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Quem tem acompanhado o desenvolvimento da silvicultura brasileira deve ter notado grande diferença no comportamento das empresas, entidades representativas e até instituições de pesquisas diante de questões polêmicas que surgem de tempos em tempos!
Lá atrás, um batalhão se mexia em defesa da silvicultura! Atualmente, assusta a complacência do setor diante de críticas tão contundentes e de oportunidades que passam sem nenhuma discussão, sem nenhuma reivindicação e envolvimento dos possíveis interessados!
Antes, a qualquer manifestação que causasse polêmica, havia sempre uma pronta resposta! Há quem aposte que até o próprio incentivo fiscal, que todos usufruíram, de pequenas a grandes empresas, só se manteve em pé, graças ao esforço permanente das entidades representativas – ARBRA, ANFCP, ABRACAVE, SBS, dentre outras. Nada ficava sem uma resposta, sem um posicionamento setorial. Nem tudo se resolvia, até porque muitas encrencas eram justificadas por barbeiragens de campo, comuns numa atividade sem tradição, com muito dinheiro envolvido e bruxarias dos picaretas que andavam às soltas. Manchavam o setor, mas a reação era imediata pela massa de interessados e empresas executoras de bons projetos. Esse pessoal dava total apoio às atuantes entidades representativas da época.
Juntamente com as escolas e instituições de pesquisas eram produzidos e distribuídos documentos técnicos, explicando e divulgando informações sobre o reflorestamento, que crescia em várias regiões. Por muito tempo, o grande nó enfrentado pela atividade tratava da “monocultura do eucalipto e do deserto verde”. Uma discussão que nunca se esgotou e que tem se desdobrado, de tempos em tempos, em inúmeras polêmicas regionais. Antes, tudo sob o acompanhamento atento das entidades e prontas respostas das empresas envolvidas.
E da mesma forma que se prestavam para defesa da atividade, havia ampla união para pleitos e melhorias das legislações vigentes. Nem pedradas no setor, nem distorções nas legislações e muito menos oportunidades legais passavam desapercebidas sem intensas discussões e o crivo das entidades representativas. Percebia- se assim, o pulsar e a motivação de um setor com vida. Essa movimentação integrada servia como mola propulsora de uma atividade que crescia, num momento em que surgiam as grandes indústrias que necessitariam de muita madeira!
Foi o período áureo da silvicultura brasileira. Período de inspiração, de construção e de brilhantes construtores! A atividade cresceu, se desenvolveu e deu origem às indústrias, que se agigantaram! E as florestas, como obra pronta, se mantiveram num processo bem-sucedido e consolidado, mas como parte dos grandes empreendimentos. E passaram a cumprir, exclusivamente, a função de suprimento de matéria-prima e obrigatoriamente a custos competitivos! Sumiram os entusiasmados construtores e a obra consolidada calou-se.
Nos dias atuais, ao se olhar essa atividade tão exitosa, geradora de tantas riquezas e de ricos patrimônios industriais, lembramos do comentário feito por um ex-professor nosso da ESALQ ao comparar a nossa silvicultura à mais famosa escultura de Michelangelo. O escultor italiano esculpiu em um bloco de mármore maciço e levou cinco anos para concluir. Ao terminar, Michelangelo ficou tão impressionado com o resultado pela sua beleza e realismo que exclamou “Perché non parli”? Ou traduzindo – “POR QUE NÃO FALAS”?
🌳Nelson Barboza Leite – Agrônomo – Silvicultor – nbleite@uol.com.br
Fonte: Nelson Barboza Leite