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Do "ocupar para não entregar" ao "florestas produtivas são florestas em pé", a Amazônia passou por um processo de desenvolvimento baseado em conceitos externos à realidade local
A Amazônia Legal brasileira foi ocupada por populações tradicionais até meados dos anos 1960. Depois disso, predominou a visão de que a região deveria ser "ocupada", como se lá não existissem pessoas morando há séculos. Essa mudança se deu por fatores políticos, econômicos e culturais, e gerou uma nova percepção e uma nova maneira de interagir com a floresta.
Do "ocupar para não entregar", lema que vigorou durante a ditadura militar, ao "florestas produtivas são florestas em pé" de hoje, a Amazônia passou por um processo de desenvolvimento baseado em conceitos externos à realidade local. Embora programas como o Luz para Todos, que leva eletricidade a comunidades remotas, tenham tido um impacto positivo importante para seus habitantes, a importação de modelos alheios ao complexo cenário amazônico produziram externalidades negativas em larga escala. A maior delas é o desmatamento.
Como ferramenta para auxiliar na preservação da biodiversidade da floresta e todo o ecossistema para a regulação climática, foi criado o monitoramento por satélite do desmatamento da Amazônia Legal (Prodes). Este é o dado oficial sobre o desmatamento que vem sendo validado pela comunidade científica como uma fonte confiável desde o início dos cálculos das taxas de desmatamento em 1988.
O pico de desmatamento da Amazônia se deu nos anos 90. Em 1995, 29.059 quilômetros de floresta foram destruídos, o recorde da série histórica. A partir dos anos 2000, o índice começou a cair, se estabilizando em cerca de 7 mil quilômetros quadrados. Porém, nos últimos anos, o desmatamento voltou a crescer e, atualmente, está próximo do volume de destruição registrado há quase duas décadas.
Para acompanhar esse processo, a EXAME lançou, há dois anos, o projeto A Amazônia em EXAME, que traz relatórios e reportagens sobre o desmatamento, os caminhos e as soluções disponíveis para promover um desenvolvimento sustentável da região. Confira, a seguir, um resumo do mais recente trabalho, que mostra a evolução das taxas de destruição da floresta. O conteúdo completo pode ser acessado no site do projeto.
Como funciona o Prodes?
O monitoramento é realizado em toda a área de floresta dentro da Amazônia Legal. De forma que ele mantém uma compatibilidade entre os diferentes anos da série, a fim de possibilitar o acompanhamento e a evolução do desmatamento. Ou seja, a cada ano é identificado o desmatamento e calculado a taxa de crescimento do período.
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A evolução das taxas de desmatamento
De 1988 a 2020 foram subtraídos 457.474 quilômetros quadrados de floresta, o equivalente a quase duas vezes a área do estado de São Paulo. No entanto, há uma grande variação nas taxas anuais de desmatamento ao longo dos anos, influenciada por um conjunto de fatores ambientais, socioeconômicos e políticos.
A maior parte do desmatamento ocorreu na região conhecida como “arco de desmatamento”, que se estende entre o sudeste do Maranhão, o norte do Tocantins, o sul do Pará, o norte de Mato Grosso, Rondônia, o sul do Amazonas e o sudeste do Acre. Porém, com o passar dos anos, foi avançando para outras regiões, especialmente ao longo do estado do Pará.
Entre os anos de 1988 e 2002 a área média desmatada por ano foi de 17.353 quilômetros quadrados, com um grande pico em 1995, quando foram registrados 29.059 quilômetros quadrados desmatados, a maior taxa de toda a série histórica do Prodes.
Em 2004, o desmatamento teve o seu segundo maior pico. A partir de 2005, a região vivenciou uma queda nas taxas de desmatamento. De 2009 a 2018, o desmatamento se estabilizou em 7 mil quilômetros quadrados anuais. De 2011 a 2015, o desmatamento teve o menor índice. Mas, nesse período, o padrão de desmatamento mudou para remoção de vegetação em áreas menores e mais esparsas.
Porém, as áreas desmatadas em 2019 e 2020 são de 10.129 e 10.851 quilômetros quadrados, respectivamente, alcançando valores próximos aos de 2008. Essa tendência de alta requer atenção, especialmente em um cenário mundial em que a importância das questões ambientais é crescente e diferentes setores da sociedade têm buscado conciliação entre desenvolvimento econômico, bem-estar social e conservação ambiental.
Gráfico interativo: veja a evolução do desmatamento por estado
Fernanda Bastos
Fonte: Exame