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O reflorestamento com incentivos fiscais dos anos 70/80 para produção de madeira para consumo industrial, talvez
possa ser considerado uma das políticas públicas que mais trouxe benefícios técnicos, sociais, econômicos e ambientais ao país.
Bem, resumidamente, consolidou o setor de florestas plantadas, que dobrou de crescimento pós- incentivo, chegando em cerca de 10 milhões de hectares; transformou o Brasil no maior produtor mundial de celulose de fibra curta; promoveu o crescimento das diversas indústrias à base de madeira e deu condições para o crescimento da siderurgia a carvão vegetal sem o uso de florestas nativas. Foram gerados milhões de empregos e elevou a participação dos produtos florestais a quase 4% no PIB Nacional. E as empresas que atuam no setor preservam mais de 6 milhões de hectares de vegetação nativa.
Temos tecnologia bem desenvolvida, empresas e profissionais altamente capacitados, além de instituições de pesquisas e universidades cuidando do assunto. Um cenário de sucesso incontestável!
Esse resultado só foi possível com muito trabalho, constantes correções e o esforço gigantesco de instituições governamentais, com destaque ao antigo IBDF. Foram, na verdade, os atalhos e correções que deram vida ao setor e que podem ser colocados como o grande legado à história da atividade florestal brasileira. Sem essas providências os prejuízos seriam incalculáveis e a silvicultura brasileira teria sido aniquilada. Tudo com esforço conjunto de governo, empresas, instituições de pesquisas, universidades, entidades representativas e brilhantes profissionais. Esse esforço salvou o setor.
Nos dias atuais, fala-se novamente em reflorestamento, agora com espécies nativas, visando recuperação de áreas degradadas e captação de carbono. Há previsões para reflorestar 12 milhões de hectares em pouco mais de 6 anos. É mais do que se fez em 50 anos com o reflorestamento para produção de madeira. Um enorme desafio!
É fácil perceber relações interessantes no cenário vivido lá atrás, há mais de 50 anos, e o cenário dos dias atuais: programas gigantescos e abundância de recursos financeiros em jogo; interessados de todos os cantos; falta de informações e dúvidas com respeito aos procedimentos técnicos; indefinições quanto à responsabilidade institucional pela coordenação e acompanhamento dos projetos e atividades operacionais; mercado de carbono com muitas indefinições e por aí vai. E mesmo diante de dúvidas, o entusiasmo dos interessados só cresce e a conversa sobre a necessidade de se aumentar a captação de carbono, ao nível internacional, só aumenta! E o Brasil já está sendo colocado como importante protagonista no negócio de reflorestamento para captação de carbono. Desafio e arrojo de assustar!
Diante da experiência vivida com os incentivos fiscais dos anos 70/80 e a nova onda de reflorestamento, que surge com grande potencial de crescimento, mas com algumas indefinições, vem a pergunta:
- Não valeria a pena integrar as entidades representativas, instituições de pesquisas e universidades, onde se encontram registros das experiências do passado com erros e acertos para que se estabelecesse, conjuntamente, programas, prioridades e recomendações técnicas que pudessem dar mais segurança ao sucesso dos reflorestamentos para recuperação de áreas degradadas?
Talvez, ao se atentar às experiências do passado, encontremos soluções a eventuais dificuldades tão comuns a qualquer atividade que se inicia, e nos antecipemos a inevitáveis problemas que poderão sacrificar as novas alternativas de negócios da silvicultura brasileira!
Avaliar e integrar a experiência de 50 anos da silvicultura para produção de madeira para os mais diversos fins, pode ser um marco interessante nessa caminhada desafiadora das atividades de recuperação de áreas degradadas. Há de se aproveitar ao máximo a privilegiada experiência de sucesso já vivida pela silvicultura brasileira reconhecida em nível mundial!
Nelson Barboza Leite - Agrônomo - Silvicultor - nbleite@uol.com.br
Fonte: Comunidade de Silvicultura