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Área ocupada para produção de celulose é equivalente a 1,6 milhão de campos de futebol
Ocupando área superior a um milhão de hectares em Mato Grosso do Sul, equivalente a 1,6 milhão de campos de futebol, o eucalipto é marcado pelo verde. Do ponto de vista econômico, trata-se das “verdinhas”. Em dólares, o total exportado chega a US$ 966 milhões, sendo a celulose a segunda commodity mais rentável da balança comercial do Estado.
Comemorando aniversário de 46 anos, MS consolidou a troca do binômio “boi-soja” pelo “celulose-soja. O gado, aliás, vem em retração. Há 20 anos, Mato Grosso do Sul tinha o maior rebanho do Brasil, agora, fica com o quinto lugar no ranking nacional.
Já o verde do eucalipto, que desponta na paisagem da Costa Leste de MS, num circuito de Ribas do Rio Pardo a Três Lagoas, passa longe de consenso sobre ponto de vista ambiental. O setor sustenta ser floresta plantada, enquanto quem diverge não vê na monocultura nem traço da diversidade biológica que marca o bioma.
Há duas décadas, se projetou que em 2030 o Estado poderia ter cultivo de um milhão de hectares de eucalipto. Contudo, a marca já foi superada sete anos antes.
O eucalipto ocupa áreas em Três Lagoas, Água Clara, Ribas do Rio Pardo, Santa Rita do Pardo, Brasilândia, Inocência, Bataguassu, Aparecida do Taboado, Selvíria, Campo Grande e Paranaíba.
“Todas as monoculturas que são destinadas à produção de commodities, como o caso da celulose, preocupam quando ocupam grandes espaços. Em Mato Grosso do Sul, tem uma grande região em que as terras eram destinadas à pecuária. Como todas as outras monoculturas, preocupa pelo fato que sufoca as produções de comunidades tradicionais de subsistência e de produção de alimentos”, afirma o procurador do Trabalho Leomar Daroncho, do Fórum Nacional de Combate aos Impactos dos Agrotóxicos.
Professora visitante na UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) de Três Lagoas, a pesquisadora francesa Marine Dubos-Raoul detalha o conceito do “deserto verde”.
“Para os pesquisadores, essa questão do termo floresta é bem problemática. Uma floresta tem características com conjunto de vegetais e animais, com funções sociais e econômicas. Chamar as plantações de eucaliptos de floresta não condiz com a realidade”, afirma Marine, que é doutora em Geografia pela Universidade de Paris 8.
Levantamentos em comunidades na zona rural de Três Lagoas, município expoente do cultivo de eucalipto, mostram perda da diversidade, migração de animais em busca de alimentos (que passam a se alimentar de grãos plantado nas roças da agricultura familiar) e perda de recursos hídricos. Ela destaca que fruto típico do Cerrado, como a guavira consumida em Três Lagoas, agora vem do vizinho Goiás.
“No distrito de Garcias, a cachoeira, que era lugar de lazer e recreação, não existe mais. No distrito de Arapuá, o córrego que era uma espécie de balneário também não existe mais. A gente sabe que o eucalipto suga muitos recursos hídricos para o processo do seu desenvolvimento”, diz a professora.
Estrada na zona rural faz divisão do eucalipto (à esquerda) e Cerrado (à direita). (Foto: Marina Pacheco/Aquivo)
Estrada na zona rural faz divisão do eucalipto (à esquerda) e Cerrado (à direita). (Foto: Marina Pacheco/Aquivo)
Ainda de acordo com ela, a população das áreas rurais já sentem impactos do uso do agrotóxico, como no aumento das formigas nas lavouras de alimentos, por exemplo. “Essa espécie vem achar na roça um refúgio, onde não se faz uso de veneno”, diz a pesquisadora.
Ela também vai pesquisar os impactos do eucalipto em Inocência, município a 339 km de Campo Grande e que terá nova fábrica de celulose.
Segundo o levantamento Produção da Extração Vegetal e da Silvicultura 2022, realizado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas), a área de eucalipto somou 1,18 milhão de hectares em Mato Grosso do Sul.
A celulose se desdobra em cinco mil usos, como papel higiênico, papel toalha, aventais cirúrgicos, fraldas, cosméticos e na composição de produtos comestíveis.
Campo Grande News - Conteúdo de Verdade
Atualmente, a Reflore/MS calcula que a área plantada com eucalipto no estado alcance 1,5 milhão de hectares, com geração de 90 mil empregos. Sobre os impactos nos recursos hídricos, o diretor executivo da Reflore, Dito Mário, afirma que o tema é recorrente, mas pela falta de informações.
“Infelizmente, pela falta de conhecimento, esse assunto vem sempre à tona. Hoje, por exemplo, temos empresas como a Ramires Reflorestamento, que opera há 50 anos. Se secasse o solo ou se fizesse qualquer outro dano, eles não estariam aqui, já teriam ido embora. Então, muito pelo contrário, há 50 anos eles produziam 15, 20 metros cúbicos por hectare/ano, hoje a produtividade é o dobro disso. Então dizer que seca o solo, não é real”, diz o diretor.
De acordo com Dito Mário, não há cultivo de eucalipto transgênico em MS, mais resistente a agrotóxicos. “Está proibido. Porque pelo FSC - Conselho de Manejo Florestal, que é a certificadora, o eucalipto transgênico está proibido. Como essas empresas precisam da certificação para poder ter os produtos vendidos para outros países, eles seguem a regra. Não existe eucalipto transgênico em MS. A não ser que possa ter alguma coisa nível de pesquisa, mas para comercial não tem”, explica.
No cultivo tradicional, são utilizados inseticidas biológicos e químicos. “Uma árvore que tem 25, 30 metros de altura, como é o caso do eucalipto, é necessário a pulverização aérea ou por drone, por exemplo. A pulverização pode ser com inseticidas biológicos, para determinadas pragas, mas para outras, o biológico ainda não faz efeito, então é feito com químicos. Mas é fundamental que seja feito o combate à praga, senão, há perda de produtividade muito grande”, afirma o diretor executivo da Reflore.
Ele enfatiza que o eucalipto se enquadra em floresta plantada. “O eucalipto é uma planta que para nós, aqui no Brasil, principalmente na nossa região, com 6 a 7 anos dependendo o local, fertilidade de solo, quantidade de chuva, ele atinge uma produtividade muito boa e pode ser usado para a produção de energia, secagem de grãos e caldeiras, assim também como para a celulose. Tem outros usos ainda. Se você tiver um manejo mais adequado de produção de floresta para múltiplo uso, como para a produção de MDF, piso, batente, porta, madeira engenheirada e outros usos ele teria que ter um cultivo na faixa de 14, 15 anos, dependendo do manejo até um pouco mais, para atender essas outras cadeias”.
Por Aline dos Santos
Fonte: - CREDITO: CAMPO GRANDE NEWS