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Aumento populacional ocasionado pela construção da fábrica tem causado problemas à cidade
Na manhã da terça-feira (14), o governador Eduardo Riedel visitou a fábrica da Suzano, em Ribas do Rio Pardo, cidade localizada a aproximadamente 100 quilômetros de Campo Grande.
O município vem enfrentando problemas, como falta de moradias e alto preço dos aluguéis, em decorrência do aumento populacional ocasionado pela construção do maior investimento privado do Brasil, a fábrica de celulose da Suzano.
"Este é o maior investimento privado do Brasil neste momento, no valor de R$ 19 bilhões. Mas mais importante que esse número é o investimento no social. A Suzano está muito comprometida com o futuro de Ribas", declarou o presidente da Suzano, Walter Schalka.
Eduardo Riedel colocou os secretários à disposição para atender as necessidades do município, e reforçou a importância do projeto para Mato Grosso do Sul.
"Vamos dar as mãos. Coloco o Governo do Estado à disposição do município, completamente aberto a novos desafios", propôs o governador.
Essa foi a primeira agenda de Riedel no interior do estado.
"É a primeira cidade que eu visito. Não é à toa. Aqui o desenvolvimento é muito acelerado. Um projeto dessa envergadura não é simples. Eu trouxe os secretários para ver de perto tudo isso. Esse é o time que no dia a dia vai destravar os problemas. Mato Grosso do Sul está 100% focado no lema: próspero, inclusivo - para isso a qualificação profissional -, digital e com absoluta responsabilidade ambiental", disse o governador.
Falando em nome dos secretários, Jaime Verruck, secretário de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc) destacou a importância da reunião ampliada para alinhar demandas e ações.
"Temos aí praticamente dois anos para fazer uma força tarefa para execução de medidas que garantam o crescimento ordenado da cidade e o investimento dentro da lógica de sustentabilidade, governança e gestão que integram os princípios da Suzano e são a marca do governo Riedel, assim como crescer com prosperidade gerando empregos e renda".
O prefeito João Alfredo participou da visita com os secretários municipais.Também participaram da agenda os secretários Pedro Arlei Caravina (Governo e Gestão Estratégica), Eduardo Rocha (Casa Civil), Hélio Peluffo (Infraestrutura e Logística), Antonio Carlos Videira (Justiça e Segurança Pública), Patrícia Cozzolino (Assistência Social e Direitos Humanos) e Hélio Daher (Educação), além da secretária-adjunta Crhistinne Cavalheiro Maymone Gonçalves (Saúde) e do diretor-presidente da MSGÁS, Rui Pires dos Santos.
Realidade
A equipe do Correio do Estado esteve em Ribas do Rio Pardo na última segunda-feira (13), e constatou que a elevada movimentação de pessoas envolvidas com a construção do Projeto Cerrado, da empresa Suzano, divide espaço com as falhas na expansão habitacional em diversas regiões da cidade.
Após o início da construção da fábrica de celulose, em 2021, o município recebeu uma migração intensa de trabalhadores, os quais enxergaram no local oportunidades de emprego.
Entretanto, o crescimento de habitantes resultou em um efeito cascata de falta de casas suficientes para acomodar os novos moradores, o que fez disparar os preços dos aluguéis.
Conforme apurado pela reportagem, com a valorização do preço cobrado pelo aluguel de imóveis, diversos inquilinos não conseguiram pagar o novo valor. Como consequência, diversas famílias ocupam moradias irregulares e sem estrutura básica.
De acordo com a prefeitura de Ribas do Rio Pardo, atualmente, pelo menos 400 famílias vivem em terrenos públicos invadidos, desencadeando o surgimento e a expansão das favelas.
Morador há seis anos na favela, Thiago Ribeiro, 29 anos, relatou que nos últimos meses houve aumento de famílias na mesma situação de vulnerabilidade habitacional.
“Vieram pessoas de longe para cá para trabalhar na fábrica, que não tinham casa na cidade e tiveram que erguer moradia aqui na invasão”, relatou Ribeiro.
A mesma situação se repete para quem já era morador de Ribas do Rio Pardo.
“Chegou a vir gente por causa do preço dos aluguéis também, que está um absurdo. Fui ver uma casa alugada na esquina custando R$ 15 mil”, acrescentou.
Thiago também contou à reportagem as dificuldades de permanecer na ocupação urbana.
“Aqui, o acesso à água e à energia é difícil, a geladeira não faz gelo porque a energia é muito fraca e o ventilador não pega direito porque os fios são remendados”, relatou o morador.
Em conversa com o prefeito da cidade, João Alfredo Danieze (Psol), sobre o impacto do empreendimento bilionário no município, ele foi enfático ao relatar que a Suzano não está cumprindo com a devida urgência o projeto de mitigação dos impactos causados pela construção da fábrica de celulose por meio do Plano Básico Ambiental (PBA).
“Estamos precisando de obras urgentes na infraestrutura. Até então, só conseguimos realizar a instalação de semáforos e lotes urbanizados para construção de casas”, disse.
“A cidade está cheia de buracos, o tráfego de caminhões piorou as condições das estradas, estamos tentando fazer recapeamentos e pavimentações. Não temos máquinas e equipamentos suficientes para isso, por isso tenho dito que estamos caminhando para o caos”, complementou o prefeito.
Ao Correio do Estado, o diretor de Engenharia do Projeto Cerrado, Maurício Miranda, explicou que os investimentos da Suzano em 25 projetos definidos via conselho de desenvolvimento sustentável no PBA são projetados para impactar a cidade após o início operacional da fábrica, e não durante a execução da obra.
“O PBA pode atender à execução da obra, mas ele demanda fortemente as questões de operação futura da própria planta. A partir disso, são em torno de 25 projetos que a Suzano se comprometeu a executar. Nós trabalhamos logicamente nessa frente, para atender aquilo que o conselho priorizou, e é o que nós temos feito”, destacou Miranda.
GERAÇÃO DE EMPREGOS
A construção do Projeto Cerrado deve criar cerca de 10 mil empregos em um município que, segundo o Censo 2022, tem apenas 25 mil habitantes.
William Lima dos Santos Scarpa, 32 anos, é natural de Bauru (SP) e é um dos hoteleiros que abriram negócio em Ribas do Rio Pardo, para prestar atendimento aos trabalhadores da fábrica.
Em entrevista ao Correio do Estado, William informou que o hotel foi construído em poucos meses, com início em novembro de 2021 e término em outubro do ano passado.
“Eu vim para Ribas porque faço parte de um grupo que já estava monitorando o crescimento da cidade por conta da construção da fábrica da Suzano. Basicamente, com o tempo, fui construindo essa ideia de vir para cá”, disse.
O hoteleiro, que tem experiência na área há seis anos, disse que já tem 320 clientes hospedados no seu estabelecimento, que é dividido em dois prédios na cidade.
Por ser de fora do Estado, William foi questionado em entrevista sobre a recepção dos moradores da região aos novos habitantes. Ele relatou que existe, sim, uma certa rejeição dos rio-pardenses ao aumento do movimento na cidade.
“Houve rejeição dos moradores aqui e eu acredito que foi por conta do aumento exagerado do preço das coisas, que chegaram a ficar três vezes mais caras. Eu tenho funcionários que em 2021 pagavam de R$ 300 a R$ 400 reais de aluguel, mas os donos dos imóveis viram que a demanda cresceu e reajustaram o valor para R$ 3 mil por mês”, salientou.
Colaborou: Judson Marinho, Mariana Moreira
Alanis Netto
Fonte: correiodoestado.com.br