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Um estudo da Embrapa, realizado entre 2000 e 2022 no interior do Amazonas, revelou que secas prolongadas, intensificadas pelo fenômeno El Niño, atrasaram em 20 anos a reposição de estoques de madeira em áreas de manejo florestal. A pesquisa foi conduzida em 600 hectares da Fazenda Iracema, no município de Lábrea. Lá, os cientistas monitoraram a regeneração florestal e os efeitos da exploração madeireira. Embora a biomassa da floresta tenha se recuperado, os estoques de madeira comercial ainda não atingiram o volume previsto inicialmente.
O pesquisador Marcus Vinício Neves d’Oliveira, da Embrapa Acre, explica que as árvores maiores, que são alvo da exploração comercial, sofreram alta mortalidade devido às secas sucessivas. Árvores com mais de 50 cm de diâmetro, necessárias para a exploração legal de madeira, cresceram lentamente, o que atrasou a reposição do estoque. Segundo o especialista, a expectativa inicial era que a floresta se recuperasse em 25 anos, mas agora estima-se que o processo completo levará cerca de 45 anos.
Impactos climáticos no crescimento florestal
Os resultados indicam que a floresta começou a responder ao manejo apenas oito anos após o corte inicial. Embora tenha havido um crescimento significativo das árvores remanescentes e ingressantes, a mortalidade elevada, associada ao El Niño, retardou o processo. Secas extremas, registradas em 2005, 2010/2011, 2015/2016 e 2018, foram identificadas como os principais fatores que comprometeram o crescimento das árvores, especialmente nas áreas exploradas.
A pesquisa avaliou indicadores como a biomassa acima do solo, a entrada de novas árvores, o crescimento das árvores residuais e a taxa de mortalidade. Apesar da recuperação completa da biomassa em termos de número de árvores e volume, a floresta se tornou mais jovem, com predominância de árvores menores, o que dificulta a exploração sustentável a curto prazo.
O estudo também apontou que, apesar do crescimento de árvores novas, as espécies comerciais mais valiosas foram as mais afetadas pelas condições climáticas adversas. O ciclo de corte em florestas manejadas na Amazônia varia entre 20 e 35 anos. Mas, devido ao impacto do clima, a área estudada precisará de mais tempo para atingir os níveis de estoque de madeira adequados para exploração. O pesquisador d’Oliveira ressalta que, embora a recuperação em termos de biomassa tenha sido satisfatória, a estrutura da floresta mudou significativamente. Com uma maior quantidade de árvores jovens e menos árvores de grande porte, retardando o ciclo produtivo.
Novos estudos e próximos passos da pesquisa
Os estudos sobre dinâmica florestal são feitos no Acre há mais de 30 anos e na Amazônia como um todo há cerca de 50 anos. Mmas é consenso da pesquisa que esse tempo é relativamente curto para se conhecer efetivamente o comportamento da floresta.
De acordo com Evaldo Muñoz, pesquisador da Embrapa Florestas (PR), participante desse estudo, como a pesquisa é contínua, os dados gerados servem de base para novas análises sobre a dinâmica da floresta. “A recorrência de efeitos climáticos atípicos vai demandar novos estudos para ampliar o conhecimento sobre como a floresta funciona a longo prazo. É necessário investigar outros efeitos desses eventos na regeneração de áreas manejadas, como possíveis mudanças na sua estrutura florística e quais espécies comerciais são mais afetadas”, considera Muñoz.
Os dados gerados pela pesquisa serão integrados a um banco de dados em construção. Ele será disponibilizado pela Embrapa para pesquisadores e profissionais da área florestal. A análise contínua dos impactos climáticos, como o El Niño, sobre a regeneração de florestas manejadas será crucial para a criação de estratégias de manejo sustentável . E assim, tomar atitudes para mitigar os efeitos das mudanças climáticas.
Por Henrique Rodarte
Fonte: https://agroemcampo.ig.com.br