Voltar

Notícias

22
nov
2005
(GERAL)
Explorar para preservar
O barulho das motoserras e o movimento dos tratotres que arrastam toras na fazenda Jamanchim, município de Santa Carmen (MT), em plena floresta amazônica, não são sinônimos de devastação. Na área de 13,82 mil hectares, um pouco maior que a cidade de Niterói (RJ), a indústria Coimal explora madeira sem destruir a fauna e a flora da região. Ali também funciona a escola de floresta, a única unidade do SENAI que treina mão-de-obra para o manejo de baixo impacto da mata tropical. A Coimal é uma das 2.570 empresas que extraem madeira na Amazônia. Com sede em Sinop, município vizinho de Santa Carmen e distante 610 quilômetros de Cuiabá, a indústria encontrou nas técnicas de manejo florestal de impacto reduzido a fórmula para garantir a matéria-prima necessária à produção de forros, rodapés, esquadrias e outros artefatos de madeira dentro de um sistema ecologicamente correto, que tem a aprovação dos órgãos de preservação ambiental. “O manejo florestal é fundamental para perpetuar a atividade madeireira na Amazônia”, diz um dos donos da Coimal, Valdemar Antoniolli.

Ao contrário do que ocorre na exploração convencional, cuja falta de critérios para o corte das árvores acaba devastando a floresta, o manejo de impacto reduzido planeja todas as etapas de extração da madeira. Esse sistema preserva 10% de cada espécie da mata para a produção de sementes, e mantém as árvores com tronco de menos de 44 centímetros de diâmetro, as chamadas remanescentes, as frutíferas e as ameaçadas de extinção. Pelo manejo de impacto reduzido, só são cortadas as árvores de valor comercial, com troncos grandes. Finalizado o corte, a área só volta a ser explorada depois de 25 anos, prazo em que a mata se recompõe. De acordo com os cálculos de Antoniolli, as técnicas de manejo, usadas pela Coimal desde 1992, reduziram em cerca de 25% os custos com a extração da madeira, baixaram a rotatividade da mão-de-obra, aumentaram a qualidade da matéria-prima e valorizaram o produto no mercado internacional. A Coimal produz uma média de 12 mil metros cúbicos de madeira beneficiada ao ano. Desse total, 60% são destinados à exportação.

A parceria entre a Coimal e o SENAI começou a ser costurada em 1999 e se consolidou em 2001. O acordo deu origem ao Projeto Jamanchim, uma das iniciativas da Federação das Indústrias do Estado de Mato Grosso (Fiemt) para estimular o desenvolvimento da atividade madeireira e a consciência preservacionista. O setor madeireiro mato-grossense reúne 1.127 indústrias. Boa parte está na região de Sinop e usa matéria-prima extraída da floresta amazônica. No primeiro semestre deste ano, as exportações de madeira do Estado atingiram US$ 86,07 milhões, um valor 54,64% superior ao de igual período do ano passado, e equivalente a 6,3% do total das vendas externas do produto. A manutenção do bom desempenho do setor no mercado interno e externo, na avaliação da Fiemt, depende da preservação.

"Os cursos da Escola de Floresta conscientizam empresários e trabalhadores sobre a importância da preservação da floresta. O manejo de impacto reduzido é decisivo para a perenização da atividade madereira na Amazônia", afirma o presidente da Federação das Indústrias do Estado de Mato Grosso (Fiemt), Nereu Passini.

DE ENGENHEIROS A MATEIROS

“A proteção do meio ambiente é aliada da produtividade e da competitividade industrial”, afirma Marcos Leandro Garcia, coordenador do Projeto Jamanchim. Por meio dele, o SENAI de Mato Grosso implantou a Escola de Floresta, que integra o grupo de cinco centros de ensino de manejo florestal da área da Amazônia Legal. Encravada no meio da mata, a escola, dotada de sala de aula e alojamento, oferece nove cursos intensivos de qualificação de mão-deobra. Os treinamentos incluem técnicas de exploração com impacto reduzido, identificação e corte de árvores, arraste de toras, construção de pátios de estocagem, picadas e estradas. Também oferecem orientação sobre saúde e segurança no trabalho. A escola formou 467 profissionais, de empresários e engenheiros florestais até operadores de motosserras e mateiros. “A idéia é transformar a Escola de Floresta em uma referência nacional na área de educação ambiental”, diz o diretor-regional do SENAI em Mato Grosso, Gilberto Gomes de Figueiredo.

O projeto Jamanchim integra as ações do programa ProManejo, do Instituto Nacional do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Destinado a apoiar o manejo sustentável da floresta amazônica, o ProManejo foi criado em 1999 e conta com o apoio do Programa de Proteção das Florestas Tropicais do Brasil, financiado pelos países ricos. A escola de floresta, que recebe recursos financeiros do Banco Alemão para Reconstrução (KFW), é hoje uma das 21 iniciativas consideradas promissoras pelo ProManejo. “O projeto do SENAI e da Coimal é uma prova de que a indústria madeireira está preocupada com a preservação da floresta”, afirma a assessora técnica do ProManejo, Rossynara Marques. Segundo ela, o trabalho inspira ações semelhantes em outros Estados, como Pará e Rondônia.

Com o êxito do Projeto Jamanchim, o SENAI de Mato Grosso ampliará sua ação na área de manejo florestal e já se candidatou aos recursos internacionais recebidos pelo ProManejo para o combate ao desmatamento da Amazônia. Há projetos em andamento para fortalecer a escola de floresta, aumentando a oferta de cursos e a divulgação das vantagens do manejo sustentado para o aumento da qualidade e da competitividade da indústria madeireira. Além disso, o SENAI de Mato Grosso pretende levar sua metodologia para outros Estados e difundir o desenvolvimento sustentado neste setor.

Fonte: CNI – 25/10/2004

Fonte:

Neuvoo Jooble