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Por mais pretensioso que isso possa parecer, podemos afirmar sem medo que o bambu é dos materiais mais promissores para a indústria da construção civil. Neil Thomas, engenheiro diretor do atelier one, afirma que, se projetássemos um material de construção ideal, ele se pareceria muito com o bambu. Isso porque ele cresce muito rapidamente em boa parte do mundo, possui uma seção transversal altamente eficiente e apresenta uma resistência à cargas impressionante. Mas, além do uso estrutural em seu formato bruto, o bambu é um material que permite alto nível de processamento, podendo ser laminado para pisos, utensílios e, como veremos neste artigo, para estruturas de Structural Engineered Bamboo (SEB), que se assemelham muito às de Madeira Engenheirada. Conversamos com Luke D. Schuette, fundador e CEO da ReNüTeq Solutions, LLC, empresa de St. Louis, Missouri, que vem trabalhando com este sistema construtivo.
O bambu engenheirado é formado a partir dos colmos brutos de bambu, que através de pressão e calor conforma um composto laminado que então é colado para formar peças estruturais. No caso da Renüteq, o processo de preparação das ripas e o produto acabado são patenteados especificamente para aplicações estruturais em edifícios, chamado de Radial Laminated Bamboo. O Radlam® otimiza a mais alta performance das fibras do colmo, removendo as fibras de menor resistência antes da laminação, aumentando a eficiência durante a produção e reduzindo o desperdício. As principais aplicações do SEB são sistemas estruturais (pilares e vigas); sistemas de vidro estruturais para edifícios (para entradas, coberturas, sistemas de fachada), bem como paredes cortinas e esquadrias de chão a teto.
Cortesia de ReNüTeq
Ainda que os usos sejam similares, segundo Luke, “do ponto de vista estrutural, o SEB é muito mais forte do que qualquer exemplar de madeira engenheirada no mercado. O módulo de elasticidade do SEB da Renüteq é superior a 4 milhões de psi, o dobro da força de qualquer produto de madeira engenheirada ou de Glulam. Em tensão, é mais de 10 vezes mais forte devido ao teor de fibra de sílica contínua em todo o bambu. A maior densidade do SEB é ideal para as conexões, pois a fibra de madeira esmaga nos parafusos, enquanto o bambu mantém sua forma sob maior compressão.” Por ser 40% mais denso que a madeira engenheirada, isso também torna as estruturas de bambu com desempenho de incêndio significativamente melhor que a madeira, pois sua taxa de carbonização é muito mais lenta. “O bambu, em seu nível celular, é mais fechado que a fibra de madeira, o que o torna muito mais estável nas mudanças de umidade e temperatura. O SEB é mais de 28% mais estável que a madeira engenheirada em condições voláteis, tornando-o ideal para sistemas estruturais e suportes de vidro. "
Além da parte estrutural, o bambu carrega algumas vantagens em relação ao seu impacto ambiental. Luke aponta que uma plantação de bambu produz 37% mais oxigênio do que as florestas tradicionais. “O bambu não apenas sequestra carbono, mas também produz oxigênio à medida que cresce, até 37% mais do que as árvores. Durante a revolução industrial e até hoje, quantidades enormes de árvores foram removidas em todo o mundo. A construção em madeira é considerada sustentável quando comparada ao concreto e aço, mas não está nem perto do caso de sustentabilidade do bambu, especialmente quando é responsável pelo esgotamento das florestas naturais.” O bambu possui uma curva de crescimento geométrico que o torna 10x mais rápido que o retirado de CO2 baseado em árvores. Colhido intensamente, pode sequestrar até 1,76 tons de CO2/grupo/ano, ou até 362 tons/hectare/ano em uma fazenda gerenciada de maneira ideal. Os produtos da Renüteq são produzidos com a espécie Guadua, cultivada na América Latina e possui certificação da ASTM (American Society of Testing Materials).
Além disso, outro fator a se levar em conta é a qualidade do solo, algo que nem sempre é mencionado. Segundo Luke, “o sistema radicular do bambu permanece intacto durante todo o crescimento e corte. Quando a madeira é colhida, o sistema radicular morre e causa instabilidade drástica do solo, e a consequência é a erosão. Casos extremos disso ocorreram em todo o mundo em lugares como Índia, Ásia, África e América Central/do Sul. Quando as fazendas antigas de madeira são derrubadas, o solo superficial de qualidade é perdido e o crescimento de qualquer forma de vegetação é limitado. Replantar árvores não é a solução. Vamos derrubar menos.” Sobre isso, ele traz uma citação de Sahdguru, fundador da Conscious Planet, na Índia: "Salve o solo para salvar o ambiente. A degradação do solo é o desafio ecológico mais premente de nosso tempo. A agricultura só pode prosperar em solo rico - simplesmente não há nenhuma outra maneira. A regeneração do solo é a revigoração da vida. "
O único obstáculo para a massificação do bambu engenheirado, segundo Luke, ainda se dá quanto ao conhecimento das soluções e de exemplos de edifícios e projetos de produtos já concluídos com este material, junto à conscientização sobre o desempenho principal e as vantagens de sustentabilidade sobre outros materiais de construção estruturais.
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Eduardo Souza
Autor
Fonte: Meu ArchDaily