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23
set
2023
(MADEIRA E PRODUTOS)
Com propriedades das raízes às folhas, o Nim é aposta de biofertilizante

A espécie da árvore de copa vistosa é nativa de Myanmar

Nativa de Myanmar e das regiões áridas do subcontinente indiano, o nim é uma árvore de copa vistosa, folhas verde-escuras – e múltiplas utilidades na atividade agropecuária. A espécie chegou ao Brasil na década de 1970, por iniciativa do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (Iapar), sediado em Londrina, mas se tornou floresta nos solos da Amazônia e da região Nordeste do país.

A amargosa, como também é conhecida no Brasil, serve de matéria-prima para a produção de fertilizantes, rações, vacina animal, biomassa, cosméticos e, principalmente, de inseticidas naturais, uma versatilidade que levou a Organização das Nações Unidas (ONU) a considerá-la, há alguns anos, a árvore do século 21.

Os elementos que fazem do nim uma eficiente arma no combate a pragas e insetos estão presentes em todas as partes da planta, das raízes às folhas. O aproveitamento dessas propriedades ainda não ocorre em larga escala, mas o uso da árvore no mercado de bioinsumos vive um boom silencioso no Brasil, em particular nos últimos cinco anos.

O desafio está em conseguir produzir em larga escala, mas, como os biobotânicos são a nova fronteira dos biodefensivos, essa é uma tendência e também uma oportunidade

No alto da copa, que pode chegar a 20 metros de altura, brotam “azeitoninhas” verdes. São elas que armazenam o óleo, um elixir da chamada biobotânica, a classe de insumos de base biológica feitos a partir de compostos extraídos da planta (outra classe, a dos biológicos, utiliza fungos e bactérias como matéria-prima).

A semente do nim é o fruto da planta. Essa semente tem uma casca, e debaixo dela fica a amêndoa, que fica envolta por uma espécie de polpa não comestível. Após triturada e prensada a frio, a amêndoa se transforma em um azeite capaz de proteger as lavouras, especialmente as de soja, milho, café e algodão.

Com folhas escuras, raízes profundas e tronco pouco espesso, de cerca de 80centímetros de diâmetro, a árvore frondosa guarda, ao todo, 300 compostos naturais. Em sua lista de atributos estão ainda o crescimento rápido, a tolerância ao déficit hídrico e sua boa capacidade de se desenvolver em solos pobres e até degradados, o que fez o produtor rural Sérgio Lindemann apostar na espécie.

Lindemann, um produtor de soja de longa data, escolheu o nim quando decidiu implantar florestas em uma área degradada na cidade de São João de Pirabas, no Pará. O agricultor fez o plantio da primeira floresta de nim do Brasil em 2006, em uma área de 20 hectares.

A atividade ganhou corpo dez anos mais tarde, quando a filha do empresário, Gabriela Lindemann, decidiu comprar as áreas plantadas do pai para expandir o negócio da empresa Openeem Bioscience.

"O nim chegou ao Pará na década de 1980 por meio da Embrapa. Meu pai, que já tinha produção, começou a investigar a flor da árvore nativa e, em um trabalho de formiguinha, descobriu o tesouro", contou ela à Globo Rural.

Dedicada à agricultura regenerativa e à produção de insumos naturais, Gabriela começou em 2016 a peregrinar por universidades brasileiras para encontrar “tecnologias e inovação científica” que permitissem o aproveitamento de 100% do que ela denomina “matéria-prima potente” para o agronegócio, seu foco principal.

Nos sete anos em que está à frente dos negócios, Gabriela ampliou a área de floresta, que tem hoje 529 hectares, dos quais 100 já estão em fase de beneficiamento. Nesse intervalo, ela investiu em tecnologia para extração e estabilização dos compostos, uma iniciativa que permite trabalhar com esses insumos em larga escala.

Para o negócio se expandir, a empresária atraiu novos sócios, que reforçaram os aportes (que, desde 2016, chegam a até R$ 60 milhões). Gabriela também vendeu seu apartamento para apostar todas as fichas na empresa – que, hoje, tem linhas de biobotânicos, biodefensivos e até de repelentes orgânicos.

O nim é complexo, caro e exige atenção, reconhece a produtora. "O desafio está em conseguir produzir em larga escala, mas, como os biobotânicos são a nova fronteira dos biodefensivos, essa é uma tendência e também uma oportunidade”, diz. Atualmente, a Openeem Bioscience planta as sementes em antigas áreas degradadas como parte de sua estratégia de impacto socioambiental no município paraense.

Ainda que tenha crescimento acelerado, a “árvore da vida”, como também é chamada, demora para gerar mudas – elas podem levar até três anos para ficarem prontas. De acordo com pesquisas da Embrapa, a planta ajuda no controle da erosão, na salinização e na prevenção contra os efeitos de inundações dos solos.

Um dos grandes responsáveis pela disseminação da espécie no Brasil é o pesquisador Belmiro Pereira das Neves, que, em 1993, passou a utilizar a árvore nativa em seus esforços para a redução do uso de químicos. Pesquisador da Embrapa Arroz e Feijão, em Goiás, ele também defende o uso da planta na agricultura familiar, já que ela dá sombra e fruta e pode compor sistemas agroflorestais.

Múltiplas utilidades

Fonte de compostos que combatem pragas em lavouras de soja, milho, algodão e café, o nim é um aliado dos produtores rurais também em outras atividades.

• Sementes
Do óleo da semente do nim se extrai a azadiractina, princípio ativo da árvore mais estudado pela ciência. Esse biodefensivo age contra inúmeras pragas e doenças e também protege os grãos nos armazéns;
• Frutos
Sua polpa tem sabor adocicado, mas o consumo in natura ainda é pouco difundido. Os frutos são utilizados principalmente para a extração das sementes;
• Galhos e cascas
Os galhos e a casca da árvore do nim são usados principalmente para tratar problemas bucais e digestivos. No agro, as propriedades higiênicas podem servir para produtos de limpeza dos currais, por exemplo;
• Caule
A moagem do caule resulta no óleo de mim, que inibe o desenvolvimento de fungos na agropecuária;
• Raízes
Elas contêm muitos ativos antibactericidas, que entram na formulação de produtos veterinários, como os usados no combate a carrapatos e pulgas;
• Torta de nim
O bagaço das sementes trituradas e moídas contém substâncias capazes de eliminar os nematoides, o que favorece a fixação de nitrogênio no solo. A torta entra na formulação de adubo orgânico e de antibióticos para o gado;
• Flores
De sabor amargo, elas podem entrar em saladas ou sopas. Seu aroma se assemelha ao do mel, razão pela qual atraem abelhas, o que faz do composto um aliado na apicultura;
• Folhas
O extrato das folhas é usado na produção de biodefensivos e de repelentes naturais e cosméticos com elevado teor antioxidante. Quando secas, viram um pó que, misturado ao sal mineral, controla carrapatos e mosca-do-chifre do gado.

• Por Isadora Camargo — São Paulo

Fonte: https://www.jornalopcao.com.br

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