Madeiras brasileiras e exóticas
Cumaru-Ferro
Taxonomia e Nomenclatura
Divisão: AngiospermaeClado: Eurosídeas I
Ordem: Fabales (em Cronquist (1981), é classificada em Rosales)
Família: Fabaceae (em Cronquist (1981),é classificada em Leguminosae)Subfamília: Faboideae (Papilionoideae)
Gênero: DipteryxEspécie: Dipteryx odorata (Aublet) Willd.Publicação: in Sp. Pl. iii. 910
Sinonímia botânica: Coumarouna odorata Aubl.
Nomes vulgares por Unidades da Federação:no Acre e no Pará, cumaru-ferro; no Amazonas, cumaru, cumaru-do-amazonas, cumaru-ferro,cumaru-da-folha-grande, cumaru-roxo, cumaru-verdadeiro, cumbari e sarrapia; no Maranhão,cumari; e em Mato Grosso, em Pernambuco e em Rondônia, cumaru.
Nomes vulgares no exterior: na Bolívia, almendro e almendrillo; na Colômbia, charapilla; na Guiana, tonka bean; na Guiana Francesa, gaïacde cayenne; em Honduras, ebo; no Peru,charapilla murciélago; no Suriname, koemaroe; ena Venezuela, sarrapia.Nome comercial internacional: tonka.
Etimologia: o nome genérico Dipteryx deve-se ao fato de a flor apresentar duas asas; o epíteto específico odorata é por causa do cheiro forte de cumarina.
Clima
Precipitação pluvial média anual: de 1.200 mm, no Maranhão, até 2.500 mm, no Amazonas e no Pará. Fora do Brasil, até 7.000 mm de precipitação no Chapare, em Cochabamba, na Bolívia.
Regime de precipitações: chuvas periódicas.
Solos
O cumaru-ferro é indiferente em relação às condições de solo, pois cresce bem em solos moderadamente arenosos a muito argilosos bem drenados, em solos pobres e ácidos a ricos em nutrientes. No Pará, sua ocorrência natural limita-se a determinadas regiões de solos argilosos de fertilidade química alta e sujeitos a compactação. Em Mato Grosso, ocorre em solos de baixa fertilidade química, com pH em água 4,5, com baixos teores de K (potássio) e P (fósforo).Na Bolívia, essa espécie ocorre naturalmente em solos geralmente jovens de origem aluvial que se caracterizam por possuir baixa fertilidade natural, baixo conteúdo de matéria orgânica, pH entre 3,7e 5,5 e baixa capacidade de troca catiônica, com níveis de saturação de Al (alumínio) entre 70 % e80 %.
Tecnologia de Sementes
Colheita e beneficiamento: os frutos devem ser colhidos do chão, sob a planta-mãe, logo após sua queda espontânea. Em seguida, já podem ser utilizados diretamente para semeadura como se fossem sementes.
Produção de Mudas
Semeadura: semear diretamente duas sementes nos recipientes.
Características Silviculturais
O cumaru-ferro é uma espécie esciófila, que não tolera baixas temperaturas. Em plantios no Acre e no Amazonas, essa espécie apresentou melhor comportamento com maiores alturas e diâmetros a pleno sol. Contudo, pode ser consorciada, atuando como plantas ombreadora.
Crescimento e Produção
Existem poucos dados sobre o crescimento de cumaru-ferro em plantios. Contudo, seu crescimento é lento, podendo atingir uma produção volumétrica de até 4,25 m3.ha-1.ano-1,aos 11 anos de idade. No norte de Mato Grosso, essa espécie está apresentando um estado silvicultural bom em plantios..
Características da Madeira
Massa específica aparente (densidade): amadeira do cumaru-ferro é densa a muito densa(0,95 g.cm-3 a 1,19 g.cm-3), com 12 % a 15 % de umidade e densidade verde de 1,28 g.cm-3.
Densidade básica: 0,75 g.cm-3 a 0,95 g.cm-3.
Cor: o alburno é diferenciado do cerne, com uma zona de transição abrupta. A madeira dessa espécie apresenta coloração variável conforme o solo onde cresce, mas geralmente apresenta alburno cinza-amarelo e cerne castanho-avermelhado ou amarelo-rosado.
Características gerais: apresenta anéis decrescimento distintos, grã revessa, textura média afina, brilho ausente e cheiro imperceptível.
Durabilidade: é resistente a fungos, insetos e brocas marinhas. Quando usado como dormentes em solos bem drenados, sua durabilidade varia de10 a 22 anos
.Preservação: o cerne não é tratável com ocre o soto e nem com CCA – A, mesmo em tratamentos sob pressão.
Secagem: a secagem ao ar livre é relativamente lenta. A secagem em estufa é rápida, apresentando tendência a torcimento médio, no programa de secagem 3.
Trabalhabilidade: apresenta difícil processamento mecânico, mas permite excelente acabamento no torneamento. Já nos trabalhos de plaina e de lixa, o acabamento é ruim.
Produtos e Utilizações
Aproveitamento alimentar: as castanhas(sementes) do cumaru-ferro são comestíveis.
Artesanato: as sementes dessa espécie são usadas na confecção de bijuterias (colares) e de artesanato em geral. Contudo, seu uso em artesanato não é recomendado porque as sementes têm ação anti-espasmódica, diaforética, cardíaca e emenagoga, devendo-se tudo à presença da cumarina .
Constituintes químicos: as sementes do cumaru-ferro contêm um óleo essencial aromático amplamente usado na indústria de perfumaria e de cosmético. Esse óleo tem grande demanda no mercado internacional. As sementes dessa espécie são constituídas de 30 %a 40 % (peso seco) de um óleo amarelo-claro, perfumado, que se oxida rapidamente em contato com o ar. Esse óleo é similar aos óleos de outras leguminosas, como o do amendoim .As sementes fermentadas produzem um óleo essencial e industrial – cumarina (anidridocumarínico), que é uma essência aromática usada como narcótico e estimulante. Esse óleo é também usado como fixador na indústria de perfumes.
Madeira serrada e roliça: por ser muito densa e de propriedades físico-mecânicas altas a médias, amadeira de cumaru-ferro pode ser usada em construção civil, como vigas, caibros, ripas, taco se tábuas para assoalhos; pode ser usada ainda em artigos laminados decorativos, em parques, em molduras, em móveis, em torneados, em carroçaria, em carpintaria, em marcenaria, em tanoaria, em estacas, em esteios, em macetas, em mancais, em cabos de ferramentas, em batentes de portas, em buchas de eixo de hélices de embarcações, em eixos de moinhos e outros. A madeira de D. odorata é tida como uma das melhores madeiras para dormentes, não apenas pela durabilidade, mas também por não rachar quando exposta ao sol.
Medicinal: as favas, como são chamadas comercialmente as sementes, são usadas popularmente como diaforéticas ou sudoríficas. A partir do cozimento dos frutos e das sementes, obtém-se um tipo de remédio ou fortificante – com propriedades anestésicas –, que auxilia no tratamento de problemas respiratórios e cardíacos, além de combater vermes, incluindo-se amebíase. Com a casca, prepara-se um xarope usado no combate a tosses, gripes e problemas pulmonares. O óleo da amêndoa pode ser usado diretamente em úlcera bucal, otite (dor de ouvido) e em problemas no couro cabeludo. Pesquisas mais recentes descobriram novidades a respeito do uso do óleo de cumaru-ferro . Esse óleo também pode ser usado na formulação de veneno para matar ratos (como warfarino), por sua capacidade de inibir a coagulação do sangue.
Espécies Afins
O gênero Dipteryx Schreber reúne 13 espécies distribuídas principalmente na Amazônia e na América Central. Destas, 11 espécies ocorrem no Brasil. Várias espécies desse gênero são muito parecidas entre si. Assim, urge uma revisão taxonômica moderna, para delimitar diferenças entre tais espécies