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Notícias

22
nov
2005
(GERAL)
Essa estrada vai mudar a geografia do Acre
De todo o território brasileiro, a Federação com mais motivos para comemorar a materialização da Estrada do Pacífico não poderia ser outra, senão o Acre. Convidado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para participar do 3º Encontro de Presidentes da América do Sul, em Cusco (Peru), nos dias 6 e 7 de dezembro, o governador Jorge Viana retornou otimista com o futuro do Estado. “Essa estrada vai mudar a geografia do Acre. Deixaremos de ser o fim e passaremos a ser o começo”, comemorou ele, em entrevista coletiva concedida na tarde de ontem na Casa Rosada. Em outras palavras, o Estado passará a ser um ponto de referência para importação e exportação, além de manter contato com outros mercados, antes inacessíveis.

De acordo com o relato do governador e com o que foi publicado na grande imprensa nacional o Acre foi um dos destaques do encontro. Foi o governo do Acre por sua decisão de construir a Estrada do Pacífico e a ponte que liga as cidades de Assis Brasil a Iñapari, o que se constituiu nos primeiros atos concretos no longo discurso pela integração da América Latina. O presidente peruano Alejandro Toledo, anfitrião do encontro que reuniu 12 presidentes e chanceleres de países da América do Sul, sempre que teve oportunidade, fez questão de destacar os dois feitos do governo acreano como um aliado que conseguiu colocar em prática o discurso integracionista e, orgulhoso, chegou a exibir aos convidados uma maquete da ponte que ligará o Brasil ao Peru na região do Alto Acre.

O relato sobre a importância adquirida pelo Acre no debate sobre a integração da América Latina foi feito ontem à tarde pelo próprio governador Jorge Viana e o líder do PT na Assembléia, deputado Juarez Leitão, durante uma entrevista coletiva na qual os dois falaram da viagem de uma semana ao exterior. Antes de chegar ao Peru, no início da semana, o governador e o deputado, acompanhados do secretário estadual de florestas, Carlos Ovídeo “Rezende”, estiveram nos Estados Unidos e no Canadá, fazendo palestras sobre desenvolvimento e biodiversidade e conhecendo experiências na área de manejo florestal. INTEGRAÇÃO – De acordo com o governador, a saída para o Oceano Pacífico vem ao encontro do discurso de integração proferido diversas vezes pelo presidente Lula. “No Acre, isso já é uma realidade”, constata Viana.

Ele aproveitou a coletiva para anunciar que o governo, inclusive, já trabalha para implantar um porto seco (recintos alfandegados de uso público, situados em zona secundária, nos quais são executadas operações de movimentação, armazenagem e despacho aduaneiro de mercadorias e de bagagem, sob controle aduaneiro. Fonte: www.receita.fazenda.gov.br) no Estado, com apoio do Banco do Brasil. Para que a concretização desse sonho, o Brasil – maior interessado nessa abertura – se propôs a financiar a maior parte dos recursos para a continuidade da estrada. Dos US$ 700 milhões, o governo brasileiro vai custear cerca de US$ 400 milhões, sendo o restante disponibilizado pelo governo do Peru, através de financiamento junto ao CAF (Cooperação Andina de Fomento). “Além de ser solidário com os povos andinos, o Brasil precisa desse corredor de exportação. Fica muito caro exportar pelo porto de Santos (SP), por exemplo”, explica Aníbal Diniz, secretário estadual de Comunicação. Isso significa que, a partir da materialização dessa estrada, os países da América do Sul poderão acenar para a possibilidade de se tornar um pouco mais independentes.

TRÂNSITO LIVRE

Tanto que, a exemplo da União Européia, está próximo o fim da exigência de passaporte para transitar nos países da América do Sul. “Hoje (ontem) esse projeto já deve estar sendo aprovado pela última comissão do Senado”, afirmou Jorge Viana. “Isso representa o fim da fronteira, seremos povos-irmãos. Será um avanço enorme para a comunidade sul-americana”.

O fim do isolamento

Para 2005, concomitante com a continuidade da Estrada do Pacífico, o governo do Estado já se articula para retomar as obras da BR 364. “Não vamos abandonar a BR 317 para nos dedicar à outra. É que tudo está se viabilizando”, ressalta o governador. Assim, além do Brasil se integrar aos países vizinhos por intermédio do Acre, o próprio Estado se encarregará de pôr fim ao isolamento à população do Vale do Juruá. O líder do PT na Assembléia Legislativa do Estado do Acre, Juarez Leitão, que participou da coletiva junto com Jorge Viana, faz coro. “São vinte milhões de pessoas que vivem na Amazônia e ninguém gosta de viver no isolamento. Eu fui uma pessoa que viveu nessa circunstância (ele é seringueiro natural de Feijó) e sei o que é isso”, relatou o parlamentar.

MAL NECESSÁRIO

Porém, como todo o entusiasmo sul-americano em torno da integração, há países que não compartilham desse sentimento. “Recentemente participei de uma palestra nos Estados Unidos e lá, para muitos, essa integração é vista como um mal”, afirmou Leitão. Afinal, são os povos do Terceiro Mundo se unindo e se fortalecendo.

Preservação do meio ambiente e povos tradicionais

Como a intenção do Governo da Floresta é preservar ao máximo a biodiversidade local, tomou-se o cuidado de chamar ambientalistas para ajudar a encontrar soluções no processo de construção das estradas.

“Estamos aprendendo a fazer estradas e estamos tendo muita precaução em relação a isso”, garantiu Jorge Viana. “Vamos procurar ajuda para que as coisas sejam feitas da forma correta”. Diferente do Peru, onde a política de concessões vem devastando a natureza de forma indiscriminada, gerando conflitos e sérios problemas ambientais. Quanto a essa questão, delicada por se tratar de outro país, que receberá subsídios do Brasil para a continuação da Estrada do Pacífico, Jorge Viana esclareceu. “Não teremos que intervir, mas aprovar a liberação de recursos da CAF”.

EXIGÊNCIAS

Ainda assim, o governo brasileiro, que financiará 60% do valor da obra, fez algumas exigências à entidade – que atua como uma espécie de concessionária dos países andinos pobres, da qual o Brasil não faz parte. Uma delas é que empresas brasileiras fiquem responsáveis pela construção da estrada e fornecimento de produtos de insumo. A outra reza que parte do dinheiro da obra seja destinada para a melhoria da qualidade de vida dos povos tradicionais e comunidades indígenas isoladas, primando pela preservação ambiental, com ênfase ao desenvolvimento sustentável. “A estrada não pode ser um problema. Deve ser feita com responsabilidade para evitar destruições”, acredita o governador.

Fonte: Panorama Brasil – 10/12/2004

Fonte:

Neuvoo Jooble