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Projeto é executado pela Embrapa em parceria com o Fundo JBS pela Amazônia. Com o uso da tecnologia, pesquisadores pretendem ter análises mais profundas das áreas exploradas.
A extração legal de madeira é uma das atividades que mais impactam na balança comercial do Acre. Em diversas áreas, em sua maioria propriedade privada, é feito o manejo florestal para que essa área sofra o menor impacto possível com a exploração da madeira e outros produtos florestais. Agora a Embrapa vai fortalecer esse trabalho usando geotecnologias.
A segunda etapa do projeto Geoflora, em parceria com o Fundo JBS pela Amazônia, será executada em seis estados da Amazônia (Acre, Rondônia, Roraima, Amapá, Pará e Amazonas). O objetivo é empregar tecnologia no planejamento e execução de inventários florestais para o manejo de precisão.
Além disso, pretende também quantificar carbono represado nessas áreas e que, futuramente, também possam ser comercializados.
Para a exploração legal de madeira, é preciso ter um plano de manejo florestal (PMF), que estabelece a exploração sustentável de determinada área respeitando os mecanismos de sustentação do ecossistema e possibilitando, inclusive, utilização de múltiplas espécies madeireiras.
Normalmente, esse trabalho é feito ainda com pessoas em campo que avaliam essa área e fazem todo esse trabalho de forma manual. Agora, com o projeto, a ideia é usar drones e outras tecnologias que possam automatizar esse trabalho.
“O projeto visa gerar soluções tecnológicas para diminuir os custos e aumentar o rendimento de todas as etapas do manejo florestal, então, ferramentas como uso de drones para mapeamento de alta resolução da floresta e Lidar [Light Detection And Ranging], que é um tipo de escaneamento a laser, permitem o barateamento dos inventários florestais necessários para aprovação dos planos de manejo florestal, assim também como o planejamento de todas as operações florestais e, como consequência disso, a execução dos planos também é facilitada, uma vez que todas as atividades de campos elas ficam disponíveis para as equipes em formato digital”, explica Marcus Vinicio Neves, doutor em Manejo de Florestas Nativas da Embrapa.
Quantificação
A partir desse trabalho, as equipes conseguem ter acesso a essas informações no campo. Além disso, o monitoramento dessas áreas com a tecnologia vai ser mais detalhado, como forma de avaliar também o impacto dessas atividades.
“O monitoramento da floresta pós exploração também pode ser feito de forma integral e em alta resolução, permitindo que seja estimado com precisão os danos ocasionados durante a extração das toras e no topo de tudo uma avaliação da qualidade da execução do projeto”, completa.
Desta maneira, o estudo vai além de ter estimativas de biomassa e volume de madeira resultantes da execução dos inventários florestais, que são feitas por sensores remotos, será possível a quantificação e a distribuição dos danos produzidos na floresta pelas operações florestais.
“Isso permite que a gente não tenho apenas só uma avaliação da qualidade da execução do manejo, mas também com repetições de voos de drones sobre essa mesma floresta durante anos, a gente pode acompanhar o desenvolvimento, o crescimento dessa floresta no intervalo do ciclo, para a gente saber quando ela está pronta para ser cortada novamente”, destaca.
Barateamento do processo
Para o pesquisador, o uso dessa geotecnologia é aliar um planejamento com menos danos à floresta e também dar o benefício de um barateamento desse processo.
“O próprio dimensionamento de estrada permite baratear o custo da implementação dessas estruturas e também otimizá-los, então você vai ter menos estrada e, por consequência, menos danos. Uma coisa que eu acho fundamental é a parte de monitoramento, porque essa avaliação, que nós podemos fazer de forma repetida ao longo do tempo, é que vai dar pra gente o termômetro de como a floresta está reagindo ao tratamento que foi aplicado”, enfatiza.
Estoque de carbono
Será possível também, além de se ter um relatório detalhado de volume de madeira, quantificar o carbono produzido nessa área para, talvez futuramente, isso ser vendido.
O comércio de carbono funciona da seguinte forma: empresas que emitem gases nocivos à atmosfera podem compensar a sua poluição adquirindo títulos verdes, gerando, assim, créditos de carbono. Essa negociação é feita no chamado mercado de carbono. O dinheiro usado nessa troca vai para a conservação de florestas públicas ou privadas.
“Da mesma forma que a gente controla o crescimento da floresta em termos de volume, que é o volume de madeira comercial, nós acompanhamos por conta disso também os estoques de carbono. Existe uma chance, isso não acontece hoje ainda, mas é uma possibilidade para o futuro que, por ser uma forma de desmatamento evitado, a gente consiga vender esse carbono no mercado de carbono. Hoje isso não é possível porque os planos de manejo florestal são executados em áreas de reserva legal e essas áreas não são consideradas aptas para esse tipo de comércio, mas em outras áreas isso é possível”, destaca.
A área de reserva legal é a parte de qualquer propriedade de terra na Amazônia que deve ser conservada. Na Amazônia, 80% de toda propriedade rural é considerada reserva legal. Ou seja, não pode ser mexida. Uma das únicas atividades permitidas na área de reserva legal é o manejo florestal, porque é considerado uma atividade de baixo impacto ambiental, junto com o extrativismo.
Com essa tecnologia, a quantificação vai ser mais fácil e precisa, porque o que se faz hoje são estimativas.
Fonte: Por Tácita Muniz, g1 AC — Rio Branco