Voltar

Notícias

26
jun
2024
(REFLORESTAMENTO)
A história do pesquisador da UFSC que plantou mais de 4 mil árvores na Amazônia

Cientista realizou o plantio de sementes nativas na região por 40 dias

Os incêndios florestais sucessivos na Amazônia levaram o cientista da pós-graduação em Ecologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Bernardo Flores, a plantar 4,3 mil árvores nativas na região. A iniciativa faz parte de uma pesquisa que busca demonstrar a complexidade de recuperar um ambiente degradado e a importância da restauração dessas áreas.

Receba notícias de Santa Catarina pelo WhatsApp

O experimento começou na região de Barcelos, cidade histórica a cerca de 400 quilômetros de Manaus, no Amazonas, e tinha como objetivo inicial entender quais fatores limitam a recuperação natural das florestas. O plantio das sementes durou 40 dias e contou com a ajuda da comunidade local.

A pesquisa de Bernardo contou com diferentes etapas, desde a coleta das sementes até a análise das espécies que haviam crescido com sucesso. A ideia era verificar o que dificultaria a recuperação florestal depois de uma queimada ou de sucessivas queimadas.

— As florestas de igapó na Amazônia são desmatadas para roça e extração de madeira. Os incêndios destroem áreas enormes e a recuperação é muito lenta ou sequer ocorre, o que faz com que o ecossistema seja aprisionado em um estado não florestal. Áreas remotas podem virar savanas nativas, como observamos em um outro estudo na mesma região — fala.

Aumento do nível do mar causa impactos em SC e ameaça cidades do litoral; confira especial

O El Ninõ, fenômeno que intensifica as chuvas e inundações em regiões como Santa Catarina e Rio Grande do Sul, também é o responsável pela maior incidência e impacto das queimadas na Amazônia.

— Os incêndios ocorrem em anos de El Niño médios e fortes, causando secas severas no Norte da Amazônia. Quanto mais eventos extremos e El Niños acontecerem, mais incêndios acontecem e mais se perde cobertura florestal nesses ecossistemas — explica.

Comunidade local ajudou na pesquisa

As seis sementes nativas da região, que fizeram parte da pesquisa, foram coletadas, separadas e disponibilizadas por um pescador da comunidade local e grande conhecedor dessas florestas. Elas contaram com um cuidado especial antes de se tornarem mudas e virarem árvores. Como ocorrem em áreas inundadas, elas ficam submersas por vários meses ao longo do ano.

— O rio fica alto e as raízes das árvores estão embaixo d`água, só as copas ficam acima. Os frutos boiam, dispersos na correnteza e transportados por peixes, macacos, aves. É uma cena muito bonita, pois as águas ficam cheias de pétalas de flores e fruto — diz.

A operação para o plantio também contou com uma força tarefa para fazer as mudas, com a ajuda de quatro moradores locais e da Secretaria de Agricultura de Barcelos, que cedeu espaço no viveiro. As mudas e sementes foram transportadas por Bernardo com o auxílio de um barco gigante para duas áreas usadas no experimento.

Apesar de as árvores desempenharem múltiplos papéis no ecossistema, inclusive a função de equilibrar a temperatura da Terra capturando o carbono que aumenta o calor e gera uma série de desequilíbrios, plantá-las não deve ser considerada uma solução simplista para a questão ambiental. Isso porque, segundo o pesquisador, existem ecossistemas, como campos e até áreas de savana inundada, como as que ocorrem no Pantanal, que não são próprias à formação de florestas.

— A ideia de plantar árvores é muito importante para restaurar florestas, mas precisamos ter cuidado com discursos genéricos, pois há ecossistemas naturais que não são florestas. Plantar florestas nesses ecossistemas é destrutivo — explica o cientista.

Além disso, é preciso saber onde e qual árvore se está plantando, para evitar a dispersão de espécies invasoras que também podem comprometer ecossistemas. No experimento de Bernando, as sementes nativas de algumas espécies funcionaram bem.

— Naquela região de queimada, depois do segundo fogo, a única forma de voltar a ser floresta é através da restauração, mas são necessários projetos enormes de restauração, com semeadura direta — diz.

As evidências da pesquisa indicam que o as limitações do solo podem retardar a recuperação após as queimadas e também apontam que a limitação de sementes pode ser a razão pela qual a recuperação florestal falha, reduzindo a cobertura florestal.

O estudo também indicou que iniciativas de restauração baseadas na semeadura de espécies de árvores nativas podem ajudar a acelerar a recuperação de florestas degradadas.

— O interessante é plantar espécies nativas, no lugar certo, em lugares que são originalmente florestas. Nestes casos, há benefícios para a humanidade e sociedades locais — pontua.

Júlia Venâncio

julia.venancio@nsc.com.br

Fonte: https://www.nsctotal.com.br/

Jooble Neuvoo