Madeiras brasileiras e exóticas
Jucá
Taxonomia e Nomenclatura
Divisão: AngiospermaeClado: Eurosídeas I
Ordem: Fabales – Em Cronquist (1981),é classificada em Rosales
Família: Fabaceae – Em Cronquist (1981),é classificada em LeguminosaeSubfamília: Caesalpinioideae
Gênero: Caesalpinia
Espécie: Caesalpinia ferrea Mart. ex Tul. var.ferrea
Primeira publicação: in Archiv. Mus. Paris 4:137 (1844).
Sinonímia botânica: Caesalpinia ferrea var.cearensis Huber.
Nomes vulgares por Unidades da Federação: em Alagoas e na Bahia, pau-ferro;no Ceará, jucá e pau-ferro; na Paraíba, pau-ferro;no Piauí, jucá e pau-ferro; e em Pernambuco e no Rio Grande do Norte, jucá.
Etimologia: o nome genérico Caesalpinia éuma homenagem a Andrea Caesalpinio, botânico italiano; o epíteto específico ferrea vem da madeira dura que lembra o ferro. Em idioma tupi, o nome jucá (yucá), quer dizer“prisioneiro”. No passado, a madeira dessa espécie era usada pelos índios tupi, na confecção de tacapes, clava terrível com que partiam a cabeça dos inimigos e prisioneiros
Clima
Precipitação pluvial média anual: de316 mm, no Sertão dos Inhamuns, no sudoeste do Ceará, a 1.500 mm, na Paraíba.
Regime de precipitações: chuvas periódicas.
Solos
Caesalpinia ferrea var. ferrea cresce sob amplo aspecto de condições, mas prefere solos de textura argilosa e profundos, ou solos de tabuleiro e coluviões profundos.
Tecnologia de Sementes
Colheita e beneficiamento: quando amadurecem, os frutos do jucá passam da cor verde para a marrom-escura, quase preta. A colheita pode ser feita diretamente das árvores ou catando-se os frutos recém-caídos ao solo, em área limpa.
Produção de Mudas
Semeadura: recomenda-se semear duas sementes em sacos de polietileno, com dimensões mínimas de 20 cm de altura e 10 cm de diâmetro, ou em tubetes de polipropileno de tamanho grande. Quando necessária, a repicagem pode ser feita de 2 a 3 semanas após a germinação ou quando as plântulas atingirem de 5 cm a 7 cm de altura.
Germinação: é epígea ou fanerocotiledonar. A emergência inicia de 3 a 72 dias.
Características Silviculturais
O jucá é uma espécie heliófila. Por isso, não tolera baixas temperaturas.
Hábito: geralmente, apresenta acamamento parcial do caule, ramificação pesada e bifurcações desde a base. É conveniente o uso de tutores para a planta ficar ereta. Apresenta derrama natural e insatisfatória, necessitando de poda (de condução e dos galhos).
Crescimento e Produção
Existem poucas informações sobre o crescimento do jucá em plantios. Contudo, seu crescimento é lento.
Características da Madeira
Massa específica aparente (densidade): amadeira dessa espécie é muito densa: 1,19 g.cm -3.
Cor: o cerne é extremamente duro, de coloração roxa ou castanha a vermelho-escura (quase preta), com manchas amareladas.
Características gerais: a superfície é irregularmente lustrosa, lisa ao tato, e de aspecto fibroso característico; a textura é média e uniforme; a grã é revessa. O cheiro e o gosto são indistintos.
Produtos e Utilizações
Alimentação animal: as folhas do jucá são perenes e consideradas como boa forragem, fornecendo bom alimento ao gado. Essa espécie foi citada por 21 produtores rurais(entre 32 entrevistados), na região de Xingó, em Alagoas, Bahia e Sergipe, como apreciada por caprinos. Esses animais consumiam voluntariamente plântulas, folhas novas, folhas maduras, flores e fruto.
Apícola: as flores do jucá apresentam potencial apícola, fornecendo néctar e pólen.
Celulose e papel: as fibras dessa espécie são moderadamente abundantes, muito curtas e com teor muito alto de lignina. Contudo, é inadequada para produção de papel.
Constituintes fitoquímicos: foram encontrados taninos, sitosterol, ácido palmítico, octacosanoico, saponinas (traços de saponina nas cascas), óleo essencial, alcaloides, flavonoides e cardiotônico.
Energia: a madeira dessa espécie é considerada excelente para produção de álcool, de coque e de carvão.
Madeira serrada e roliça: a madeira do jucá é difícil de ser desdobrada, mas relativamente elástica. No passado, era a madeira preferida pelos silvícolas na confecção de tacapes. Atualmente, no meio rural nordestino, a madeira dessa espécie ainda é usada como “arma de defesa pessoal”, na forma de porrete ou cacetete, “parabenzer o lombo de cabra safado e dar corretivo nos fora-da-lei”. A madeira dessa espécie é própria para obras de construção civil, móveis que necessitam de dobradura, rodas, aros e para trabalhos pesados, mas normalmente prejudicada pelo pequeno porte das árvores.
Substâncias tanantes: na Chapada do Araripe, no sul do Ceará, essa espécie é tradicionalmente usada na extração de tanino.
Medicinal: na medicina popular, Caesalpiniaferrea var. ferrea é muito usada por suas propriedades curativas, no tratamento do diabetes. Na forma de infusão e de xarope, a entrecasca do jucá ou os frutos triturados são usados no tratamento de contusões e de feridas, como também no combate à tosse crônica e à asma. O decocto da casca e da raiz é indicado nos casos de enterocolites e de diarréias e no combate às putrefações intestinais, sendo igualmente recomendado contra afecções bronco-pulmonares. O jucá tem ação cicatrizante, anti-úlcera,hemostática, antidiabética, expectorante, anti-inflamatória, anti-helmíntica, antibacteriana e cardiotônica.Essa planta desenvolve uma redução da ulceração gástrica bem como do processo inflamatório, onde há o envolvimento de mediadores como a histamina, por atuar ao nível dos receptores H 1H2 .Além dessas propriedades, o jucá provoca expectoração, removendo o excesso de muco do aparelho respiratório, principalmente e mafecções catarrais. A presença de taninos poderia explicar tais efeitos. Os alcaloides poderiam auxiliar em efeitos como a desobstrução das vias respiratórias.
Paisagístico: pela casca de colorido variado, folhagem perene, de coloração verde-escura e floração abundante, o jucá apresenta grande apelo paisagístico, sendo usado como planta ornamental em Manaus, AM. Essa espécie pode ser usada na arborização de ruas ou de avenidas, em parques, em jardins residenciais e ao longo de passeios.
Plantios com finalidade ambiental: essa espécie pode ser usada na recuperação de áreas degradas, na recuperação do solo, no enriquecimento de capoeiras e de matas empobrecidas, e na restauração do ambiente fluvial ou ripário (mata ciliar), em solos seminundação.
Principais Pragas
Besouros da família Scolytidae, com danos leves na parte aérea ecoleobrocas, entre as quais Chrysoprasis hipocritae Trachyderes dimidiatus (Cerambycidae:Cerambycinae).
Espécies Afins
Caesalpinia ferrea Martius apresenta três variedades bem caracterizadas. A variedade ferrea (sinônimo: Caesalpinia ferrea var.cearensis), com ocorrência no Nordeste, está presente no agreste, no sertão e na Caatinga, onde é conhecida principalmente por jucá ou pau-ferro; as variedades parvifolia e glabrescenssão características da Floresta Atlântica. Contudo, na floresta úmida nordestina, existe outro pau-ferro (Caesalpinia leiostachya),frequentemente confundido com o jucá.