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O levantamento revelou que o Cerrado teve, proporcionalmente, a maior alta no desmatamento entre os seis biomas brasileiros no ano passado. A área devastada aumentou 31% em relação a 2021.
Cerrado perde 659 mil hectares em um ano
Quando se menciona a palavra desmatamento no Brasil, a associação imediata costuma ser com a Amazônia. Mas, nos últimos meses, a situação de outro bioma tem se degradado rapidamente.
O Cerrado perdeu quase 700 mil hectares de floresta nativa em 2022, segundo o relatório do MapBiomas. A área desmatada tem 20 vezes o tamanho da cidade de Belo Horizonte.
Um imóvel rural no município de Pompéu, centro oeste de Minas Gerais. Um alerta emitido pelos satélites indicou que essa área, de quase 17 hectares, foi desmatada há quatro meses. Ainda é possível observar várias árvores derrubadas e o rebanho espalhado pela região.
Em outras áreas de Pompéu, desmatamentos maiores. As derrubadas se estenderam a uma região muito próxima das margens de um rio, considerada uma área de preservação permanente.
Em outro ponto, onde mais de 260 hectares de mata vieram abaixo, existem 30 imóveis registrados no Cadastro Ambiental Rural, o que permite identificar os responsáveis.
O levantamento do MapBiomas também revelou que o Cerrado teve, proporcionalmente, a maior alta no desmatamento entre os seis biomas brasileiros em 2022. A área devastada aumentou 31% em relação a 2021.
No Cerrado, a maior parte do desmatamento ocorre em propriedades privadas. Mas para derrubar as áreas, é preciso ter autorização dos órgãos ambientais.
“O Ibama tem expertise e tecnologia para fazer monitoramento dessas áreas. Quando há um desmatamento, automaticamente o sistema gera um alerta. Então, a gente vai, a partir desses dados, fazer a fiscalização da propriedade, cruzar com as informações que se têm em banco de dados e determinar se aquele alerta procede ou não procede”, explica Rodrigo Hermes, chefe do Ibama em Uberlândia.
O Código Florestal determina que os imóveis rurais no Cerrado tenham até 35% de reserva legal. Na Amazônia, por exemplo, a exigência é muito maior: os proprietários têm que manter 80% de floresta em pé.
Segundo o diretor da organização ambiental WWF Brasil, a legislação mais flexível no Cerrado e a falta de um plano específico de controle do desmatamento na região ajudam a explicar o avanço da devastação no bioma.
“O Cerrado foi o grande espaço de crescimento do agronegócio. Onde, de fato, ele cresceu muito sobre áreas de vegetação nativa e deixando para trás um passivo de pastagens degradadas. Do mesmo jeito como a gente vem tendo sucesso agora na redução do desmatamento da Amazônia, a gente precisa que isso aconteça no Cerrado e de uma maneira urgente”, afirma Edegar de Oliveira, diretor de conservação e restauração da WWF Brasil.
As unidades de conservação do Cerrado ocupam apenas 8% do território. O que, segundo Geraldo Wilson Fernandes, ainda é muito pouco para proteger o segundo maior bioma do país. O Cerrado abriga milhares de espécies da fauna e da flora e abastece oito bacias hidrográficas.
“O Cerrado é um grande produtor de água no país. Ele é um grande produtor de ar puro que nós respiramos. A degradação desse ambiente é muito ruim. Tanto para a produção desses bens importantes para a sociedade, como também da deterioração da qualidade de vida da população que depende desses bens”, diz o professor de ecologia da UFMG.
A Prefeitura de Pompéu disse que os terrenos mostrados na reportagem não têm autorização do município para desmatamento.
O Jornal Nacional não teve resposta da Secretaria de Meio Ambiente de Minas Gerais.
O Ministério do Meio Ambiente declarou que vai lançar um plano de prevenção e controle do desmatamento no Cerrado.
Fonte: Por Jornal Nacional