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Na Fazenda Muniz, no Maranhão, produtor adota Integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) e transforma pastos degradados em um sistema de alta lotação com manejo sustentável
Na Amazônia maranhense, região em que predominam a pecuária extensiva e os pastos degradados, a transição para manejos sustentáveis de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) vem transformando realidades. Na Fazenda Muniz, em Pindaré-Mirim (MA), o engenheiro agrônomo e produtor Luciano Muniz passou a investir no sistema em 2015.
Hoje, a propriedade de 200 hectares que pertence à sua família mantém uma Unidade de Referência Tecnológica (URT). Em uma área de 15 hectares, são realizados experimentos e o pecuarista recebe pesquisadores e alunos da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA).
A mudança no manejo começou na safra 2015/2016, quando foram iniciados a correção do solo e o cultivo de eucalipto. Com o solo corrigido, Muniz implantou lavoura de milho em plantio direto. “Inicialmente, a ideia foi produzir palhada para adotar o plantio direto. Entendemos que a técnica seria a melhor diante das características e necessidades do nosso solo arenoso”, explica.
O pecuarista decidiu, então, consorciar o plantio do cereal com o capim que serve de pastagem para o rebanho. Quando passou a fazer essa combinação, a taxa de lotação na área estava em 0,7 UA (unidade animal) por hectare, enquanto a produção de carne era de 30 quilos ha/ano.
Depois de dois anos de lavoura e com a nova pastagem implantada, a taxa de lotação foi elevada para 5 UA por hectare e a produção de carne chegou a 405 quilos ha/ano, ou seja, 13,5 vezes acima do volume obtido anteriormente. O rendimento equivale ao primeiro ano de pastejo do gado. “A integração representa uma ilha em meio a uma imensidão de áreas degradadas”, frisa o produtor.
Custos e receitas
Na safra 2015/2016, quando iniciou a implantação do sistema, Muniz teve um custo operacional efetivo de R$ 5.350,18 por hectare e receita de R$ 5.985,00. Já no ciclo seguinte, o custo foi de R$ 3.870,00 por hectare, e a receita somou R$ 5.880,00. Nas safras seguintes, o pecuarista não teve custos com a pastagem. No entanto, a receita caiu para R$ 1.740,00 por hectare na temporada 2020/21 devido à condição do pasto.
Agora, ele se prepara para reiniciar o ciclo da ILPF, já que o pasto está completando cinco anos e é preciso evitar que entre em estágio de degradação. Nos próximos meses, também será feito o segundo corte do eucalipto – o primeiro foi feito em 2020 e a produção foi destinada para lenha. E, em dezembro de 2023, será realizado novamente o cultivo de milho consorciado com capim.
Caravana ILPF
Como professor e defensor do associativismo, Luciano Muniz trabalha em conjunto com a Embrapa Cocais (Diamante-MA) para levar informação a outros pecuaristas da região. Nesta segunda-feira (7/11), a Fazenda Muniz recebeu a Caravana ILPF, promovida pela Rede ILPF e Associadas (Bradesco, Cocamar, John Deere, Soesp, Syngenta e Embrapa).
A expedição técnica e científica vai percorrer ao longo dessa semana mais de 1.000 quilômetros entre os Estados do Maranhão e do Piauí em atividades de difusão da tecnologia e em diagnósticos regionais para a possível implantação de arranjos produtivos.
“Nosso objetivo é passar pelas localidades e deixar um legado que resulte na implantação de projetos”, afirma o pesquisador da Embrapa Gado de Leite Marcelo Müller, coordenador da Caravana.
Potencial
No Maranhão, são mais de 5 milhões de hectares com pastagens. Em torno de 95% estão em algum estágio de degradação. “Apenas pouco mais de 2% dessa área conta com integração, o que significa que temos um potencial muito grande”, sustenta o pesquisador Joaquim Costa, da Embrapa Cocais.
Na opinião do especialista, é fundamental que o pecuarista faça as contas e reflita sobre uma mudança de atitude. “Estamos trabalhando diretamente com os produtores e realizando dias de campo em unidades de referência tecnológica justamente para explicar sobre as possibilidades. Ao mesmo tempo, precisamos provocar os governos e as empresas para que exista um maior incentivo a esse manejo sustentável”, diz.
A estimativa é de que os sistemas integrados estejam presentes em 17,4 milhões de hectares nos diferentes biomas do país. O propósito da Rede ILPF é expandir a tecnologia para 35 milhões de hectares até 2030, além de diversificar os sistemas de produção e aumentar a representatividade do componente florestal.
A integração é uma das práticas incentivadas pelo Plano ABC+, de agricultura de baixa emissão de carbono, e pode ajudar o Brasil em suas metas ambientais firmadas junto à comunidade internacional.
Por Denise Saueressig — de Pindaré-Mirim (MA)
Fonte: Globo