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Solo da Amazônia, enriquecido ao longo dos séculos por indígenas, pode aumentar o crescimento de árvores e pasto devido ao alto nível de nutrientes e de bactérias benéficas. Estudo brasileiro comprova a eficácia da chamada terra preta
Entre aproximadamente 450 a.C e 950 d.C, milhões de ameríndios que vivem na atual Amazônia transformaram o solo originalmente pobre por meio de vários processos. Ao longo de muitas gerações humanas, ele foi enriquecido com carvão dos fogos de baixa intensidade, acesos para cozinhar e queimar lixo; ossos de animais, cerâmica quebrada e esterco. O resultado é a terra preta de índio (TPI), excepcionalmente fértil por ser rica em nutrientes e matéria orgânica estável.
Agora, cientistas brasileiros mostram que a TPI pode ser uma arma secreta para impulsionar o reflorestamento — não só na Amazônia, onde 18% ou aproximadamente 780 mil quilômetros quadrados foram perdidos desde a década de 1970 —, mas em todo o mundo. Os resultados do estudo foram publicados na revista Frontiers in Soil Science.
"Aqui, mostramos que o uso de terra preta pode aumentar o crescimento de pastagens e árvores devido aos seus altos níveis de nutrientes, bem como à presença de bactérias benéficas e archaea na comunidade microbiana do solo", disse à agência Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) o co-autor Luís Felipe Zagatto, aluno de pós-graduação do Centro de Energia Nuclear na Agricultura da Universidade de São Paulo (USP). "Isso significa que o conhecimento dos 'ingredientes' que tornam as TPIs tão férteis pode ser aplicado para acelerar projetos de restauração ecológica."
Os pesquisadores conduziram experimentos controlados para reproduzir a sucessão ecológica e as mudanças no solo que acontecem quando o pasto em áreas desmatadas é ativamente restaurado para a floresta. O objetivo era estudar como as TPIs, ou, em última análise, os solos dos quais o microbioma foi composto artificialmente, podem impulsionar esse processo.
Zagatto e os colegas coletaram amostras de TPI da Estação Experimental de Pesquisa Caldeirão, no Amazonas, e como controle, solo agrícola da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiróz, no estado de São Paulo. Eles encheram cada um dos 36 potes de quatro litros com três de terra, em uma estufa com temperatura média de 34ºC para antecipar o aquecimento global além das temperaturas atuais na Amazônia, entre 22ºC e 28ºC.
Um terço dos vasos recebeu apenas solo controle, outro terço uma mistura 4:1 de solo controle e TPI, e outro terço 100% da terra preta. Para imitar o pasto, plantaram sementes de capim braquial (Urochloa brizantha), uma forragem comum para a pecuária, em cada recipiente e deixaram suas mudas crescerem por 60 dias.
A equipe, então, cortou a grama e deixou apenas suas raízes no solo — território virgem para reflorestamento em miniatura. Em seguida, os pesquisadores replantaram cada um dos três solos com sementes de árvores: seja com a espécie colonizadora embaúba (Cecropia pachystachya ); com angico amarelo (Peltophorum dubium), típico de florestas secundárias, ou com cedro-branco (Cedrela fissilis), típico da floresta.
Fonte: Correio Braziliense