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Notícias

22
nov
2005
(GERAL)
Iedi aponta os desafios no comércio exterior brasileiro
O aumento das exportações brasileiras em 2004 teve origem em setores de reduzido crescimento no comércio mundial e de baixo conteúdo tecnológico. É isso que aponta um recente estudo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). A análise também procurou identificar setores e grupos de setores que mais contribuíram para o excepcional desempenho do comércio exterior brasileiro em 2004. No ano passado, as exportações cresceram 32% (21,1% em 2003), somando US$ 96,5 bilhões, enquanto as importações cresciam 30% (2,3% em 2003) e alcançavam US$ 62,8 bilhões. O resultado foi um saldo comercial de US$ 33,7 bilhões (US$ 24,8 bilhões em 2003). Embora com marcadas diferenças, os resultados do estudo deixam claro que o bom desempenho exportador brasileiro nesse ano foi geral, envolvendo todos os 13 setores pesquisados. Os destaques foram o grupo chamado de “Cereais etc” (complexo soja, destacadamente, além de milho), o setor Intensivo em Capital (manufaturados de ferro e aço, especialmente), Matérias-primas (minério de ferro e alumínio), Produtos animais (carne bovina, frango), Maquinaria – outros de transporte (aviões), Maquinaria-veículos rodoviários (automóveis e autopeças) e Maquinaria-demais (bens de capital, tratores implementos agrícolas). Os setores que tiveram desempenho abaixo da média foram Maquinaria-eletro-eletrônica, Petróleo e Agricultura tropical.

A despeito do dinamismo exportador, em relação às características ligadas à tecnologia e dinamismo de nossas exportações, os resultados da pesquisa trazem evidências merecedoras de reflexão por parte de analistas e representantes do governo. De fato, tomando o valor do aumento das exportações ocorridas no ano - US$ 23,4 bilhões (as exportações passaram de US$73,1 bilhões em 2003 para US$ 96,5 bilhões em 2004), o estudo conclui que:

• A indústria intensiva em P&D contribuiu pouco (7,9% do total) para o aumento das exportações. A maior contribuição veio de setores de baixa e média-baixa intensidade tecnológica (contribuição de 77,9%).

• Veio também de setores que tiveram declínio em sua participação no comércio mundial (setores com redução de market-share) entre 1996 e 2001 (77,7%) e, dentre estes, de setores que nesse mesmo período tiveram crescimento negativo nas exportações mundiais (44,5%).

• Setores de alto crescimento no comércio mundial entre 1996 e 2001 (setores com crescimento médio superior a 5% ao ano), contribuíram com um baixo percentual para o aumento das exportações: 9,4%.

Resultados como os que resumimos acima são responsáveis por características importantes da atual estrutura do comércio exterior brasileiro:

• O país é grande exportador de produtos de baixa e média-baixa intensidade tecnológica - esses produtos representam 78% de nossas exportações, enquanto os bens de média e média-alta tecnologia respondem pelos demais 22% do total exportado;

• Do lado das importações, 55% do total corresponde a compras no exterior de produtos de baixa e média-baixa intensidade tecnológica, sendo de 45% do total as importações de produtos de alto e média-alto conteúdo tecnológico;

• Nas exportações, os produtos que tiveram crescimento negativo no período 1995- 2001 têm um peso expressivo (45,6%), enquanto as importações de bens de setores de crescimento negativo representam apenas 23,1% do total importado.

• Os setores de alto crescimento no mesmo período têm expressão muito maior do lado das importações (32% das compras totais) do que do lado das exportações (representam 11,6% das exportações);

• Grande parte das exportações brasileiras (72,5%) são de produtos de setores que tiveram redução de market-share no comércio mundial no mesmo período; nas importações, predominam setores com aumento de market-share (55,2%).

Em suma, o Brasil é exportador de bens de baixa e média-baixa intensidade tecnológica e importador de bens de alta e média-alta intensidade tecnológica; por outro lado, é forte vendedor de bens com baixo dinamismo no comércio exterior e importante importador de bens de alto crescimento nas transações internacionais.Em outros trabalhos, o Iedi já chamara a atenção para um tema da maior importância, que agora reitera: constitui um objetivo de longo prazo conferir à pauta exportadora brasileira uma maior aproximação com os mercados de exportação mais dinâmicos, de maior conteúdo tecnológico e agregação de valor. A política industrial, tecnológica e de comércio exterior recentemente anunciada pelo governo visa esses objetivos, razão pela qual é importante que sua execução seja rápida e bem estruturada. O comércio exterior em 2004. Um recente estudo do IEDI procurou identificar setores e grupos de setores que mais contribuíram para o excepcional desempenho do comércio exterior brasileiro em 2004. Nesse ano, as exportações cresceram 32% (21,1% em 2003), somando US$ 96,5 bilhões, enquanto as importações cresciam 30% (2,3% em 2003) e alcançavam US$ 62,8 bilhões. O resultado foi um saldo comercial de US$ 33,7 bilhões (US$ 24,8 bilhões em 2003). Note-se que em 2004 tanto as exportações e o saldo comercial superaram o recorde histórico, mesmo com um significativo crescimento das importações. O crescimento destas decorreu em grande parte do próprio dinamismo das exportações (para exportar é preciso importar máquinas e insumos, por exemplo). Por outro lado, o maior crescimento econômico durante o ano também concorreu para o maior volume de importação. Algumas características centrais do comércio exterior brasileiro no ano passado são resumidas a seguir.

Abertura ao comércio exterior. Os resultados do comércio exterior brasileiro em 2004 mostram que o melhor caminho para que o Brasil amplie seu volume de comércio (ou a corrente de comércio, a soma de exportações e importações) é a promoção e o incentivo às exportações. Como se sabe, o Brasil tem um volume de comércio ainda baixo (cerca de 27% do PIB), mas que em 2004 atingiu o seu maior nível histórico (US$ 159,3 bilhões), superior em 31,2% ao valor correspondente de 2003. O que os dados do ano passado também mostram é que a geração de saldos comerciais elevados não é incompatível com aumento do volume de comércio. Isto porque mesmo com crescimento de 31,2% da corrente de comércio houve uma elevação de 35,9% do saldo comercial em relação a 2003. Preço e quantum. Os preços internacionais ajudaram no aumento das exportações em 2004, diga-se de passagem, com intensidade ainda maior do que em 2003. Com efeito, segundo dados da FUNCEX, os preços de exportação subiram 10,8% no ano, enquanto que em 2003, o aumento havia sido de 4,6%. Com relação ao quantum, a sua evolução chegou a 19,2%, contra um aumento de 15,7% em 2003. Portanto, nos dois anos o aumento do quantum foi predominante como fator explicativo do aumento do valor das exportações brasileiras, embora isto tenha sido mais verdadeiro em 2003 do que em 2004.

Devemos tecer três observações adicionais sobre os movimentos recentes de preços e quantum:

• No ano de 2004, em se tratando de produtos básicos, a evolução de preços de exportação foi maior (18,4%) do que o crescimento do quantum (13,8%). Esta combinação de preços excepcionais e elevadas quantidades exportadas, onde desponta o caso da soja, resultou no pronunciado crescimento do valor das vendas externas de produtos básicos em 2004: 34,7%.

• Convém observar que para vários produtos primários (como no caso da soja), já se apresenta uma tendência de declínio de preços internacionais, com o que é provável que em 2005 o fator preço não mais contribua com a mesma intensidade do período 2002/03 para a evolução das exportações brasileiras.

• Em 2004, a exportação de manufaturados assumiu a liderança em termos da evolução do quantum em detrimento dos produtos básicos, o que já vinha se configurando desde 2003. Destino das exportações. Do ponto de vista do destino das exportações, alguns resultados em 2004 chamam a atenção porque se apresentaram ainda melhores do que no ano anterior.

Assim, por exemplo, o crescimento das vendas para a União Européia foi de 30,9% comparando os anos de 2004 e 2003 (aumento de 19,8% entre 2003 e 2002); para países da ALADI, exceto os países do Mercosul, aumentou 48,8% (22,9% em 2003); países da África, 48,4% (21,1% em 2003) e países da Ásia, 24,7 (13,9% em 2003). Para Argentina as vendas mantiveram em 2004 o alto crescimento do ano anterior: 61,7% quando comparados os anos de 2004 e 2003 (94,8% no ano de 2003) e para a China, o crescimento declinou de 79,8% em 2003 para 20,0% em 2004, certamente refletindo a grande retração dos preços da soja, o destacado produto que vendemos para aquele mercado. Note-se que as exportações para os EUA cresceram tanto quanto as exportações para a China, ou seja, 20,4%, muito abaixo da média global. Excluídas as exportações para o mercado norte-americano, as vendas externas do país teriam crescido não 32%, mas, sim, 35,5% em 2004. A forte valorização do Real com relação ao dólar em 2003 e 2004 retirou competitividade do produto brasileiro nesse mercado, o que se refletiu no desempenho exportador brasileiro para aquele país. Setores de exportação. Para avaliar a importância dos diversos setores nos resultados do comércio exterior brasileiro utilizou a classificação em 13 segmentos de recente estudo do Banco Mundial: Petróleo, Matérias Primas, Produtos Florestais, Agricultura Tropical, Produtos Animais, Cereais etc, Intensivo em Trabalho, Intensivo em Capital, Maquinaria eletroeletrônica, Maquinaria veículos rodoviários, Maquinaria outros de transporte, Maquinaria-demais (bens de capital) e Química. Notar que o setor “Cereais etc” da classificação original inclui trigo, além de destacados itens de exportação brasileira, como o complexo soja (soja em grãos, farelo e óleo de soja) e milho. Foram utilizados também outros critérios de agregação, tais como setores de alta e média-alta intensidade tecnológica, setores de baixa e média-baixa intensidade tecnológica, setores de alto crescimento, setores de crescimento negativo etc.

Embora com marcadas diferenças setoriais, os resultados deixam claro que o bom desempenho exportador brasileiro em 2004 foi geral, envolvendo todos os setores. Os destaques foram o grupo Cereais etc (complexo soja, destacadamente, além de milho), o setor Intensivo em capital (manufaturados de ferro e aço, especialmente), Matérias-primas (minério de ferro e alumínio), Produtos animais (carne bovina, frango), Maquinaria – outros de transporte (aviões), Maquinaria-veículos rodoviários (automóveis e autopeças) e Maquinaria-demais (bens de capital, tratores implementos agrícolas). Os setores que tiveram desempenho baixo da média foram Maquinaria-eletro-eletrônica, Petróleo e Agricultura tropical.

Tecnologia e dinamismo. Utilizando outras categorias de agregação, os principais resultados são:

• A indústria intensiva em P&D contribuiu pouco (7,9% do total) para o aumento das exportações. A maior contribuição veio de setores de baixa e média-baixa intensidade tecnológica (contribuição de 77,9%).

• Veio também de setores que tiveram declínio em sua participação no comércio mundial (setores com redução de market-share) entre 1996 e 2001 (77,7%) e, dentre estes, de setores que nesse mesmo período tiveram crescimento negativo nas exportações mundiais (44,5%).

• Setores de alto crescimento no comércio mundial entre 1996 e 2001 (setores com crescimento médio superior a 5% ao ano), contribuíram com um baixo percentual para o aumento das exportações: 9,4%.

• As exportações de manufaturas contribuíram com 59,9% do aumento das exportações.

• Os setores de base agropecuária (produtos agropecuários e os setores da agroindústria) contribuíram com 31,4% do aumento das exportações, setores com base mineral com 12,3%, setores com base em combustíveis/energia contribuíram com 2,7%.

Importação. Do lado das importações, o crescimento não foi tão geral quanto nas exportações. Destacaram-se em relação a 2003 os setores de Petróleo (aumento de 57,2%), Matérias-primas (47,6%), Maquinaria-outros de transporte (41,3%), Maquinaria-eletro-eletrônica (37,2%), Produtos florestais (34,7%), além de Química (31,8%).

O peso nas importações totais e a variação das importações nos setores de Química e Maquinaria-eletroeletrônica que são, predominantemente, importações de insumos, além da importação de petróleo, fazem desses segmentos os mais destacados responsáveis pelo crescimento das compras externas de 30% em 2004 com relação a 2003. Os dois primeiros responderam por 41,7% do aumento de US$ 14,5 bilhões nas importações nesse período (Química respondendo por 23% e Maquinaria-eletroeletrônica por 18,7%) e os três segmentos explicam 64,4% do total das compras externas. Note-se que o crescimento das importações do setor de Maquinaria-demais (8,8%), que é tradicionalmente um segmento muito importador, e cujas compras no exterior tendem a crescer com o aumento dos investimentos, foi muito inferior aos setores citados. Os dados dos gráficos a seguir ilustram os comentários acima. Saldo comercial. Quanto ao saldo comercial, o estudo mostra que os macro-setores tradicionais exportadores e geradores de saldo comercial da economia brasileira, com duas exceções (Intensivo em trabalho e Matérias primas) ampliaram fortemente sua capacidade de gerar excedentes de exportação. E dois novos setores despontam como importantes geradores de saldo: Maquinaria-veículos rodoviários e Maquinaria-outros de transporte. Por outro lado, macro-setores tradicionais deficitários no comércio, permanecem nesta condição, agravando seus déficits, como nos casos de Química, Maquinaria eletro-eletrônica, Petróleo. Por outro lado, o setor de Maquinaria-demais (bens de capital) vem reduzindo significativamente seu déficit nos últimos três anos.

Convém observar que a forte retração dos investimentos na economia nesse período deve estar condicionando os resultados de importações deste setor, que, em 2004 ainda eram significativamente inferiores ao valor correspondente a 2001. Porém, o avanço das exportações que o setor obteve nos últimos pode assegurar um resultado mais favorável do balanço comercial mesmo na hipótese de importações crescentes. Considerando outros agrupamentos de setores, podemos afirmar que os setores de baixa e média-baixa intensidade tecnológica, os setores que tiveram declínio em sua participação (market share) no comércio mundial entre 1996 e 2001, os setores que nesse mesmo período tiveram crescimento negativo nas exportações mundiais e os setores de base agropecuária (produtos agropecuários e agro-indústria), são os principais grupos que respondem pelo aumento do saldo comercial. Por outro lado, setores de alta e média-alta intensidade tecnológica, setores com aumento em sua participação (market share), setores de alto crescimento no comércio mundial no período 1996/2001, a indústria intensiva em P&D, assim como a indústria de base combustível/energia, contribuíram negativamente. Em outros trabalhos o Iedi já advertiu que constitui um objetivo de longo prazo conferir à pauta exportadora uma maior aproximação com os mercados de exportação mais dinâmicos, de maior conteúdo tecnológico e agregação de valor. A política industrial, tecnológica e de comércio exterior recentemente anunciada pelo governo visa esses objetivos, razão pela qual é importante que sua execução seja rápida e bem estruturada.

Fonte: Iedi – 16/02/2005

Fonte:

Jooble Neuvoo