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Notícias
22
nov
2005
(GERAL)
O papel usado já tem dono
Durante dois dias da semana, as repórteres do JT circularam com uma carrocinha no Centro, tentando catar papel. Mas não faturaram mais que R$ 1,50 por dia. Descobriram que a região é um garimpo esgotado para quem não está ligado a algum grupo organizado. Nesse mercado, a maioria já tem sua clientela - bancos, comerciantes e escritórios, que guardam o material reciclável. Aos novatos, resta o pouco que ficou abandonado nas ruas.
Domingos, dono de um caminhão clandestino que à noite fica estacionado no começo da Rua da Consolação, só quer pagar R$ 0,15 pelo quilo do papelão. Nos depósitos instalados no Centro, paga-se até R$ 0,20. "É que o preço do dólar caiu", diz o homem. O que Domingos não sabe é que negocia com quem está quase entendendo do negócio e já aprendeu na rua que só o valor do alumínio das latinhas varia conforme o câmbio da moeda americana.
Mas vai se fazer o quê? São quase 20h, a carrocinha das repórteres do JT pesa 40 quilos, está lotada de papelão e, àquela altura, só Toby, o vira-latas companheiro das andanças no Centro, continua todo animado com o movimento. O ajudante do dono do depósito ambulante pesa o material e a balança registra: 10 quilos. Domingos tira R$ 1,50 do maço de notas enrolado no bolso. Está pago o preço por um dia de trabalho.
Nesse horário, os "morcegões", outros caminhões irregulares, começam a passar pelo Centro. Alguns param na Praça da República, recolhem montanhas de sacos pretos e somem para a periferia. "A gente dá um 'cafezinho' para os porteiros guardarem o material para a gente", revela um catador do primeiro escalão, um dos poucos que conseguem uma renda de até R$ 500 por mês. "Estou há dez anos no negócio e tenho gente guardando material para mim desde lá perto da Santa Casa". E quanto custa o "cafezinho"? "Uns R$ 30 por semana".
Mas essa elite é rara e, hoje, a notícia corre rápido - já não há vagas para catadores no Centro. E, na experiência vivida por quem teima em arrancar dinheiro do lixo, vem a certeza: o garimpo está esgotado. Os pedaços de papelão e as latinhas sumiram das ruas. Se transformaram em ouro nos bolsos dos atravessadores e em apenas alguns trocados nas mãos de quem faz o serviço sujo e pesado.
O Centro está loteado, cada trecho tem seu "dono" e a invasão do território alheio pode acabar em agressões com pedaços de pau e até em golpes de faca. Os "donos" da Cidade conquistaram seus territórios com trabalho e persistência. Há 20 anos, eram só moradores de rua que se dispunham a garimpar os restos de São Paulo. Mais tarde, a tropa da carrocinha ganhou a concorrência dos desempregados. E, hoje, ambos têm na coleta a única alternativa de sobrevivência.
Aos poucos, fizeram freguesia no comércio e conseguiram de donos de lojas, bancos ou prédios de escritórios o direito exclusivo de recolher plásticos, papel e latas. Hoje, são cerca de 20 mil, que aproveitam 14,3% das 10 toneladas produzidas diariamente na Cidade, segundo cálculos de Elisabeth Grimberg, coordenadora de Meio Ambiente Urbano do Instituto Pólis.
A quantidade reaproveitada ainda é pouca. Mesmo assim, o dinheiro que circula nessa economia movida a carrocinhas aguça a cobiça - o movimento é de cerca de R$ 5,1 milhões por mês, estima Elisabeth. "Isso mostra o potencial desse universo. Mas, para se ter uma economia de inclusão social, é preciso uma coleta mais abrangente e uma infra-estrutura adequada".
Esse valor escondido no lixo também tem assustado Carlos Antonio dos Reis, o Carlão Catador, do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis: "As empreiteiras estão de olho nesse negócio e vão passar por cima da gente como um rolo compressor".
Os catadores ligados às cooperativas ou aos grupos informais, com uma retaguarda logística e a confiança de seus "fornecedores", conseguiram reduzir a cadeia de intermediários e obter um rendimento entre R$ 270 e R$ 400 mensais. Só que, quem tenta entrar hoje nesse negócio, é dependente das sobras.
Para os novatos no negócio, há dois conselhos: não se "atravessa" ponto de concorrente. "Só lixo achado na rua é que não tem dono", diz o coordenador de uma cooperativa. "Quem começa no negócio não conhece a realidade e, se invadir um ponto, vai arrumar briga e ter de devolver o material".
Papelão achado na rua é material raro. Lata, então, já não aparece nas lixeiras - os próprios balconistas de bares se encarregam de acumular o que virou ouro. E, nas portas das lojas, a resposta é a mesma dada pelo segurança das Casas Bahia da Praça Ramos de Azevedo: "Nem adianta ficar por aí porque guardamos o papelão para uma pessoa".
Mais adiante, na Rua 24 de Maio, o vendedor da loja de calçados também avisa: "Tem uma mulher que vem buscar à noite". Resta aos novatos, então, garimpar os pedaços esquecidos nas calçadas.
Fonte: Marici Capitelli e Marinês Campos (Jornal da Tarde - SP)
Domingos, dono de um caminhão clandestino que à noite fica estacionado no começo da Rua da Consolação, só quer pagar R$ 0,15 pelo quilo do papelão. Nos depósitos instalados no Centro, paga-se até R$ 0,20. "É que o preço do dólar caiu", diz o homem. O que Domingos não sabe é que negocia com quem está quase entendendo do negócio e já aprendeu na rua que só o valor do alumínio das latinhas varia conforme o câmbio da moeda americana.
Mas vai se fazer o quê? São quase 20h, a carrocinha das repórteres do JT pesa 40 quilos, está lotada de papelão e, àquela altura, só Toby, o vira-latas companheiro das andanças no Centro, continua todo animado com o movimento. O ajudante do dono do depósito ambulante pesa o material e a balança registra: 10 quilos. Domingos tira R$ 1,50 do maço de notas enrolado no bolso. Está pago o preço por um dia de trabalho.
Nesse horário, os "morcegões", outros caminhões irregulares, começam a passar pelo Centro. Alguns param na Praça da República, recolhem montanhas de sacos pretos e somem para a periferia. "A gente dá um 'cafezinho' para os porteiros guardarem o material para a gente", revela um catador do primeiro escalão, um dos poucos que conseguem uma renda de até R$ 500 por mês. "Estou há dez anos no negócio e tenho gente guardando material para mim desde lá perto da Santa Casa". E quanto custa o "cafezinho"? "Uns R$ 30 por semana".
Mas essa elite é rara e, hoje, a notícia corre rápido - já não há vagas para catadores no Centro. E, na experiência vivida por quem teima em arrancar dinheiro do lixo, vem a certeza: o garimpo está esgotado. Os pedaços de papelão e as latinhas sumiram das ruas. Se transformaram em ouro nos bolsos dos atravessadores e em apenas alguns trocados nas mãos de quem faz o serviço sujo e pesado.
O Centro está loteado, cada trecho tem seu "dono" e a invasão do território alheio pode acabar em agressões com pedaços de pau e até em golpes de faca. Os "donos" da Cidade conquistaram seus territórios com trabalho e persistência. Há 20 anos, eram só moradores de rua que se dispunham a garimpar os restos de São Paulo. Mais tarde, a tropa da carrocinha ganhou a concorrência dos desempregados. E, hoje, ambos têm na coleta a única alternativa de sobrevivência.
Aos poucos, fizeram freguesia no comércio e conseguiram de donos de lojas, bancos ou prédios de escritórios o direito exclusivo de recolher plásticos, papel e latas. Hoje, são cerca de 20 mil, que aproveitam 14,3% das 10 toneladas produzidas diariamente na Cidade, segundo cálculos de Elisabeth Grimberg, coordenadora de Meio Ambiente Urbano do Instituto Pólis.
A quantidade reaproveitada ainda é pouca. Mesmo assim, o dinheiro que circula nessa economia movida a carrocinhas aguça a cobiça - o movimento é de cerca de R$ 5,1 milhões por mês, estima Elisabeth. "Isso mostra o potencial desse universo. Mas, para se ter uma economia de inclusão social, é preciso uma coleta mais abrangente e uma infra-estrutura adequada".
Esse valor escondido no lixo também tem assustado Carlos Antonio dos Reis, o Carlão Catador, do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis: "As empreiteiras estão de olho nesse negócio e vão passar por cima da gente como um rolo compressor".
Os catadores ligados às cooperativas ou aos grupos informais, com uma retaguarda logística e a confiança de seus "fornecedores", conseguiram reduzir a cadeia de intermediários e obter um rendimento entre R$ 270 e R$ 400 mensais. Só que, quem tenta entrar hoje nesse negócio, é dependente das sobras.
Para os novatos no negócio, há dois conselhos: não se "atravessa" ponto de concorrente. "Só lixo achado na rua é que não tem dono", diz o coordenador de uma cooperativa. "Quem começa no negócio não conhece a realidade e, se invadir um ponto, vai arrumar briga e ter de devolver o material".
Papelão achado na rua é material raro. Lata, então, já não aparece nas lixeiras - os próprios balconistas de bares se encarregam de acumular o que virou ouro. E, nas portas das lojas, a resposta é a mesma dada pelo segurança das Casas Bahia da Praça Ramos de Azevedo: "Nem adianta ficar por aí porque guardamos o papelão para uma pessoa".
Mais adiante, na Rua 24 de Maio, o vendedor da loja de calçados também avisa: "Tem uma mulher que vem buscar à noite". Resta aos novatos, então, garimpar os pedaços esquecidos nas calçadas.
Fonte: Marici Capitelli e Marinês Campos (Jornal da Tarde - SP)
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