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Setor de base florestal tem investido R$ 61,9 bilhões, mas não vê disponibilidade de matéria-prima para novos projetos
O aumento no preço da madeira e a migração de produtores de eucalipto e pinus para a plantação de soja e milho, que são mais rentáveis, têm causado preocupação das papelarias e das indústrias de painéis de madeira. A busca por matéria prima, inclusive, segue alimentando a corrida por madeira e terras no Brasil, sobretudo nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste.
Até 2028, conforme a Indústria Brasileira de Árvores (Ibá), o setor de base florestal terá investido R$ 61,9 bilhões, entre plantio de florestas, novas fábricas, modernização e logística. No setor, porém, a leitura é que não há disponibilidade de matéria-prima para novos projetos de celulose, além dos que estão em execução.
Preços triplicam
Com demanda superior à oferta, os preços do eucalipto em pé, que leva entre seis e sete anos para estar pronto para a produção de celulose, praticamente triplicaram desde 2019, ao mesmo tempo em que a produtividade média florestal no país permaneceu estagnada. Para se ter uma ideia, o valor do metro cúbico passou de R$ 40,20 em 2019 para R$ 115,40 neste ano.
No caso do pinus, os preços saltaram mais de 60% em um ano. Há um ano, por exemplo, o metro cúbico era vendido a R$160. Hoje, o preço varia entre R$ 260 e R$ 270. Da mesma maneira, vender no mercado interno se tornou mais rentável do que exportar, como algumas empresas faziam no passado.
“O preço da madeira ainda vai subir bastante, mais no caso do eucalipto do que do pinus”, avaliou o sócio-diretor do grupo Index, Marcelo Schmid, à Veja.
Concorrência
Schmid lembra que as metas de descarbonização assumidas por empresas de diferentes setores também contribuem para a maior concorrência pelo insumo. Nesse ambiente, conforme o sócio-diretor, o setor base deveria elevar os investimentos para voltar a elevar o chamado IMA, que mede a produtividade das florestas.
Esse também é o entendimento do presidente do conselho deliberativo da Ibá e CEO da Dexco, maior produtora de painéis de madeira do país, Antonio Joaquim de Oliveira.
“O setor construiu uma história de tecnologia e uso da terra, aliando competência técnica à condição favorável da natureza”, diz.
Praticamente todos os grandes players globais têm investimento no país, em busca dos níveis de produtividade “incomparáveis”. O executivo lembra que, entre 1980 e 2000, houve uma revolução na produção nacional de florestas, graças aos avanços em melhoramento genético. Antes, na década de 70, incentivos fiscais já haviam dado forte impulso. “Esse salto de produtividade propiciou novos projetos”, conta.
De 2010 para cá, a produtividade florestal no país está estacionada. Segundo levantamento da Ibá, entre 1960 e 2000, no caso do eucalipto, que representa 75% das áreas cultivadas de árvores, passou de 10 para 36 metros cúbicos por hectare por ano. Hoje, caiu a 33.
“O problema da produtividade tem origem diversas. O alerta é que é preciso haver um trabalho conjunto, envolvendo universidades, institutos de pesquisa, técnicos e grandes empresas, que têm recursos a aportar. O momento é de olhar o setor em conjunto, e dar um novo salto”, afirmou.
Hoje, são cerca de 10 milhões de hectares de florestas plantadas no país, informa o executivo, engenheiro florestal pela Universidade Federal de Viçosa (UFV). O impacto de um trabalho conjunto, em sua leitura, pode trazer ganhos de 10% a 20%.
“Há questões de compliance, mas não adianta cada empresa olhar só para si”, afirma. “Se não fizer nada, o setor continuará crescendo em área, mas não em produtividade. Dá para ser ainda mais
Pedro Moura
Fonte: https://www.jornalopcao.com.br