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Notícias

22
nov
2005
(GERAL)
Pará fica fora do mercado de seqüestro de gás carbônico
Um extraordinário mercado está à disposição dos empresários paraenses sem que os mesmos se dêem conta do filão bilionário que está “abaixo de seus narizes”. Trata-se de um filão explorado mundo afora por empresas dedicadas a resolver problemas do meio ambiente. É o caso de empresas como a Ecológica Planejamento e Desenvolvimento Ambiental, com sede em Palmas (TO), que desenvolveu o primeiro projeto de seqüestro de carbono em operação no Brasil. A operação de compra e venda de títulos financeiros lastreados em créditos de carbono no mercado de capitais, formalizada pela primeira vez entre investidores da Europa e do Japão e a siderúrgica mineira Plantar S.A, cria oportunidade para que o Centro de Pesquisas Canguçu, com atividades de seqüestro de carbono no Tocantins, acelere as negociações com o Banco Mundial, intermediador das negociações. Na apresentação do contrato de compra de 1,5 milhão de toneladas de créditos de gás carbônico, por US$ 5 milhões em sete anos, o especialista em desenvolvimento do setor privado para meio ambiente do Banco Mundial, Werner Kornexl, disse que a instituição avalia um projeto do centro instalado em Pium, próximo à Ilha do Bananal.

Técnicas - “Pelo menos uma dezena de instituições possuem as mesmas condições técnicas de desenvolver projetos semelhantes no Pará, mas, até agora, nada saiu do campo da boa vontade”, esclarece um alto funcionário da Embrapa Amazônia Oriental que não quer ser identificado.

Redução da emissão de CO2 está prevista em protocolo

Os investidores têm interesse em comprar certificados com preço baixo para repassá-los no mercado secundário, disse Kornexls, ao comentar que cada tonelada de gás carbônico negociada como crédito será vendida entre US$ 3 e US$ 5 e que os investidores calculam que a tonelada poderá atingir US$ 10 no mercado secundário. Uma segunda opção é comprar os certificados para serem transferidos às grandes siderúrgicas européias, que usariam os créditos para se adequarem aos limites de emissão de CO2 na atmosfera. A obediência a limites de emissão de CO2 está prevista no Protocolo de Kyoto e já entrou em vigor desde 2003. Entre os 23 integrantes do Prototype Carbon Fund constam os governos do Canadá, Finlândia, Noruega, Suécia e Países Baixos e as empresas Banco Internacional do Japão, British Petroleum, Deutsche Bank e Mitsubishi Corp. O Brasil é um dos signatários do acordo e, por possuir a soberania sobre a floresta amazônica está “sentado em berço esplêndido sobre um dos maiores mercados do mundo sem se dar conta”, criticou o técnico consultado pela reportagem.

Meta - Para atender as condições do contrato de seqüestro de carbono no Tocantins, a siderúrgica Plantar S.A. terá que plantar 23 mil hectares de eucalipto em Minas Gerais, com meta de obter 9,8 milhões de metros cúbicos de carvão vegetal que serão usados para processar 3,8 milhões de toneladas de gusa. A substituição do carvão mineral resultará na não-emissão de 12,1 milhões de toneladas de gás na atmosfera no prazo de 20 anos.

Empresários ligados ao setor de produção e verticalização mineral prevêem no curto prazo o colapso de fornecimento energético de seus alto-fornos em menos de cinco anos e esses projetos “seriam a salvação da lavoura”. Além do contrato de compra, a operação entre a Plantar S.A e o fundo de investimento abrange a compra de créditos referentes a 12 milhões de toneladas de gás carbônico ao preço de US$ 30 milhões ao longo de 20 anos. Segundo Werner Kornexl, os Certificados de Emissões Reduzidas começam a despertar o interesse de companhias americanas.

Inovação tecnológica atraiu vários investidores

A redução nos custos, na verdade, foi impulsionada pelo tipo de trabalho desenvolvido pela Ecológica, que nos últimos seis anos criou uma série de sistemas de medição alternativos aos usados em projetos semelhantes em andamento em outros países. “Como a verba era pequena para um projeto integrado, onde não só se medisse a quantidade de carbono seqüestrada, mas também se incentivasse todo um trabalho que considerávamos fundamental no alicerçamento da preservação ambiental, como a educação e o incentivo à produção de artesanato e ao ecoturismo, buscamos alternativas mais baratas que nos permitissem chegar ao mesmo resultado”, diz o diretor da Ecológica, Divaldo Rezende.

Aquisição - Entre essas alternativas, ele destaca a aquisição de equipamentos manuais de medição planta a planta, que custaram US$ 20 mil. A opção habitual, uma engenhoca que mede o carbono automaticamente em toda a região demarcada, custa mais de US$ 100 mil. “Acabamos desenvolvendo know-how próprio que, além de aproveitar mão-de-obra local, barateia os custos e já despertou interesse de empresas que estavam quase desistindo de projetos por causa do alto preço”, explica.

Filosofia - Para dar uma idéia da economia, Rezende cita o caso de uma montadora estrangeira que teve seu projeto, no Brasil, orçado em US$ 12 milhões para o seqüestro de 15 milhões de toneladas de carbono. Com os US$ 1 milhão da Barry e a filosofia de poupar em tudo o que fosse possível, a Ecológica tornou viável uma área total que hoje abrange 200 mil hectares de floresta nativa, 600 mil hectares de regeneração florestal e 3 mil hectares de agrossilvicultura, permitindo um volume de seqüestro de 25 milhões de toneladas. “O troco virá em benefícios para o projeto e para a comunidade de mais de 30 mil pessoas nos cinco municípios da região e em novos contratos de consultoria que estão chegando constantemente para nós”, conta Rezende. Entre os novos contratos, ele inclui o de outra empresa de energia, a Midway, de Kent, também no Reino Unido, que quer desenvolver um projeto no Brasil, em lugar ainda não definido, para seqüestro de 200 mil toneladas de carbono em dois anos.

E está em fase de contratação mais um projeto, patrocinado por uma montadora do país, a ser criado no Pantanal, em parceria com uma empresa de energia norte-americana. “Quando apresentamos nossos orçamentos, os empresários se entusiasmam com as possibilidades de lucro nos seus investimentos que, de resto, acabariam sendo obrigatórios”, ressalta outro diretor da empresa, o ita-liano Estefano Merlin, que deixou em mãos de terceiros sua fábrica de móveis na região dos Alpes italianos, para administrar a Ecológica. “Esse é o verdadeiro mercado do futuro, do qual ninguém vai escapar”, avalia ele.

Fonte: Amazonia.org.br – 03/09/2004

Fonte:

Jooble Neuvoo

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