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Estado somou 26% do valor total de produção no país, em 2023, e possui 2,1 milhões de hectares voltados ao cultivo de eucaliptos e pinus
Responsável pela maior área de florestas plantadas do Brasil, com 2,1 milhões de hectares, Minas Gerais também registrou, em 2023, o maior valor de produção na silvicultura do país, somando R$ 8,3 bilhões. O valor corresponde a 26% do total contabilizado no Brasil no ano passado, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No entanto, a liderança no cenário nacional vem acompanhada de dificuldades, como falta de mão de obra qualificada, entraves ambientais, problemas logísticos na malha rodoviária e limitações no modal ferroviário.
Esses obstáculos impactam tanto a produção quanto a expansão de novas plantações de eucaliptos, a espécie predominante no estado, além de dificultarem a instalação de novas indústrias e o escoamento das cargas que abastecem empresas de siderurgia, celulose e produtos à base de madeira, instaladas não apenas em Minas, mas também em outros estados.
Um estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI), o Panorama da Infraestrutura na Região Sudeste, mostrou que, entre os dez trechos rodoviários mais perigosos nos estados de Minas, São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo, quatro estão localizados em estradas federais que cortam Minas Gerais.
“Uma logística desfavorável aumenta muito o custo de produção da silvicultura e reduz sua competitividade em comparação com outras fontes de matéria-prima renovável. No caso do transporte rodoviário de madeira, é preciso ter boas estradas de acesso ao plantio florestal, permitindo o uso de caminhões maiores e, assim, reduzindo os custos de transporte”, destacou José Mauro Magalhães, pesquisador de Economia e Planejamento Florestal da Embrapa.
Segundo Magalhães, o transporte ferroviário, levando mercadorias até os portos, poderia reduzir custos e aumentar a escala de produção. Em Minas Gerais, as linhas Vitória-Minas (EFVM), Centro-Atlântica (FCA), Norte-Sul (FNS), Malha Regional Sudeste (MRS) e Rumo Malha Central (RMC) totalizam quase cinco mil quilômetros de trilhos.
Em 2022, o governo federal anunciou um investimento de R$ 80 bilhões através do Pro Trilhos para praticamente dobrar esse percurso em Minas, com a construção de 5.900 novos quilômetros. No entanto, o programa foi extinto, e as negociações com as empresas continuam através do sistema de Autorizações Ferroviárias, de acordo com a ANTT.
A presidente executiva da Associação Mineira da Indústria Florestal (Amif), Adriana Maugeri, ressaltou a necessidade de novas linhas ferroviárias no estado. Ela mencionou projetos de ramais nas regiões Norte e Noroeste que atenderiam à demanda do setor. “Esses projetos ainda não saíram do papel porque não há escoamento suficiente que justifique o investimento. Contudo, Minas Gerais precisa de projetos que modernizem sua malha viária,” observou.
Malha extensa e problemática
Apesar das dificuldades, Maugeri destacou que a malha rodoviária do estado oferece diversas opções de acesso para o escoamento de mercadorias. “Se tivéssemos uma malha rodoviária melhor conservada, ganharíamos em tempo e eficiência na distribuição. Minas tem diferenciais e competitividade tão fortes que conseguimos nos adaptar à logística desfavorável,” afirmou.
Marcos José Ferreira, que cultiva florestas de eucaliptos há 40 anos em Alvinópolis, na região Central, relatou que o principal entrave em suas décadas de trabalho tem sido a má condição das estradas para escoar a produção, somada à dificuldade de contratar mão de obra qualificada. “Esse problema de qualificação ficou mais acentuado nos últimos dois anos,” disse.
Em nota, o governo de Minas informou que destinou R$ 400 milhões em 2023 para manutenção de estradas e R$ 517 milhões para este ano. Em 2025, o valor deve chegar a R$ 620 milhões. Já o Departamento Nacional de Infraestrutura (DNIT) afirmou que 100% da malha federal que corta o estado está coberta por contratos de manutenção, e que até dezembro a União investirá R$ 750 milhões em recuperação de pavimento, sinalização e outras melhorias.
Setor tem 'vitória' ambiental
Considerada a principal trava para o setor, a legislação ambiental passou por alterações comemoradas pelos profissionais da cadeia florestal. Em junho, o governo federal sancionou a Lei 14.876, excluindo a silvicultura do rol de atividades poluidoras. Com isso, o setor não precisará mais de licenciamento ambiental para o plantio de florestas para extração de celulose, como áreas de eucaliptos e pinus, além de ficar isento do pagamento da Taxa de Controle e Fiscalização Ambiental (TFCA).
De acordo com a Fundação Estadual de Meio Ambiente (Feam), a partir de tal mudança, o potencial poluidor/degradador da atividade de silvicultura passou a ser considerado pequeno, possibilitando a obtenção do Licenciamento Ambiental Simplificado. Essa modalidade de licenciamento pode ser realizada eletronicamente, em uma única fase, por meio de cadastro ou da apresentação do Relatório Ambiental Simplificado pelo empreendedor, resultando na concessão de uma Licença Ambiental Simplificada – LAS.
Em agosto, o Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam) aprovou alterações nas Deliberações Normativas 213 e 217, simplificando o processo de emissão de licenças para o plantio de florestas. Segundo Adriana Maugeri, presidente da Amif, o processo de análise, que antes podia levar até 11 anos, agora pode ser concluído em até três meses, sem reduzir a fiscalização e o cumprimento de obrigações ambientais e sociais.
Carlos Alfredo Guedes, gerente de Agricultura do IBGE, destacou que a simplificação da legislação ambiental é essencial para o desenvolvimento do setor, especialmente diante das mudanças climáticas. "As fiscalizações ainda são necessárias para garantir que as novas regras não sejam usadas contra a própria legislação flexibilizada. O importante é aumentar o uso de matéria-prima de florestas plantadas e evitar o desmatamento de áreas nativas," disse.
Silvicultura e mudanças climáticas
A silvicultura cresceu 11% em valor de produção no Brasil em 2023, mesmo em um ano de longas estiagens. De acordo com Carlos Alfredo Guedes, do IBGE, a silvicultura foi menos afetada pela seca graças às raízes profundas das árvores, especialmente do eucalipto, que conseguem acessar aquíferos naturais. Além disso, avanços científicos têm desenvolvido clones de espécies mais resistentes a eventos climáticos extremos.
Em Minas, por exemplo, os municípios com as maiores áreas plantadas estão em regiões que historicamente enfrentam a seca, como o Norte, Noroeste e Vale do Jequitinhonha. José Mauro Gomes, da Embrapa, também destacou que florestas plantadas desempenham um papel importante na mitigação das mudanças climáticas, ao capturar carbono da atmosfera. “Quando essas árvores são cortadas e utilizadas para fins industriais, liberam carbono que foi sequestrado ao longo do ciclo de vida humano, em vez de liberar carbono fossilizado por milhares de anos,” explicou.
A Aperam South America, que produz carvão vegetal em Minas Gerais, informou que, desde 2020, suas operações em Timóteo, no Vale do Jequitinhonha, têm conseguido neutralidade nas emissões de carbono, utilizando biocarvão produzido a partir de florestas plantadas.
Alternativa para o agro
O Plano Nacional de Agricultura de Baixo Carbono prevê que florestas plantadas podem responder por quase 47% das metas de descarbonização do setor agropecuário. Segundo Mariana Ramos, gerente de Sustentabilidade da Federação da Agricultura e Pecuária de Minas Gerais (Sistema Faemg Senar), até 2030 a agropecuária deve reduzir suas emissões de CO2 em até 30%.
"As florestas plantadas capturam cerca de 20% das emissões anuais de gases de efeito estufa no Brasil, além de gerar múltiplos benefícios ambientais e produtivos. São um pilar estratégico para o setor agropecuário atingir suas metas de redução de emissões, aliando produtividade e sustentabilidade,” concluiu Ramos.
Por Simon Nascimento
Fonte: https://www.otempo.com.br