivo da ação foi mobilizar a comunidade e entidades regionais. Mais do que isso, direcionar o olhar para as áreas verdes que tanto contribuem para o equilíbrio do ecossistema. Segundo a coordenadora, o grupo tem trabalhado para que demandas como essa não caiam no esquecimento.
– Essa janela de memória, de todo o sofrimento que passamos nos últimos meses, não pode se fechar. Mas, também, está na hora de olharmos para isso sob um aspecto mais positivo. Primeiro, precisamos de todo um processo de análise e diagnóstico para entender qual a melhor técnica a ser utilizada para reconstruir essas áreas. Porque, afinal de contas, são elas que são resiliência climática e de paisagem para o enfrentamento das emergências climáticas nas quais já estamos inseridas – afirma Ana Paula.
O método muvuca
Foram incontáveis sementes, de 26 espécies, lançadas à terra pelo projeto. Destas, foram 22 espécies florestais e quatro de adubo verde – plantas de porte herbáceo que cumprem o papel de protetoras. Todas foram coletadas em propriedades da região e no Parque Estadual da Quarta Colônia.
– A escolha dessas espécies se deu de acordo com critérios ecológicos e de segurança para a região, no sentido de não escolher as chamadas espécies “invasoras”. Então, nenhuma das espécies escolhidas tem caráter invasor. As 22 espécies florestais são todas nativas e regionais.
Na mistura, 26 espécies
Após a coleta, as sementes são misturadas e lançadas no solo. O método, chamado de “muvuca”, tem origem na prática dos povos indígenas, e consiste na mistura das espécies e na semeadura direta. Na ação realizada na Quarta Colônia, foram mais de 50 pessoas, de 14 entidades, envolvidas na prática. Além disso, teve apoio da UFSM e da Rede Sul de Restauração Ecológica.
Incentivo a criação de grupos coletores
Além de semear o cuidado com o meio ambiente, o objetivo do projeto vai além. A coordenadora, Ana Paula, também chama atenção para o potencial de criar grupos coletores de sementes. A prática, que ainda não é comum no Rio Grande do Sul, pode fortalecer o processo de reconstrução e gerar renda para as famílias.
– Queremos, ainda, chamar atenção para o potencial da coleta de sementes e da formação de grupos de coletores. A ideia é iniciar o primeiro grupo de coletores aqui da Quarta Colônia porque nós precisamos do insumo das sementes para colocar em prática a reconstrução das áreas naturais e o Rio Grande do Sul está muito aquém do necessário nessa organização. É geração de renda para a agricultura familiar e povos tradicionais. E, agora, mais do que potencial, nós temos urgência para isso – explica a coordenadora.
• Por Thais Immig |
Fonte: https://diariosm.com.br