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Notícias

22
nov
2005
(GERAL)
Sinal verde para o selo
De agosto de 2002 a agosto de 2003, de acordo com estudos do Ministério do Meio Ambiente, apesar dos esforços governamentais e das ONGs, foram arrasados 23.750 km2 da floresta amazônica. Um grande salto, mesmo se comparado com o desmatamento de anos anteriores, que já era intenso. Salto somente superado por aquele que ocorreu no ano de 1995, uma negra marca histórica.

A curiosa coincidência, se é que cabe a palavra, é que a taxa de acumulação de gás carbônico na atmosfera da Terra, que vinha se mantendo em torno de 1,5 parte por milhão, saltou significativamente nesse período: em 2001/2002 e 2002/2003, aumentou assustadoramente para mais de 2 partes por milhão. Esses dados são citados pelo juiz José Renato Nalini, autor do livro "Ética Ambiental", conforme artigo veiculado em jornais recentemente.

E pensar que tudo começou quando o então presidente Juscelino Kubitschek disse que iria "arrombar a Amazônia"... E continuou com os governos militares, que afirmavam ser preciso "integrar para não entregar", dando voz àquele medo que, volta e meia, vem assombrar os sonhos dos brasileiros, o de que os estrangeiros estariam à espreita para nos roubar o território.

Até agora não roubaram - mas, se um dia o fizerem, talvez venham a descobrir que nada mais há para roubar. A Amazônia Legal tem uma extensão de aproximadamente 5 milhões de km2, ou 59% do território brasileiro, mas 16,3% já foram desmatados: 652.908 km2, uma área maior do que a da França. São números assustadores. Se você ficou impressionado com eles, não está sozinho. Grande parte da população mundial também fica. E, especialmente nos países mais desenvolvidos, essa população cobra cada vez mais providências.

A boa notícia é que é possível nos valer de toda a pujança amazônica, tirar proveito dela. É possível usarmos papel, móveis e objetos de madeira sem que o meio ambiente seja destruído, através da adoção de técnicas de manejo florestal. O manejo florestal é a administração de um conjunto de técnicas empregadas de forma a se obter benefícios econômicos e sociais, respeitando-se os mecanismos de sustentação do ecossistema.

O Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia, tem estudos que apontam que o Brasil tem 1,15 milhão de km2 de floresta amazônica adequados à exploração sustentável, isto é, área que pode ser destinada à criação de Florestas Nacionais (Flonas).

O total de área protegida até agora é insuficiente para a conservação da biodiversidade, e as áreas já criadas ainda não atingiram plenamente os objetivos que motivaram sua criação. O Ministério do Meio Ambiente sabe disso, e planeja criar, até 2007, 18 milhões de hectares de novas unidades de conservação de uso sustentável ou proteção integral. Até 2013, espera atingir um total de 50 milhões de hectares de unidades de conservação na Amazônia.

Para nossa sorte, o chamado desenvolvimento sustentável vem ganhando adeptos exigentes. Há mais e mais movimentos organizados dizendo "basta!"; há um número crescente de consumidores que se recusa a comprar aquilo que não tenha sido produzido de forma consciente. Isto é, com o menor dano possível ao meio ambiente.

Essa exigência motivou a criação do Selo Verde, certificado concedido pelo Scientific Certification System (SCS), entidade ligada ao Conselho Mundial de Florestas (FSC). Dentro da série ISO 14000, voltada para a qualidade ambiental, existem várias normas, sendo que a 14030 trata do Selo Verde - selo que garante que o produto foi criado em condições ambientais e sociais corretas.

Um dos mercados mais exigentes hoje, com relação à certificação, é formado por países como a Bélgica e a Holanda que, juntas, consomem cerca de 700 mil metros cúbicos de madeira serrada da floresta tropical anualmente.

Alguns empresários brasileiros já descobriram esse filão. A Cikel Brasil Verde S.A. possui uma enorme área de floresta nativa certificada. A madeira comercializada pela empresa ostenta o Selo Verde, que atesta que é "ambientalmente correta, socialmente justa e economicamente viável". A empresa tem clientes nos Estados Unidos, Holanda, Bélgica, além de brasileiros.

Outra que percebeu o amadurecimento do consumidor foi a Leo Madeiras, que está no mercado há 61 anos e hoje lida só com madeira certificada. A empresa, que vende para marceneiros, arquitetos e designers, teve em 2004 um aumento significativo na procura de seus produtos. A Espírito Amazônico, empresa que se dedica à produção de brindes corporativos, cuida também da decoração de eventos em que todos os produtos têm o Selo Verde - o que significa que toda a cadeia é certificada, desde a origem da madeira até o produto final.

Natura, Eucatex, VCP, todas estão na mesma direção, no que se refere ao seu papel no desenvolvimento sustentável. Grandes e pequenas, as empresas estão alertas para o fato de que o mundo hoje exige, em primeiro lugar, qualidade de vida. Para esses consumidores, "qualidade de vida" é sinônimo de saúde, a sua própria e a de seus semelhantes, aí incluídos a vida animal, o ar, a água, a terra. Eles não aceitam mais as práticas predatórias que eram tão comuns num passado recente.

Com as antenas permanentemente voltadas para as tendências do mercado, as companhias, em número cada vez maior, estão buscando os atestados de uma postura de responsabilidade com relação ao meio ambiente e aos impactos sociais causados por suas práticas corporativas. Algumas têm sido até coagidas a isso, devido ao bem fundamentado receio de que resistir a essas novas demandas possa causar sérios danos à sua imagem, pois aumentam em número e em visibilidade os grupos ambientalistas, com seus nem sempre muito ortodoxos meios de argumentação. Seja como for, esses grupos são um reflexo do interesse dos consumidores.

Especialmente na Europa, onde não por acaso vem chamando a atenção o crescimento dos "partidos verdes", é cada vez mais comum encontrar consumidores decididos a boicotar os produtos tradicionais e a adotar uma "bandeira ecológica", o que dá significado às suas vidas e faz crescer sua auto-estima. Atrás deles, vêm aqueles que, de fato, estão conscientes de que as reservas mundiais de água, de alimentos, de oxigênio não são infinitas, e que eles podem e devem fazer a sua parte, comprando apenas o que, comprovadamente, foi produzido de forma ambientalmente correta.

As organizações que adotaram as novas práticas, aquelas cujos produtos exibem o Selo Verde, condição cada vez mais exigida no exterior e também no Brasil, são as grandes candidatas e um futuro sólido. Esse é um caminho sem volta. Ainda bem.

Mirtis de Aguiar Vallim é jornalista e vem colaborando há muitos anos em veículos de comunicação empresarial - millim@uol.com.br

Fonte: Celulose Online – 11/01/2005

Fonte:

Neuvoo Jooble