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Notícias
22
nov
2005
(GERAL)
Peruanos lucram milhões de dólares com madeiras do Acre
Peruanos lucram milhões de dólares com madeiras do Acre
Além de estancar prejuízos ambientais, governos do Brasil e do Peru querem criar zona livre de extração florestal
Além de prejuízos ambientais, o Acre está perdendo milhões de dólares com o contrabando de madeiras nobres, como o mogno e o cedro, que são retiradas há pelo menos quatro anos por madeireiros peruanos e vendidas para países europeus como se fossem provenientes de áreas de manejo florestal.
A exploração ilegal por parte dos peruanos ocorre ao longo de 200 quilômetros de fronteira que aquele país faz com o Vale do Juruá acreano, onde áreas indígenas, como a dos Ashaninka do rio Amônia, em Marechal Thaumaturgo, e do Parque Nacional da Serra do Divisor, estão servindo para a retirada das madeiras e também para o narcotráfico peruano em associação com o narcotráfico da Colômbia.
“Eles retiram mogno e cedro do Brasil e mantém a madeira do lado deles como reserva”, disse em entrevista, em Brasília, o assessor técnico da Diretoria de Proteção Ambiental do Ibama, Kleber Ramos Alves, ao retornar de recente viagem que fez a Pucallpa, no Peru, na fronteira com Cruzeiro do Sul, para participar de uma reunião com autoridades peruanas para, juntos, buscarem uma solução para o roubo de madeiras da selva acreana.
Chefiando a missão do governo brasileiro, o assessor do Ibama foi acompanhado do secretário de Planejamento do Acre, Gilberto Siqueira, que representou o governador Jorge Viana, do secretário estadual indígena, Francisco Pianco, da assessora do Instituto do Meio Ambiente do Acre, Magaly Medeiros, do secretário municipal de Meio Ambiente de Marechal Thaumaturgo, o índio Benke Pianco, e o assessor da organização não-governamental SOS Amazônia Miguel Scarcello.
Segundo o assessor do Ibama, foram dois dias em salas de reuniões e outros dois dentro de um helicóptero sobrevoando a fronteira, que existe no mapa, mas trata-se apenas de uma linha imaginária na densa floresta amazônica. Nos sobrevôos, os representantes do Instituto Nacional de Recursos Naturales (Inrena), equivalente ao Ibama brasileiro, puderam observar as estradas clandestinas usadas para escoar a madeira para o lado do Peru, assim como alguns acampamentos ilegais.
“Até então, as autoridades peruanas estavam relutantes em aceitar a responsabilidade sobre o caso. Só este ano eles começaram a se sensibilizar. Há muita resistência em aceitar o fato de que toda a atividade ilegal está partindo do Peru”, destacou Kleber Ramos na entrevista publicada ontem com destaque no jornal O Estado de S. Paulo. Para o assessor do Ibama, as estradas clandestinas não deixam dúvidas porque começam como verdadeiras avenidas do lado peruano e vão se afunilando à medida em que penetram no território brasileiro. “Do Brasil não temos nenhum tipo de acesso à área de fronteira, nem mesmo por via fluvial. A madeira cortada não tem como escoar por aqui. Ela escoa pelo Peru”, afirmou o assessor.
Zona de amortecimento para a proteção da biodiversidade
A assessora do IMAC, Magaly Medeiros, disse por telefone ao Página 20 que foi discutida com as autoridades peruanas a criação de uma espécie de zona de amortecimento de áreas protegidas ao longo da fronteira do Acre com o Peru. Essa zona de amortecimento teria como objetivo proteger e conservar toda a riqueza da biodiversidade existente região de fronteira, que vem sendo destruída pelas atividades da empresas madeireiras peruanas. “Discutimos as estratégias que podem ser adotadas para resolver também os conflitos entre as madeireiras e as populações indígenas e do Parque Nacional da Serra do Divisor”, disse Magaly Medeiros.
O assessor do Ibama, Kleber Ramos, lembrou que cerca de 60 peruanos já foram presos desde setembro em uma série de operações conjuntas do Ibama, do Exército e da Polícia Federal. Além disso, três brasileiros também foram presos, mas por associação com o narcotráfico. Em termos de madeiras, segundo o assessor, três mil metros cúbicos já foram apreendidos e depois destruídos tendo em vista que é impossível retirá-las dos acampamentos.
Kleber Ramos informou, ainda, que o contrabando de madeiras do território acreano começou a tomar maiores proporções há cerca de quatro anos, quando o governo peruano iniciou um processo de concessões de áreas florestais ao longo da fronteira. Segundo ele, as florestas passaram para as mãos de madeireiros que, atuando sem um plano de manejo eficiente e sem fiscalização, passaram a contratar a retirada ilegal de madeira do Brasil, poupando as suas próprias reservas.
Kleber Ramos explicou que, como são cortadas principalmente árvores de mogno e cedro, os desmatamentos são dispersos e não abrem clareiras na mata. “Por isso não aparecem nas imagens de satélite e são muito difíceis de detectar, mesmo de helicóptero. Você passa por cima e não vê diferença nenhuma. A floresta parece intocada. A madeira é cortada em pranchas no próprio local e carregada por trilhas até o Peru. Depois segue para a Europa como se fosse proveniente de áreas de manejo florestal”, disse o Ramos.
As autoridades peruanas, segundo o assessor do Ibama, se comprometeram a fazer uma revisão das concessões. “Pela primeira vez estamos vendo algum progresso do lado peruano. Estamos com uma pré-agenda comum de trabalho estabelecida e uma nova reunião será realizada em Lima, em agosto, para detalharmos os operativos de vistoria das concessões peruanas e da ação combinada de fiscalização na fronteira”, disse Ramos. Ele informou, por fim, que uma das propostas do Ibama é criar uma área livre de extração florestal numa faixa de 10 quilômetros para cada lado da fronteira. Isso terá por objetivo facilitar a fiscalização e proteger a biodiversidade.
Romerito Aquino
Página20
Além de estancar prejuízos ambientais, governos do Brasil e do Peru querem criar zona livre de extração florestal
Além de prejuízos ambientais, o Acre está perdendo milhões de dólares com o contrabando de madeiras nobres, como o mogno e o cedro, que são retiradas há pelo menos quatro anos por madeireiros peruanos e vendidas para países europeus como se fossem provenientes de áreas de manejo florestal.
A exploração ilegal por parte dos peruanos ocorre ao longo de 200 quilômetros de fronteira que aquele país faz com o Vale do Juruá acreano, onde áreas indígenas, como a dos Ashaninka do rio Amônia, em Marechal Thaumaturgo, e do Parque Nacional da Serra do Divisor, estão servindo para a retirada das madeiras e também para o narcotráfico peruano em associação com o narcotráfico da Colômbia.
“Eles retiram mogno e cedro do Brasil e mantém a madeira do lado deles como reserva”, disse em entrevista, em Brasília, o assessor técnico da Diretoria de Proteção Ambiental do Ibama, Kleber Ramos Alves, ao retornar de recente viagem que fez a Pucallpa, no Peru, na fronteira com Cruzeiro do Sul, para participar de uma reunião com autoridades peruanas para, juntos, buscarem uma solução para o roubo de madeiras da selva acreana.
Chefiando a missão do governo brasileiro, o assessor do Ibama foi acompanhado do secretário de Planejamento do Acre, Gilberto Siqueira, que representou o governador Jorge Viana, do secretário estadual indígena, Francisco Pianco, da assessora do Instituto do Meio Ambiente do Acre, Magaly Medeiros, do secretário municipal de Meio Ambiente de Marechal Thaumaturgo, o índio Benke Pianco, e o assessor da organização não-governamental SOS Amazônia Miguel Scarcello.
Segundo o assessor do Ibama, foram dois dias em salas de reuniões e outros dois dentro de um helicóptero sobrevoando a fronteira, que existe no mapa, mas trata-se apenas de uma linha imaginária na densa floresta amazônica. Nos sobrevôos, os representantes do Instituto Nacional de Recursos Naturales (Inrena), equivalente ao Ibama brasileiro, puderam observar as estradas clandestinas usadas para escoar a madeira para o lado do Peru, assim como alguns acampamentos ilegais.
“Até então, as autoridades peruanas estavam relutantes em aceitar a responsabilidade sobre o caso. Só este ano eles começaram a se sensibilizar. Há muita resistência em aceitar o fato de que toda a atividade ilegal está partindo do Peru”, destacou Kleber Ramos na entrevista publicada ontem com destaque no jornal O Estado de S. Paulo. Para o assessor do Ibama, as estradas clandestinas não deixam dúvidas porque começam como verdadeiras avenidas do lado peruano e vão se afunilando à medida em que penetram no território brasileiro. “Do Brasil não temos nenhum tipo de acesso à área de fronteira, nem mesmo por via fluvial. A madeira cortada não tem como escoar por aqui. Ela escoa pelo Peru”, afirmou o assessor.
Zona de amortecimento para a proteção da biodiversidade
A assessora do IMAC, Magaly Medeiros, disse por telefone ao Página 20 que foi discutida com as autoridades peruanas a criação de uma espécie de zona de amortecimento de áreas protegidas ao longo da fronteira do Acre com o Peru. Essa zona de amortecimento teria como objetivo proteger e conservar toda a riqueza da biodiversidade existente região de fronteira, que vem sendo destruída pelas atividades da empresas madeireiras peruanas. “Discutimos as estratégias que podem ser adotadas para resolver também os conflitos entre as madeireiras e as populações indígenas e do Parque Nacional da Serra do Divisor”, disse Magaly Medeiros.
O assessor do Ibama, Kleber Ramos, lembrou que cerca de 60 peruanos já foram presos desde setembro em uma série de operações conjuntas do Ibama, do Exército e da Polícia Federal. Além disso, três brasileiros também foram presos, mas por associação com o narcotráfico. Em termos de madeiras, segundo o assessor, três mil metros cúbicos já foram apreendidos e depois destruídos tendo em vista que é impossível retirá-las dos acampamentos.
Kleber Ramos informou, ainda, que o contrabando de madeiras do território acreano começou a tomar maiores proporções há cerca de quatro anos, quando o governo peruano iniciou um processo de concessões de áreas florestais ao longo da fronteira. Segundo ele, as florestas passaram para as mãos de madeireiros que, atuando sem um plano de manejo eficiente e sem fiscalização, passaram a contratar a retirada ilegal de madeira do Brasil, poupando as suas próprias reservas.
Kleber Ramos explicou que, como são cortadas principalmente árvores de mogno e cedro, os desmatamentos são dispersos e não abrem clareiras na mata. “Por isso não aparecem nas imagens de satélite e são muito difíceis de detectar, mesmo de helicóptero. Você passa por cima e não vê diferença nenhuma. A floresta parece intocada. A madeira é cortada em pranchas no próprio local e carregada por trilhas até o Peru. Depois segue para a Europa como se fosse proveniente de áreas de manejo florestal”, disse o Ramos.
As autoridades peruanas, segundo o assessor do Ibama, se comprometeram a fazer uma revisão das concessões. “Pela primeira vez estamos vendo algum progresso do lado peruano. Estamos com uma pré-agenda comum de trabalho estabelecida e uma nova reunião será realizada em Lima, em agosto, para detalharmos os operativos de vistoria das concessões peruanas e da ação combinada de fiscalização na fronteira”, disse Ramos. Ele informou, por fim, que uma das propostas do Ibama é criar uma área livre de extração florestal numa faixa de 10 quilômetros para cada lado da fronteira. Isso terá por objetivo facilitar a fiscalização e proteger a biodiversidade.
Romerito Aquino
Página20
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