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Os sons transmitidos pelas raízes podem ajudar os pesquisadores a mapear este complexo sistema radicular e a monitorar um dos maiores organismos vivos do mundo
Para olhos destreinados, Pando parece uma floresta comum de choupos em Utah, no sul dos Estados Unidos. Contudo, este é um dos maiores organismos vivos do mundo, estendendo-se por 43 hectares. Seus 40 mil troncos são, na realidade, hastes geneticamente idênticas de um álamo tremedor (Populus tremuloides), interconectadas por um sistema radicular complexo.
Os cientistas ainda não sabem ao certo o que se passa sob a terra, mas a curiosidade do engenheiro de áudio Jeff Rice pode ser um caminho para colher mais informações sobre esta árvore gigante. O profissional usou um hidrofone – microfone capaz de capturar os sons debaixo d’água – para escutar o que se passa em Pando.
Além do farfalhar das folhas, dos pássaros cantando e dos animais correndo, algo parecia vir do subsolo. Então, Jeff se juntou a Lance Oditt, fundador e diretor-executivo da Friends of Pando, organização sem fins lucrativos dedicada à educação e pesquisa sobre o organismo, para descobrir o que se passa debaixo do solo.
“Conectamos o hidrofone no portal Pando, uma espécie de buraco aberto em um dos troncos das árvores, quase como um plugue em uma tomada. Imediatamente, começamos a ouvir sons interessantes, mas o que realmente se destacou foi um som baixo, semelhante a um drone”, conta Jeff ao Live Science, onde é possível escutar um corte da gravação.
Para testar sua teoria de que o som que estavam ouvindo estava sendo transmitido pelas raízes de Pando, eles bateram em um galho a cerca de 30 m de distância do portal, e o hidrofone registrou o baque. “Podemos ouvir claramente as batidas”, relata Lance. "Isso ajuda a demonstrar que o Pando está interconectado, não apenas no nível do solo. Seu sistema radicular é como uma treliça subterrânea", explica.
As gravações no subsolo permitem estudar melhor e monitorar este organismo de uma forma não-invasiva. “Do subsolo, podemos ouvir quaisquer mudanças na água e no solo, além de mapear seu sistema radicular, rastrear doenças e liberar sons ultrassônicos para afastar os cervos que se alimentam da árvore. A ideia não é transformar o Pando em um alto-falante, mas ajudá-lo a evitar problemas”, afirma Lance.
Por Aline Melo
https://revistacasaejardim.globo.com/
Fonte: https://revistacasaejardim.globo.com/