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22
nov
2005
(GERAL)
Papel de protagonista
O mundo riu dos primeiros brasileiros que se aventuraram a fazer celulose de eucalipto nos anos 40 e 50. Tentativas anteriores tinham resultado em celulose ruim e de viabilidade econômica duvidosa. Por que havia de ser diferente no Brasil? Por isso, quando um fungo quase dizimou uma floresta a Aracruz no Espírito Santo, na década de 60, muitos pensaram que era o golpe de misericórdia numa indústria condenada. Pesquisadores da empresa, porém notaram que algumas árvores eram imunes à doença e trabalharam para multiplica-las, aproveitando a capacidade de o eucalipto produzir brotos quando é cortado. Eles aceleraram o processo extirpando os brotos e tratando-os com hormônios em condições ideais de luz, água e nutrientes. O método não só permitiu repovoar a floresta da Aracruz com árvores resistentes à praga, como acelerar a seleção genética dos melhores eucaliptos. Com isso, na década seguinte, as florestas produziram o dobro de metros cúbicos de madeira por hectare. A inovação rendeu à Aracruz o prêmio sueco Marcus Wallenberg, considerado o “Nobel” da área florestal.

Foi esse espírito inovador que, em três décadas, levou a indústria brasileira de celulose e papel para o time das melhores do mundo na área, tornando o País o sétimo maior exportador do produto. Graças aos investimentos em P&D, a produção do setor cresceu mais de oito vezes e as exportações saltaram de US$ 37 milhões para US$ 2,83 bilhões, tornando o setor responsável por quase um décimo de superávit da balança comercial do País. O Brasil é hoje líder mundial em tecnologia para produção de pasta e papel de eucalipto e o maior produtor do mundo de celulose de fibra curta.

Em dez anos, um novo salto Com diversas fábricas novas em construção e outras em projeto, o setor de celulose e papel se prepara para um novo salto: em dez anos, os planos são aumentar em 60% a produção de celulose, em 72% a de papel e em 54% as exportações. Mais uma vez, P&D terão papel central na expansão, com as maiores expectativas centradas no melhoramento genético.

Por isso o setor decidiu entrar pesado na biotecnologia, unindo esforços num grande projeto pré-competitivo – o Genolyptus – que reúne 50 pesquisadores das 12 maiores produtoras do País, 7 universidades e 3 centros de pesquisa da Embrapa. O objetivo é identificar os genes do eucalipto responsáveis pelas características de interesse para a indústria – densidade da madeira, comprimento das fibras, teores de celulose e lignina, resistência a doenças etc. Conhecendo os genes, não será preciso esperar que os cruzamentos das árvores campeãs cresçam para saber quais herdaram a melhor combinação de qualidades. Comparando o DNA do eucalipto com o de outras árvores mais estudadas, os pesquisadores já identificaram mais de cem genes relacionados à densidade da madeira, teor de celulose e lignina e resistência à ferrugem. Simultaneamente, um amplo experimento de campo cruzou as melhores variedades de eucalipto desenvolvidas por cada uma das empresas e plantou 50 mil dessas árvores em todas as regiões e climas do Brasil. “Vamos comparar geneticamente as árvores que apresentarem os melhores resultados com as outras e observar as diferenças”, explica Dario Grattapaglia, pesquisador da Embrapa e coordenador do projeto. Com isso se espera, por exemplo, poder adaptar ao clima brasileiro uma variedade de eucalipto que requer menos química para ser processada ao mesmo tempo em que é capaz de produzir 32% mais celulose por m³ de madeira.

Os ambiciosos planos são compatíveis com os avanços recentes. Nas últimas três décadas, as inovações permitiram à indústria de celulose e papel reduzir custos e melhorar a qualidade dos produtos em proporções assombrosas. Na área florestal, as inovações foram impulsionadas por uma política oficial que promoveu o surgimento de cursos e centro de pesquisas que faziam parcerias e forneciam pesquisadores para a indústria. Chegou-se assim, a um nível de melhoramento genético e novas técnicas agrícolas que triplicaram a produtividade das florestas. Se na década de 70 a Suzano obtinha três toneladas de celulose por hectare/ano e a Aracruz, seis hoje ambas conseguem 11, número que se espera que chegue a 16 até 2017, com a incorporação da biotecnologia. “Investimos US$ 45 milhões em pesquisa florestal nos últimos 25 anos, mas isso significou uma economia de US$ 75 milhões porque, se tivéssemos de atingir a produção que temos hoje, com a produtividade florestal daquela época, teríamos de investir US$ 120 milhões em terras e plantio”, diz Luis Cornacchioni, gerente de recursos naturais da Suzano, que nos últimos dois anos triplicou as verbas destinadas à P&D.

A Aracruz, primeira investir pesado em desenvolvimento tecnológico, nunca parou de inovar. Seu primeiro sistema de clonagem de eucalipto – aquele que lhe rendeu o “Nobel” florestal – produzia de 100 a 150m² brotos/ano; o atual chega a fornecer 40 mil brotações m²/ano. “E o tempo ideal de crescimento dos brotos caiu de 4 anos para pouco mais de 1 mês”, explica Teotônio de Assis, engenheiro florestal da Aracruz. Nascido na área florestal, o hábito de inovar chegou logo aos processos industriais até porque, feita com tecnologias desenhadas para outras matérias-primas, a celulose brasileira era muito ruim no começo. O setor só vingou por conta dos incentivos fiscais para o reflorestamento e pelo clima: as árvores, principal fator de custo, crescem aqui até 4 vezes mais rápido do que nos outros países produtores. Podia-se assim ter lucro fazendo uma celulose muito barata para aplicações menos nobres.

Com o desenvolvimento de processos adequados ao eucalipto, a qualidade e as aplicações da celulose brasileira cresceram, os custos de produção caíram e, de quebra, o setor tornou-se um dos mais avançados do mundo em termos ambientais, com a Aracruz na vanguarda. O consumo de água do setor, por exemplo, é 30% menor no Brasil que no resto do mundo. Em termos energéticos, graças à queima de resíduos para aquecimento e geração elétrica, hoje um terço das fábricas de celulose nacionais já são auto-suficientes e até vendem energia, proporção que tende a subir com a entrada em operação das várias fábricas em construção ou em projeto. Já o reaproveitamento dos produtos químicos usados no processo, que há meio século era de 60%, chega hoje a 99%. Em 1989, a Aracruz foi a primeira na América Latina a fabricar, com tecnologia própria, celulose totalmente livre de cloro (TCF), tendo desenvolvido depois dois outros processos, mais baratos de branqueamento livre dessa substância, que gera resíduos cancerígenos.

Cotação internacional favorável Com tantos avanços, o gerente de Pesquisa e Desenvolvimento da Suzano, Vail Mandredi, estima que os custos de produção caíram entre 30% e 40% no setor desde 1983. Apesar disso, graças ao aumento da qualidade do produto, o preço internacional da celulose de eucalipto brasileira subiu mais de 90% nos últimos 30 anos, enquanto a celulose tradicional, de fibras longa, aumentou menos de 15%, o que reduziu a distância entre o preço dos dois produtos para um quinto do que era. “As primeiras técnicas de cozimento e branqueamento degradavam as fibras do eucalipto, por isso a celulose era de baixa qualidade, usada só para os fins menos nobres”, explica Jorge Colodette, engenheiro florestal da Universidade Federal de Viçosa (MG), especialista em tecnologia industrial. Com o melhoramento da madeira e dos processos industriais, porém, a superioridade da celulose de eucalipto em várias aplicações, como papel para escrever ou com fins absorventes, é hoje reconhecida no mundo todo. “Isso aconteceu não só porque aprendemos a fazer uma boa celulose de eucalipto, mas porque criamos e até exportamos tecnologia específica para fazer papel e outros produtos a partir dela”, conclui Colodette.

Pioneira, na década de 40, nas pesquisas para o melhoramento genético do eucalipto, a Klabin optou há dois anos por vender suas fábricas de celulose para apostar em fábricas de derivados de papel de maior valor agregado, como embalagens. A decisão obrigou a empresa a dobrar seus investimentos em P&D, criando um departamento específico com 30 funcionários. “Hoje destinamos 0,8% do faturamento à pesquisa, mas o percentual pode chegar a 2% porque estamos apostando em produtos mais intensivos em tecnologia e muito mais lucrativos”, explica Guaracy Azevedo, gerente de P&D da empresa, que exporta hoje mais de 60% de sua produção. Entre as inovações de que a Klabin se orgulha está o desenvolvimento da tecnologia que permite reciclar, além do papel, também o alumínio e o plástico das embalagens tetrapack, para as chamadas bebidas de longa vida.

Fonte: Revista Indústria Brasileira – 01/10/2004

Fonte:

Jooble Neuvoo

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