Madeiras brasileiras e exóticas
Lobeira
Taxonomia e Nomenclatura
Divisão: Angiospermae
Clado: Euasterídeas I
Ordem: Solanales – Em Cronquist (1981), foi classificada em Polemoniales
Família: Solanaceae
Gênero: Solanum
Espécie: Solanum lycocarpum A. St.-Hil.
Primeira publicação: Voy. Distr. Diam. 1 (2): 333. 1833.
Sinonímia botânica: Solanum grandiflorum Ruiz & Pavón var. pulverulentum Sendtn. (1846);Solanum lycocarpum A. St.-Hill. var. decalvatum Witasek (1910).
Nomes vulgares por Unidades da Federação: na Bahia, fruta-do-lobo e lobeira; no Distrito Federal, fruto-de-lobo e lobeira; em Mato Grosso, fruta-de-lobo; em Minas Gerais, fruta-de-lobo, fruteira-de-lobo, jurubebão e lobeira; no Piauí, jurubeba-lobeira e lobeira; e no Estado de São Paulo, fruto-de-lobo.
Etimologia: o nome genérico Solanum vem dolatim solamen (consolo, alívio), em referência ao efeito de várias espécies do gênero de acalmara dor e produzir sono; o epíteto específico lycocarpum origina-se do grego lyco (lobo) ekarpos (fruto), referindo-se ao fruto, que serve dealimento ao lobo-guará (Chrysocyon brachiurusIlliger) .O nome vulgar lobeira é por ser fruta preferida do lobo-guará.
Clima
Precipitação pluvial média anual: de 850 mm, na Bahia, a 1.700 mm, em Minas Gerais, no Paraná e no Estado de São Paulo.
Solos
Solanum lycocarpum ocorre, espontaneamente, em terrenos rasos e profundos, bem drenados, de fertilidade variável, a maioria das vezes em solos pobres, ácidos, com altos teores de alumínio, pH variando entre 3,5 e 5,5, com textura que varia de franca a argilosa.
Tecnologia de Sementes
Colheita e beneficiamento: os frutos da lobeira devem ser colhidos ainda na árvore, em fins de maturação, pois ao caírem no chão são atacados por roedores de hábitos noturnos e por insetos (formigas e cupins) de hábitos diurnos. Em seguida, devem ser amontoados em sacode plástico até a decomposição da polpa, para facilitar a separação das sementes por meio de lavagem em água corrente.
Produção de Mudas
Semeadura: recomenda-se semear a lobeira em sementeiras e depois repicar as plântulas para sacos de polietileno, ou em tubetes de polipropileno de tamanho médio. A repicagem deve ser efetuada 3 a 5 semanas após a germinação.
Germinação: é epígea ou fanerocotiledonar. A emergência ocorre de 20 a 40 dias após a semeadura.
Características Silviculturais
Solanum lycocarpum é uma espécie heliófila.Com relação às geadas, apresenta variação substancial entre origens: não tolerante na quase totalidade da área de ocorrência, e tolerante no centro-leste do Paraná.
Hábito: é irregular, sem dominância apical definida, com ramificação intensa e formando multitroncos. A lobeira não apresenta derrama natural. Ela aceita bem a poda de condução, que deve ser feita periodicamente, bem como a podados galhos.
Sistemas de plantio: o plantio puro, a pleno sol, é recomendado, já que é uma espécie pioneira de terrenos abertos, via sementes.
Crescimento e Produção
Existem poucas informações sobre o crescimento da lobeira em plantios. Contudo, seu crescimento inicial no campo é muito rápido.
Características da Madeira
Massa específica aparente (densidade):a madeira da lobeira é leve.
Cor: alburno e cerne não diferenciados, de coloração esbranquiçada.
Características gerais: textura média e grã direita.
Outras características: a madeira dessa espécie é macia ao corte, de baixa resistência e muito sujeita ao apodrecimento.
Produtos e Utilizações
Alimentação animal: é uma forrageira valiosa, sendo que os bovinos consomem as folhas e os frutos; e os suínos, só os frutos. A seletividade pelos bovinos foi comprovada em material de fístula esofágica em pastagem nativa de Cerrado, sendo que as folhas e os frutos foram consumidos na época seca. Em várias localidades, é comum se afirmar que o fruto da lobeira é venenoso e causa a morte de reses. O exame químico nada revelou de importante. Contudo, de vez em quando, ocorrem acidentes mortais envolvendo gado, mas por asfixia mecânica, não por envenenamento. É que os animais apreciam os frutos dessa espécie, que são vistosos, do tamanho de uma laranja grande. Para alcançá-los, elevam a cabeça, esticando o pescoço; como o fruto da lobeira tem epicarpo liso, ao misturar-se às aliva, desliza para a faringe, onde fica retido, interferindo com a abertura glótica. Assim, a respiração do animal torna-se difícil e ele começa a asfixiar-se lentamente. Caso alguém perceba a tempo, é possível salvá-lo. Para isso, deve-se meter a mão boca a dentro e retirar afruta-de-lobo, desobstruindo assim as vias aéreas do animal.
Apícola: as abelhas retiram apenas o pólen, pois as flores são desprovidas de néctar .Aproveitamento alimentar: quando verde, o fruto da lobeira contém muito tanino; quando maduro, a polpa é amarelada e perfumada, podendo ser usada pelas populações rurais (das regiões de origem), no preparo de doces e de geleias .Contudo, essas guloseimas devem ser consumidas com moderação, pois podem causar distúrbios digestivos, em função da alta taxa de solasonina .A questão que gira em torno das utilidades da lobeira, para o ser humano, é um pouco controversa . Para alguns, trata-se de espécie comestível deliciosa e de muitos usos. Para outros, não passa de fruta de lobos. Contudo, em algumas regiões, há uma crença entre os sertanejos de que o fruto da lobeira causa malefícios digestivos graves e até envenenamentos.
Celulose e papel: a madeira da lobeira é inadequada para esse uso.
Constituintes fitoquímicos: na sua composição química, têm sido identificados os compostos solamargina e solasonina.
Energia: o lenho dessa espécie é recomendado para o fabrico de carvão para pólvora .Madeira serrada e roliça: pelas pequenas dimensões disponíveis, a madeira dessa espécie é empregada apenas em caixotaria.
Medicinal: Solanum lycocarpum é uma espécie muito importante na medicina caseira, sendo recomendada para gripe se resfriados, hepatite e asma. A lobeira tem propriedade emoliente, anti-reumática e tônica. Raízes, folhas e frutos dessa planta constituem poderoso desobstruinte do fígado e do baço. A farinha obtida do mesocarpo do fruto(“polvilho-de-lobeira”) é usada no tratamento do diabetes e como hipocolesteremiante, cuja eficácia tem sido comprovada segundo relato de casos com seres humanos. Acredita-se que os frutos da lobeira tenham ação terapêutica contra o verme-gigante-dos-rins, muito frequente no lobo-guará, que se alimenta, também, desse fruto.
Paisagístico: embora a lobeira seja uma planta ornamental, seu emprego é bastante controvertido, pela toxicidade de seu fruto, que apresenta problemas quando ingerido.
Plantios com finalidade ambiental: a lobeira é uma espécie que atrai outras. É uma praga de pastagens e grande aliada para restauração florestal em pastagens. É adaptada à seca. Seus frutos atraem muitos animais que trazem sementes de outras espécies para a área em restauração. A lobeira foi encontrada, via regeneração natural, em área de voçoroca, em Ouro Preto, MG
Espécies Afins
O gênero Solanum possui mais de 1.700espécies, sendo bem representado na América Tropical, incluindo o Brasil. No Brasil, o nome Solanum lycocarpum tem sido amplamente aplicado no Centro-Oeste, a um conjunto de espécies muito próximas (Solanumcrinitum, S. grandiflorum, S. lycocarpum eS. aff. lycocarpum, possivelmente espécie inédita, embora bastante comum).