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Notícias

22
nov
2005
(GERAL)
Floresta plantada ajuda a preservar mata nativa
Plantar as árvores que se pretende cortar é uma das melhores maneiras de se preservar as florestas nativas e garantir o desenvolvimento sustentável. A silvicultura, ou cultivo de floresta, é considerada, há pelo menos 50 anos, a melhor forma de se obter celulose. Hoje, apesar de uma pequena quantidade feita pela reciclagem, a maior parte da produção de papel é proveniente de áreas reflorestadas.

Dados da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) mostram que, dos 850 milhões de hectares do território nacional, aproximadamente 550 milhões são cobertos por florestas nativas e 6 milhões por florestas plantadas. Cerca de dois terços das florestas nativas são formados pela Amazônica; o restante, por cerrado, caatinga, Mata Atlântica e ecossistemas associados. A superfície de florestas do Brasil equivale a 14,5% da superfície florestal mundial.

Graças ao solo e clima favoráveis, a variedade de árvores e ao empenho dos pesquisadores, que criam diferentes métodos de cultivo e melhoram geneticamente as espécies cultivadas, a produtividade das florestas plantadas no Brasil supera a média mundial.

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, considera importante salientar que as florestas plantadas - tanto as de uso comercial como as com o fim de proteção, recuperação ou recomposição de áreas degradadas - cumprem direta ou indiretamente uma função importante de proteção da biodiversidade. Também ajudam na prevenção e controle de incêndios, proteção da água e do solo em situações frágeis e captação de carbono, entre outros serviços.

Para ela, o cultivo de floresta pode ser caracterizado como “o plantio de árvores, acrescido de valores ambientais, sociais, culturais, tecnológicos e econômicos”. A ministra defende que as florestas plantadas seguem o princípio da sustentabilidade e se diferenciam pela menor intensidade no uso do solo e de defensivos, pelos ciclos mais longos e pela a manutenção de Áreas de Preservação Permanente.

A integração com as Áreas de Reserva Legal, a manutenção das áreas protegidas na constituição de corredores ecológicos, a implantação de procedimentos de colheita de baixo impacto e a promoção do uso múltiplo dos produtos e serviços são outras características da silvicultura, que não pode ser comparada ao simples plantio de árvores, afirma a ministra.

Controvérsias

Apesar do grande potencial brasileiro para a produção de florestas cultivadas, muitos ambientalistas são contra às plantações em larga escala de espécies exóticas como pinus e eucalipto. Eles acreditam que o plantio de árvores que não recompõem a mata nativa trará como efeito colateral negativo a ''desertificação'' das florestas.

No caso do eucalipto, vários são os argumentos contrários ao plantio. Um deles é a retirada de água do solo, que leva a um balanço hídrico deficitário, com rebaixamento do lençol freático e até mesmo o desaparecimento de nascentes. Ecologistas citam também os efeitos danosos sobre outras formas de vegetação, o que pode ocasionar a extinção da fauna e a baixa geração de empregos depois de passada a fase de implantação da floresta.

O presidente da Confederação Nacional do Comércio, Antonio Oliveira Santos, acredita, no entanto, que todos esses aspectos devem ser analisados quando se pensa na relação custo/benefício das indústrias baseadas na floresta plantada: “Do outro lado da balança temos as condições de clima e período de luz solar que nos dão uma vantagem absoluta, em relação a outros países”.

A velocidade do ciclo de vida das plantas de reflorestamento é um fator positivo que se pode destacar. Enquanto o eucalipto – produzido no Brasil - leva de sete a 10 anos para se desenvolver e estar pronto para o corte, outras árvores usadas na Europa, por exemplo, para a fabricação de papel e celulose, têm um ciclo 10 vezes maior.

Carbono

Além de baratear a produção, evitar o desmatamento e preencher campos já devastados, as áreas de reflorestadas também podem colaborar para minimizar o aquecimento global, porque as florestas cultivadas são mais eficientes que as adultas no seqüestro de carbono da atmosfera; ou seja, a retirada de do CO2 do ar – principal responsável pelo efeito estufa.

“Como estão em permanente crescimento, as árvores plantadas consomem mais carbono que as florestas que chegam ao clímax, onde há um equilíbrio entre a quantidade de CO2 consumido durante a fotossíntese para fabricar glicose e o liberado pela respiração. Além do carbono usado para se alimentar, elas fixam a substância na forma de madeira” – é o que informa a revista Galileu na reportagem “Florestas que salvam florestas”.

O papel das indústrias

O presidente da Associação Brasileira de Produtores de Florestas Plantadas (Abraf), Carlos Augusto Lira Aguiar, estima que cerca de 5,5 milhões de hectares são ocupados com florestas plantadas no Brasil. Ele calcula que outros 1,6 milhão de hectares de florestas nativas são preservadas pelas empresas que compõem a Abraf - indústrias do setores de papel e celulose, siderurgia a carvão vegetal, painéis de madeira e móveis e produtos de madeira sólida; pois têm suas atividades baseadas na madeira produzida em florestas plantadas.

Apesar de enfatizar as vantagens da silvicultura para o Brasil, Aguiar, admite que o setor cometeu alguns erros no passado, entre eles, o uso "desapropriado" de fertilizantes e o desmatamento. "Todo mundo tem seus erros, mas há muito tempo não se mexe em um milímetro cúbico de mata nativa", afirma, reforçando que as empresas do setor não desmatam a Amazônia.

O setor de florestas plantadas é responsável por um faturamento anual de U$ 17 bilhões. Números da Abraf indicam que cerca de 2,5 milhões de trabalhadores são empregados na atividade. As exportações dos segmentos que se beneficiam da madeira produzida nas florestas plantadas somaram, em 2004, U$ 5 bilhões, o que posiciona o setor como segundo colocado no ranking dos produtos agrícolas mais exportados, atrás apenas do complexo soja.

Insuficiente

Apesar dos indicadores positivos, a base produtiva na Amazônia vem sendo rapidamente deprimida. A cada ano são perdidos, em média, 2 milhões de hectares de floresta nativa para a agricultura e a pecuária. Dados da Embrapa comprovam que as áreas de floresta plantada diminuíram ao longo da década de 90 em 121 mil hectares por ano. Ainda hoje, de cada três metros cúbicos de madeira consumidos no Brasil, somente um provém de floresta plantada.

A insuficiência de informações técnicas sobre o manejo correto das florestas e a falta de sistematização de informações para que se possa avaliar a produção impedem as melhorias no setor florestal e a garantia de maior sustentabilidade em todas as etapas da cadeia produtiva dos sistemas silviculturais.

Perspectivas

Especialistas, reunidos recentemente no Espírito Santo, debateram a questão florestal brasileira. Eles acreditam que, se os estados brasileiros com vocação para o plantio de florestas renováveis não retomarem a atividade, especialmente em áreas já degradadas ou em processo de degradação, não apenas o país, mas o planeta, em breve, pode passar por um colapso de madeira.

O governador do Espírito Santo, Paulo Hartung, afirma que “não podemos ter medo do debate e sim do preconceito, principalmente quando ele vai do presente para o futuro”.

Hartung diz que é necessário intensificar o debate nacional sobre o plantio de florestas, para que governos e estados possam aproveitar as oportunidades que estão surgindo mundialmente nos setores de madeira, celulose e papel: “A madeira é uma matéria-prima necessária aos mais variados segmentos da economia. Se quisermos preservar o resto de Mata Atlântica e outros ecossistemas que ainda temos, precisamos produzir madeira. E isso pode ser feito de maneira sustentável, sem a destruição da natureza. Pelo contrário, ajudando na sua recuperação de forma consorciada com o setor produtivo e participação das comunidades no entorno”, conclui.

Fonte: Carbono Brasil

Fonte:

Jooble Neuvoo