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Novo boletim da série Timberflow sugere 30 espécies com potencial para os mercados responsáveis de madeira
O uso da madeira de origem legal e responsável é uma das estratégias para o enfrentamento da crise climática, segundo demonstrado pela última edição do relatório do IPCC, publicada em abril. O material proporciona uma menor pegada ecológica, energética e de carbono em comparação a outros insumos consumidos na construção civil brasileira, como o alumínio, aço e concreto. No entanto, para que a madeira cumpra seu papel como material construtivo sustentável no longo prazo, é fundamental o aumento da diversificação das espécies exploradas das florestas de produção da Amazônia, de modo a evitar a exaustão das principais madeiras comercializadas nos dias atuais. Trazendo uma solução a esse desafio do setor, o Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora) organiza, de maneira inédita, uma lista de espécies menos comercializadas com potencialidade para o mercado levando em consideração critérios, como abundância e não vulnerabilidade dessas madeiras.
A nona edição do Boletim Timberflow busca dar destaque a um rol de espécies alternativas, hoje pouco comercializadas, mas com grande potencial. “Um dos principais dilemas do setor é que não valorizamos a grande diversidade de espécies existentes. Cerca de 50% da exploração se concentra em um pouco mais de uma dezena de espécies, o que é uma contradição”, afirma Marco Lentini, coordenador de projetos do Imaflora e um dos co-autores do estudo. O material joga luz à valorização da biodiversidade de espécies com potencial madeireiro, que, de acordo com Lentini, é essencial para o alcance da sustentabilidade do manejo florestal.
O esforço para chegar a uma lista como a que é proposta pelo estudo já vem sendo feito há alguns anos no setor florestal. O Laboratório de Estudos Florestais (LPF), por exemplo, foi criado na década de 1970 com o intuito de disseminar o conhecimento sobre novas espécies. O diferencial que a nova edição do Timberflow traz é a reunião das espécies a partir de uma base robusta de dados considerando critérios importantes tanto para a conservação das madeiras como para sua inserção no mercado. “Nossa proposta foi a de tirar a subjetividade que existia em torno desse assunto, ao julgar o que são espécies menos conhecidas ou menos comercializadas com base apenas em nossa percepção do atual funcionamento dos mercados. Para isso, nos debruçamos sobre uma base de dados gigantesca contendo as transações históricas dos produtos de madeira no mercado brasileiro”, explica a consultora da iniciativa de legalidade florestal do Imaflora, Maryane Andrade.
Jataipeba, Cedrinho e Axixá, nomes que fazem parte da lista de 30 espécies alternativas do Timberflow, não são madeiras completamente desconhecidas pelo mercado. A compreensão das propriedades e das características destas madeiras é um dos quatro critérios adotados pelo boletim para a compilação de espécies promissoras. “Esta lista não traz espécies totalmente desconhecidas, uma vez que já apresentam estudos técnicos conduzidos por entidades de referência. Evitamos a divulgação de madeiras sobre as quais existe pouca informação disponível aos compradores e aos operadores de mercado”, explica Maryane Andrade.
Além disso, foram priorizadas espécies superabundantes de forma homogênea na região amazônica. Os autores destacam que a abundância é ponto importante no manejo, uma vez que pode trazer a uma maior sustentabilidade na produção destas madeiras no longo prazo. Também nesse sentido, a lista dá destaque a madeiras não ameaçadas, excluindo do ranking aquelas que estão em listas críticas, como a Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN).
O estudo ainda leva em consideração dois fatores importantes para a listagem, as características visuais e a densidade básica da madeira. “Levamos isso em consideração até por uma questão de atratividade para o mercado consumidor. Existem nichos de mercado, por exemplo, que preferem uma madeira mais clara, outros, mais escura”, diz Maryane Andrade.
Cada madeira tem atributos próprios e precisa ser considerada de forma específica, mas isso não significa que as espécies sejam insubstituíveis. O estudo traz uma equivalência entre as 30 madeiras promissoras e as que já são mais comercializadas e mostra que é possível fazer substituições. Isso já tem acontecido em alguns casos. Na Guatemala, a Jataibepa, espécie mais densa da lista, é, muitas vezes, usada em substituição ao Ipê, de maior sensibilidade ecológica. No Brasil, ela é explorada em seis estados da Amazônia, sobretudo para a produção de dormentes, mas ainda está na 79° posição das espécies mais manejadas na lista organizada pelo Timberflow 8.
Ainda são necessários estudos detalhados sobre o nível de ocorrência e abundância das espécies promissoras nas florestas de produção localizadas em diferentes regiões da Amazônia para apoiar o planejamento e a logística de produção junto aos mercados consumidores. “Existe um desafio de oferta e demanda destas madeiras no mercado. Isso quer dizer que como consumidores não encontramos essas espécies disponíveis no mercado e como manejadores não encontramos um mercado aquecido para vendê-las”, afirma Maryane Andrade.
Para uma mudança nesse cenário, é preciso uma frente contínua de ação que una vários atores do setor. “É necessária a conscientização do mercado consumidor sobre o papel da madeira gerada responsavelmente para a conservação florestal, provendo informação suficiente para embasar melhores tomadas de decisão sobre a qualidade dos produtos a serem adquiridos, a sustentabilidade e o seu papel no desenvolvimento florestal da Amazônia”, destaca a consultora do Imaflora.
Sobre o Imaflora
O Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora) é uma associação civil sem fins lucrativos, criada em 1995 sob a premissa de que a melhor forma de conservar as florestas tropicais é dar a elas uma destinação econômica, associada a boas práticas de manejo e à gestão responsável dos recursos naturais. O Imaflora busca influenciar as cadeias produtivas dos produtos de origem florestal e agrícola, colaborar para a elaboração e implementação de políticas de interesse público e, finalmente, fazer a diferença nas regiões em que atua, criando modelos de uso da terra e de desenvolvimento sustentável que possam ser reproduzidos em diferentes municípios, regiões e biomas do país. Mais informações: www.imaflora.org
Érika Ferreira
Analista de PR Jr.
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