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Seres microscópicos estão encobrindo casas, carros e plantas em uma cidade dos Estados Unidos; na literatura científica, não há evidências de que esse tipo de fungo pode causar problemas de saúde em animais e humanos.
Um fungo que cresce em filamentos e espalha uma fuligem preta sobre as superfícies, podendo destruir materiais como madeira, vem assustando moradores de uma cidade dos Estados Unidos. Seu nome científico é Baudoinia compniacensis, mas é popularmente conhecido por fungo do uísque.
O motivo? Ele se alimenta de vapor de etanol. Quanto mais álcool, mais o fungo se expande e se espalha: com uma coloração preta e textura aveludada, consegue formar uma crosta entre 1 e 2 cm de espessura e crescer em várias superfícies, como casas, plantas e carros.
"O metabolismo do Baudoinia compniacensis permite que ele obtenha carbono a partir dos vapores alcoólicos da destilação, e quanto mais etanol, mais eles crescem. Podemos dizer que basicamente eles conseguem 'comer' etanol", explicou ao g1 o biólogo Dhiordan Lovestain.
O que é o fungo do uísque?
Segundo Lovestain, o fungo do uísque é do tipo saprófita (que se alimenta de matéria morta) e faz parte de um grupo de fungos chamados de fungos negros. "Eles possuem uma habilidade incomum de obter fontes de carbono de formas atípicas, porque habitam em locais que não possuem muitas alternativas", explica.
Um dos primeiros relatos de ataque do fungo é de 1870 na França, próximo a uma destilaria de conhaque, feito por Antonin Baudoin. O nome científico do fungo é em sua homenagem.
• O fungo do uísque já foi encontrado nas Américas, Europa e na Ásia;
• Ele aparece com mais frequência em climas úmidos, como regiões ribeirinhas e costeiras;
• Mas são predominantemente encontrados em áreas urbanas e locais onde ocorre fermentação, como perto de destilarias ou padarias.
"Vale destacar que normalmente o fungo não cresce no ambiente interno da área de destilação, mas sim nas áreas externas dos armazéns", diz o biólogo.
Moradores de Lincoln County, no estado do Tennesse, relataram em uma reportagem do The New York Times que a infestação do fungo na cidade está relacionada a um armazém da fabricante de bebidas Jack Daniel's, localizado na região. Por lá, estão barris de carvalho que abrigam o famoso uísque durante o processo de envelhecimento da bebida.
Um casal, dono de uma propriedade que fica a 250 metros de um dos barris, contou ao jornal que o fungo já encobriu o telhado da casa, as paredes externas, o portão de metal, as plantas do jardim e placas de trânsito próximas. Eles lavam o local a cada três meses com água e alvejante, mas o fungo sempre volta, segundo o relato.
Quais são os danos?
De acordo com o biólogo Dhiordan Lovestain, ainda não se sabe como o fungo do uísque afeta as estruturas que são tomadas por ele. Mas é um fungo capaz de decompor madeira, por exemplo, dada a sua origem evolutiva. Já para o meio ambiente, a situação é mais grave.
"Uma grande quantidade destes fungos pode levar a planta recoberta à morte, principalmente se houver crescimento sobre as folhas. Além do fato de fungos negros serem muito conhecidos por causarem diversas doenças em plantas", explicou.
Na literatura científica, não há dados que mostrem que a exposição ao fungo do uísque pode causar danos à saúde de animais e humanos. Mas o Instituto de Saúde de Indiana (EUA) recomenda que se use máscaras do tipo N95, óculos de proteção e luvas para removê-lo das superfícies.
"O maior impacto dele é principalmente na qualidade do ambiente, dada a sua poluição nos arredores da destilação", afirmou o biólogo Dhiordan Lovestain.
Porém, o especialista alerta que o Baudoinia compniacensis possui características que poderiam torná-lo um invasor oportunista do corpo humano, principalmente em imunossuprimidos com contato direto com o fungo. Isso porque ele é muito resistente a altas temperaturas.
"É uma coisa que poucos fungos possuem, por isso poucos fungos conseguem nos infectar, dada a nossa alta temperatura corporal", afirma.
"Porém, precisamos ainda de estudos neste ramo para poder avaliar se isso realmente seria possível na prática e como aconteceria. Não temos evidências disso acontecendo até o presente momento", avalia o biólogo.
Da mesma "família" do Baudoinia compniacensis vem o Sporothrix, um tipo de fungo que vive no solo e causa esporotricose, uma doença fúngica emergente no Brasil que pode se manifestar em humanos e em animais. Em gatos, é caracterizada pelo aparecimento de feridas profundas na pele que não cicatrizam e se espalham rapidamente.
Fonte: Por Marina Pagno, g1