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24
jul
2023
(MADEIRA E PRODUTOS)
Serra fatura R$ 267 milhões com madeira de cultivo florestal

Últimos dados apontam que a região produz 3,5 milhões de metros cúbicos de madeira

Estimativa do Sindimadeira aponta que a indústria madeireira no Estado contribui em 4% com o Produto Interno Bruto (PIB). As extensas áreas de florestas nativas, na Serra, foram essenciais para o início da atividade madeireira na região, no final do século 19. Nos dias atuais, a atividade contribui com a economia regional e desempenha um papel na geração de empregos, desenvolvimento socioeconômico e fornecimento de matéria-prima para diferentes setores.

Os últimos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2021, e analisados pela Associação Gaúcha de Empresas Florestais (Ageflor), apontam que a produção de madeira no Estado chegou a 26.290.663 metros cúbicos, com valor da produção (pago aos produtores) de R$ 1,9 bilhão. Naquele mesmo ano, somente na região da Serra, a produção madeireira na região foi responsável por 3.509.532 metros cúbicos, com valor da produção de R$ 267,107 milhões.

De acordo com o Sindicato Intermunicipal das Indústrias Madeireiras, Serrarias, Carpintarias, Tanoarias, Esquadrias, Marcenarias, Móveis, Madeiras Compensadas e Laminadas, Aglomerados e Chapas de Fibras de Madeiras (Sindimadeira), com sede em Caxias do Sul, a indústria madeireira tem uma contribuição significativa para o Produto Interno Bruto (PIB), de 4% em todo o Estado.

O município de São Francisco de Paula ocupa o primeiro lugar dos municípios gaúchos com maior cultivo de pinus. Conforme dados de 2021 divulgados pela Ageflor, são 38.577 hectares de plantações. Em toda a região dos Campos de Cima da Serra, são 50.536 hectares.

Nas regiões da Serra e dos Campos de Cima da Serra, a atividade madeireira tem uma influência significativa em diversos setores, devido à exploração do pinus. Conforme o Sindimadeira, a espécie de árvore ocupa 214 mil hectares de plantio em toda a região. Para a atividade, a comercialização de madeira é realizada para diversos segmentos, como para a indústria de celulose, moveleira e construção civil.

— No entanto, é importante notar que a indústria do Rio Grande do Sul não consome toda a matéria-prima produzida na região, havendo uma dependência do mercado de Santa Catarina, que compra aproximadamente 55% de todo o volume global de madeira transformada em tora. Ou seja, são cerca de 220 mil toneladas por mês, de todos os tipos de tora, onde 55% é vendido para Santa Catarina e não é industrializado aqui no Estado — conta o 2º secretário do Sindimadeira, Gustavo Pinto Pereira.

Mercado nacional não consegue absorver toda a produção de madeira da Serra, que acaba sendo influenciada pelo mercado internacional

Apesar da exportação para o Estado vizinho, o mercado nacional não consegue absorver toda a produção da Serra, e a demanda por madeira no mercado internacional acaba influenciando no setor. Dessa forma, o preço da madeira é fortemente influenciado pelo mercado de exportação. Conforme explica Pereira, a pandemia de covid-19 foi um momento que apresentou grande oscilação no setor.

Antes do período pandêmico, o mercado madeireiro estava defasado, tanto para a indústria que depende do setor, quanto para a própria floresta e a remuneração de produtores. Em meados de 2021, o setor registrou um salto positivo em números. Por causa das restrições e dezenas de áreas de produção totalmente paradas, o segmento florestal brasileiro continuou. A área gera celulose, que contribuiu diretamente com a indústria hospitaleira.

— O segmento florestal foi considerado de primeira importância, então foram adotadas regras de distanciamento, redução de quadro e afastamento entre os funcionários, para que o Brasil continuasse produzindo. Isso teve um impacto gigante porque outros países, que também atuavam com madeira, deixaram de produzir. Dessa forma, a demanda aqui aumentou e, consequentemente, os preços subiram e houve um período de grande remuneração para o segmento florestal e indústria madeireira —afirma o 2º secretário.

O trabalho com madeira

O momento positivo impactou diretamente na produção da Rauber e Cesa LTDA, uma das serrarias de São Francisco de Paula. Com 750 hectares de floresta plantada, a empresa familiar adquire parte da madeira de fornecedores externos para suprir a demanda. Todo o município trabalha majoritariamente com madeira de pinus.

A empresa, que foi fundada em 2009, atua com reflorestamento próprio e exporta madeira para os Estados Unidos e países da Ásia. Conforme explica Didier Cesa, diretor da companhia, exportar a madeira para fora é um mercado mais vantajoso para eles por conta do retorno financeiro. Atualmente, um container com 55 metros cúbicos sai da Rauber e Cesa LTDA por dia a caminho da exportação.

A fazenda da empresa onde os pinus estão plantados, conta atualmente com árvores que passam dos 25 anos. Quando são colhidas, passam por um processo de corte onde é possível aproveitar todas as partes, que são usadas em diferentes segmentos. As árvores são comumente usadas para papel, celulose, chapas, MDF, móveis, tábuas e diversos itens para a fabricação de materiais de higiene e também a construção de casas.

Na empresa, um dos produtos principais é a cerca americana. As tábuas finas e milimetricamente cortadas passam por um processo de secagem, que dura cerca de dois dias. De acordo com Cesa, a madeira entra nas máquinas de secagem com umidade estimada em 55% e sai com 8%, pronta para seguir o processo até a exportação.

Por conta do aumento na busca pela madeira durante a pandemia, que cresceu em todo o município, a empresa enfrentou dificuldade em encontrar mão de obra e passou a contratar mais mulheres para atuar na empresa. O setor madeireiro é, em sua maioria, formado por homens.

— Atualmente, cerca de 70% do nosso efetivo é formado por mulheres. Isso começou justamente na pandemia. Passamos a ter uma demanda muito superior ao que estávamos acostumados, toda cidade buscava mão de obra e a mulherada abraçou o trabalho. Elas estão em todas as áreas aqui da empresa, são cuidadosas e dedicadas, trabalham muito bem — conta Didier Cesa, diretor geral da empresa.

Entre as novas integrantes que buscou uma oportunidade na empresa, está Scheila Ludwig, de 27 anos. Durante a pandemia, ela pediu para um amigo indicar ela para a oportunidade e atualmente trabalha como encarregada no local.

— É muito bom trabalhar aqui. Como estamos em mulheres, a gente se entende melhor e isso é muito bom. Estou aqui há dois anos, assim que me chamaram eu vim. Como sou encarregada, acabo ajudando todas, cuido da qualidade e gosto de colocar a mão no pesado — conta Scheila.

De acordo com o engenheiro agrônomo Rafael Bertuol Marques, que atua como diretor na Marques Consultoria Agrícola e Ambiental, a indústria madeireira do município teve um crescimento considerável em indústrias, causando uma melhora na dinâmica comercial da cidade.

O engenheiro acredita que dentro do mercado madeireiro, exista a expectativa positiva de crescimento contínuo pela demanda por produtos de madeira, tanto no mercado interno quanto externo. A floresta plantada é vista como uma forma sustentável de atender a essa demanda e impulsionar diversos setores, como a construção civil.

Baixo plantio também preocupa

Conforme o diretor da Rauber e Madeiras, Décio José Rauber, 72 anos, o momento positivo do setor destoa da preocupação para o futuro. O homem, que trabalha na área “desde guri”, afirma que o grande número de corte de árvores caminhando lado a lado ao baixo plantio, pode causar um período de preocupação.

— Planto desde os anos 80. Comecei desde guri novo, toda a família trabalha nessa área e a madeira é a nossa vida. Começamos na araucária e seguimos para o pinus. Se não plantar agora, daqui alguns anos vai faltar, porque poucas pessoas estão plantando, mas continuam cortando. Se continuar essa situação, vai ser um período difícil — conta o diretor.

Isso também gera preocupação com relação aos empregos e renda. De acordo com o Sindimadeira, todo o setor madeireiro gera no Rio Grande do Sul aproximadamente 320 mil empregos em estabelecimentos e indústrias. A área de movelaria é responsável por 44,7 mil empregos diretos e 150 mil indiretos. A celulose e o papel geram 10 mil diretos e indiretos. As serrarias são responsáveis por 15 mil empregos diretos e 50 mil indiretos, enquanto que as marcenarias geram 10 mil diretos.

Conforme dados da Ageflor, o setor de movelaria, que gera o maior número de empregos na área da madeira, é um dos destaques em crescimento. Em 2020, o Rio Grande do Sul já registrava 7.057 empresas, divididas entre a indústria madeireira e móveis de madeira, representando 14,7% dos estabelecimentos no Brasil.

O setor madeireiro da região dos Campos de Cima da Serra, em especial em São Francisco, é um dos mais representativos da economia local. Conforme reforça Didier Cesa, um movimento que a empresa percebeu ainda durante a pandemia foi a busca por itens para a reforma das casas. Além do pinus, a empresa não trabalha com outros tipos de madeira por causa das limitações climáticas da região, que são favoráveis especificamente para a espécie.

Após o período de restrições, com o retorno da produção em todos os lugares do Brasil e do mundo, os estoques mundiais madeireiros cresceram gradativamente ao longo de 2021 e 2022. Por consequência, o setor vive um momento de redução de valores, tanto nacional quanto internacionalmente. Por conta do cenário, o momento para o setor é complicado, conforme reforça o Sindimadeira.

Para enfrentar esse cenário, o Sindimadeira vê como alternativas que as indústrias busquem formas de reduzir custos e melhorar a eficiência da produção. No entanto, os altos custos de investimento em tecnologia podem dificultar esse processo.

Atualmente, o Brasil é considerado um dos principais países exportadores de celulose no mundo, posição sendo consolidada ano após ano, conforme a Ageflor. De janeiro a junho deste ano, segundo dados da plataforma Comex, do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, analisados pela reportagem, o Rio Grande do Sul contabilizou um saldo negativo no faturamento da celulose em comparação com o mesmo período do ano passado. O produto, que em 2022 registrou chegou a US$ 570 milhões nos primeiros seis meses do ano, caiu para US$ 488 milhões em 2023. O impacto foi de -14,4% no faturamento.

A dimensão do setor madeireiro e o uso para energia

De acordo com a Secretaria de Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação do governo do Estado, o setor madeireiro desempenha um papel fundamental tanto para  a indústria de transformação, com foco na celulose, produção de aglomerados e outros produtos, quanto para a questão energética, onde a madeira é utilizada como carvão vegetal ou lenha, sendo uma fonte renovável muito apreciada.

Conforme explica o diretor do Departamento de Defesa Vegetal, Ricardo Felicetti, é difícil dimensionar todo o setor madeireiro, pela riqueza de áreas em que ele está inserido de maneira direta ou indireta. Na Serra, o setor é responsável por contribuir economicamente com um valor estimado em R$ 25 milhões. Um dos principais potenciais para o futuro do setor, de acordo com o diretor, está na geração de energia utilizando pelletes de madeira —  um biocombustível sólido que tem como matéria-prima resíduos de biomassa vegetal, como a serragem e maravalha de madeira.

— Nós temos iniciativas industriais aqui no Estado, que já produzem pelletes. São pequenos pedações de madeira, que são utilizados para fins energéticos. Essa madeira aglomerada, que forma esses pelletes, está sendo muito demandada da Europa justamente para a produção de energia de qualidade e sustentável. Esse tipo de energia tende a ser utilizado para questão de balanço de carbono e diminuição dos efeitos das alterações climáticas. Isso é um segmento que vai crescer cada vez mais aqui no Estado — pontua o diretor.

O biocombustível sólido é excelente para a geração de energia térmica, conforme informações da Ageflor. O produto pode ser obtido através da madeira prima florestal, com galhos, ponta ou tocos das árvores, e até mesmo de desperdícios das indústrias de madeira, como serrarias e carpintarias.

O agronegócio é um dos principais consumidores desse tipo de produto, que também está ganhando espaço nos mercados alimentícios e indústrias. A Associação Catarinense de Empresas Florestais (ACR) estima que, em 2021, a produção nacional atingiu 700 mil toneladas de palletes. Destes aproximadamente 49% tem como mercado a exportação. O consumo no mercado nacional tem ganhado expressividade, e consequentemente vê-se um movimento de aumento de indústria fabricantes de pellets.

Flávia Terres

Fonte: Pioneiro.com

Neuvoo Jooble