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Notícias

18
jan
2024
(MEIO AMBIENTE)
Estudo aponta que 82 por cento das espécies de árvores exclusivas da Mata Atlântica estão ameaçadas de extinção

Entre essas espécies se destacam por exemplo o Pau-Brasil, que foi classificado como "criticamente em perigo" porque perdeu 84% da população selvagem.

Um estudo conduzido por pesquisadores brasileiros, e publicado na revista científica Science na última semana, aponta que a maioria das espécies de árvores da Mata Atlântica estão ameaçadas de extinção. Entre as espécies exclusivas do bioma, 82% têm algum grau de ameaça. Entenda abaixo.

A pesquisa foi coordenada pelo professor de ecologia da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da Universidade de São Paulo (USP) em Piracicaba (SP), Renato Lima. Segundo ele, do total de 4.950 espécies arbóreas presentes no bioma, cerca de metade são endêmicas, ou seja, exclusivas da Mata Atlântica.

Entre as endêmicas, 82% apresentam algum grau de ameaça de extinção. Já incluindo todas as espécies, mesmo as que ocorrem em outros biomas além da Mata Atlântica, 65% estão ameaçadas de alguma forma.

"O que a gente constatou foi principalmente que boa parte, pelo menos dois terços das espécies árvores, estão classificadas dentro de alguma das categorias de ameaça de extinção da IUCN, a União Internacional para Conservação da Natureza", explicou.

Entre essas espécies se destacam por exemplo o Pau-Brasil, que foi classificado como "criticamente em perigo" porque perdeu 84% da população selvagem. Já Araucária, Palmito-juçara e a Erva-mate tiveram declínio de pelo menos 50%, então são consideradas "em perigo".

Um total de 13 espécies endêmicas - espécies que ocorrem apenas na Mata Atlântica e em nenhum outro lugar do mundo - foram classificadas como possivelmente extintas, ou seja, podem ter desaparecido do planeta.

Por outro lado, cinco espécies que antes eram consideradas extintas na natureza foram redescobertas pelo estudo.

A pesquisa foi feita com base nas populações nativas de cada espécie de árvore presente na Mata Atlântica, ou seja, não entraram na conta as árvores plantadas em praças ou jardins, mas sim as que estão presentes em florestas.

"O que entra no cálculo são as populações nativas que estão na mata mesmo. É lá que a IUCN reconhece que todos os processos ecológicos e todos os processos evolutivos necessários para manter a espécie a longo prazo ocorrem e estão sendo mantidos, para garantir que a espécie vai se manter na natureza por si só", explicou.

Categorias de risco

As espécies de árvores foram categorizadas conforme quatro critérios, segundo Renato. O principal deles está relacionado à diminuição do tamanho das populações das espécies nas últimas três gerações - um tempo que é específico pra cada espécie.

"O desmatamento gera perda de floresta. Perda de floresta gera perda de árvores. Então, se houve uma perda de mais de 30% nos últimos três tempos de geração da espécie, por exemplo, vamos dizer que a espécie tem um tempo de geração de 20 anos. Então, se nos últimos 60 anos a espécie perdeu mais de 30%, ela está vulnerável à extinção", explicou.

A partir desses critérios, cada espécie foi incluída em uma das categorias:

• Vulnerável - perda de 30% a 50%
• Em perigo - perda de 50% a 80%
• Criticamente em perigo - perda de 80% ou mais

Além da perda de população, outros três critérios foram usados: distribuição geográfica restrita; populações pequenas em declínio; populações muito pequenas.

Como resolver esse problema?

A resposta para essa pergunta parece simples, mas vai além de apenas plantar árvores. Segundo Renato, antes disso é preciso preservar as áreas onde os últimos indivíduos arbóreos das espécies ameaçadas estão.

"Muitas dessas áreas estão em propriedades privadas. Então, várias pessoas têm nos seus fragmentos, nas suas fazendas, os últimos estoques dos indivíduos de árvores ameaçadas da mata atlântica. Então, não desmatar esses fragmentos é essencial, senão a gente perde mais indivíduos e a situação piora", argumentou.

Mas, para além disso, o pesquisador aponta que seria necessário fazer planos de ação para conservar ao menos os genes das espécies mais ameaçadas, plantando em jardins botânicos, por exemplo.

"Às vezes ela está extinta na natureza, mas ela está em algum jardim botânico. Assim como ocorre com algumas espécies animais". completou.

Outra medida essencial é conservar os fragmentos que ainda sobraram das espécies em extinção. "Melhorar as condições deles para que essas espécies possam se manter a longo prazo nessas áreas", explicou.

"É possível reverter sim, mas como em geral a gente vê que a Mata Atlântica continua sendo desmatada, continua sendo perturbada, o prognóstico não é muito bom. A gente teria que realmente parar e tomar providências mais drásticas do que tem sido tomadas atualmente."

Mais uma alternativa que pode trazer resultados a longo prazo é a restauração florestal. "Se a gente for plantar floresta e nessas florestas a gente usar espécies que estão em alto risco de ameaça na mata atlântica, a gente consegue repor na natureza um pouco das populações que foram perdidas. Consegue, ao longo do tempo, dizer que as populações estão sendo repostas."

Fonte: Por Caroline Giantomaso, g1 Piracicaba e Região

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