Madeiras brasileiras e exóticas
Ingá Feijão
Taxonomia e Nomenclatura
De acordo com o Sistema de Classificação de Cronquist, a posição taxonômica de Inga marginata obedece à seguinte hierarquia:
Divisão: Magnoliophyta (Angiospermae)
Classe: Magnoliopsida (Dicotyledonae)
Ordem: FabalesFamília: Mimosaceae (Leguminosae: Mimosoideae)
Gênero: IngaEspécie: Inga marginata Willdenow
Publicação: in Spec. Plant. 4 (2): 1015, 1805
Sinonímia botânica: Mimosa semialata Vell.(1835); Inga semialata (Vell.); Ingapycnostachya Benth. (1845).
Nomes vulgares por Unidades da Federação:ingábainha, ingáchinelo e ingáfacão, no Acre;ingá, no Amazonas, em Mato Grosso, no Pará, no Piauí e em Santa Catarina; ingámirim, na Bahia; ingá, ingámirim e ingaí, no Ceará; angazeiro,ingámirim, ingámiúdo, ingápeludo e ingaí, em Minas Gerais; ingá, ingábainha, ingádedo, ingáfeijão, ingámirim e ingazinho, no Paraná; ingá,ingádedo e ingáfeijão, no Rio Grande do Sul; ingá e ingámirim, no Estado do Rio de Janeiro; ingáamarela, em Rondônia; ingá, ingámirim eingazinho, no Estado de São Paulo.
Nomes vulgares no exterior: inga’i, na Argentina e no Paraguai; pacay cola de mono, na Bolívia; cuajiniquil negro, na Costa Rica; guabillo, no Equador; shimbo, no Peru.
Etimologia: o nome genérico Inga vem de ingá, nome indígena da planta. O epíteto específico marginata é porque a vagem apresenta margem delgada.
Descrição
Forma biológica: árvore ou arvoreta perenifólia. As árvores maiores atingem dimensões próximas de 20 m de altura e 50 cm de DAP (diâmetro à altura do peito, medido a 1,30 m do solo), na idade adulta. No Equador, atinge até 30 m dealtura.
Tronco: é reto ou geralmente um pouco tortuoso. O fuste é curto.
Ramificação: é cimosa ou dicotômica, irregular e quase horizontal. A copa é ampla, arredondada, com ramos glabros, densifoliada e de cor intensamente verde escura.
Casca: mede até 6 mm de espessura. A superfície da casca externa é lisa a áspera, de cor marrom escura, com numerosas lenticelas distribuídas de maneira ordenada . Ao ser raspada, apresenta cor parda. A casca interna é fibrosa e rósea.
Folhas: são compostas, alternas, paripinadas eglabras, medindo de 10 a 30 cm de comprimento, com a ráquis foliar nua ou estreitamente alada, e uma glândula entre cada par de folíolos.
Flores: são numerosas, com tendência a abrir se repentinamente, dando a impressão de um aumento cilíndrico. São brancas, vistosas e muito perfumadas, com odor característico e agradável, subsésseis glabras ou um pouco pubescentes.
Fruto: é um legume indeiscente, túrgido, séssil, cilíndrico compresso, glabro, com margens espessas, medindo de 5 a 15 cm de comprimento por 1 a 1,5 cm de largura, com sarcotesta branca envolvendo a semente e verde amarelado quando maduro. Cada fruto contém até dez sementes, com polpa comestível.
Sementes: são semelhantes a um grão de feijão, de coloração castanho esverdeada, medindo de0,9 a 1,2 cm de comprimento, por 0,6 a 0,8 cm de largura, em formato de losango.
Clima
Precipitação pluvial média anual: de 950mm, em Minas Gerais, a 3.000 mm, no Pará.
Regime de precipitações: chuvas uniformemente distribuídas, na Região Sul (excluindose o norte do Paraná). Periódicas, nos demais locais.
Deficiência hídrica: nula, na Região Sul (excluindo se o norte do Paraná). De pequena a moderada, na faixa costeira da Paraíba, no Pará,no Amapá, no Amazonas, no Acre e em Rondônia. De pequena a moderada, no inverno, noDistrito Federal. Moderada, no inverno, no oeste do Estado de São Paulo e no norte do Paraná. De moderada a forte, no inverno, no oeste de Minas Gerais e no centro de Mato Grosso.
Temperatura média anual: 15,5 ºC (Caçador,SC) a 26,7 ºC (Itaituba, PA / Manaus, AM).
Temperatura média do mês mais frio: 10,7ºC (Caçador, SC) a 26 ºC (Manaus, AM).
Temperatura média do mês mais quente:20,0 ºC (Caçador, SC) a 28,2 ºC (João Pessoa, PB).
Temperatura mínima absoluta: 10,4 ºC (Caçador, SC). Na relva, a temperatura mínima pode alcançar até 15 ºC.
Número de geadas por ano: médio de 0 a 30;máximo absoluto, com 57 geadas na Região Sul.
Solos
Ocorre, naturalmente, em vários tipos de solos com textura leve a pesada. Suporta solos ácidos e mal drenados.
Sementes
Colheita e beneficiamento: as vagens devem ser colhidas diretamente da árvore quando iniciarem a queda espontânea ou recolhidas no chão, após a queda. Em seguida, devem ser abertas manualmente para retirada das sementes, envoltas pelo arilo.
Número de sementes por quilo: 680 a 3.100.
Tratamento prégerminativo: não há necessidade.
Longevidade e armazenamento: as sementes apresentam comportamento recalcitrante quanto ao armazenamento, devendo ser semeadas logo após a coleta.
Produção de Mudas
Semeadura: recomenda se semeadura direta em saco de polietileno ou em tubetes de polipropileno de tamanho médio. A repicagem deve ser feita com cuidado, para evitar danos ao sistema radicial.
Germinação: é hipógea ou criptocotiledonar. A emergência tem início de 10 a 30 dias após a semeadura. O poder germinativo é alto, situando se em torno de 80%.
Associação simbiótica: associa se com Rhizobium, formando nódulos globosos, com baixa atividade da nitrogenase.
Cuidados especiais: Recomenda se a aplicação de 5 mg de nitrogênio(NH 4) 2SO 4) com 20 mg de fósforo por quilo de substrato, para melhor desenvolvimento das plântulas. Na fase de viveiro, prefere meia sombra, devendo se evitar o sol direto nas horas mais quentes do dia, por meio de esteiras, ou multiplica lo soba sombra de árvores
Características Silviculturais
O ingá feijão é uma espécie heliófila ou esciófila, medianamente tolerante a geadas, no estágio jovem.
Hábito: o tronco do ingá feijão possui ramificação acentuada.
Métodos de regeneração: regenera se, também, por brotação de toco e de raízes .
Sistemas agroflorestais: Inga marginata é freqüentemente cultivada para sombreamento, por seus frutos, sendo às vezes usada, também, como sombra de café, por sua folhagem densa. Na Bolívia, é recomendada para cortinas de uma só fileira e bordadura das cortinas quebra ventos de três ou mais fileiras. Deve ser plantada com espaçamento de 3 a 5 m entre árvores.
Crescimento e Produção
O crescimento do ingá feijão é lento. Aos 8 anos de idade, essa espécie apresentou um incremento médio anual em volume de1,85 m3.ha 1.ano 1 .
Características da Madeira
Massa específica aparente (densidade):madeira leve (0,40 a 0,50 g.cm 3).
276Cor: o alburno e o cerne são esbranquiçados e pouco diferenciados.
Características gerais: textura média e grã direita.
Outras características: madeira medianamente resistente e moderadamente durável quando protegida das intempéries.
Produtos e Utilizações
Madeira serrada e roliça: a madeira dessa espécie é utilizada em obras internas, carpintaria e caixotaria. Como o tronco possui ramificação acentuada, dificulta a obtenção de tabuados.
Energia: essa espécie produz lenha de boa qualidade e carvão.
Celulose e papel: o ingá feijão é adequado para esse fim .
Substâncias tanantes: a casca do ingá feijão contém de 10% a 15% de tanino .
Alimentação animal: a forragem do ingá feijão apresenta 20% a 22% de proteína bruta e 2,9% a5,8% de tanino .
Alimentação humana: os frutos dessa espécie são comestíveis, refrigerantes e de agradável sabor. A polpa, que envolve as sementes, é muito apreciada pela garotada .
Apícola: essa espécie é reputa da como grande produtora de néctar e pólen. Por isso, é muito procurada pelas abelhas .
Medicinal: na medicina popular, o fruto dessa espécie é indicado no tratamento de úlceras vaginais. O de cocto da casca é adstringente e hemostático (LOPEZ et al., 1987).
Paisagístico: essa espécie é muito atrativa para fins ornamentais. Por seu porte adequado e excelente sombra, é também indicada para arborização de ruas, de parques ou de campos onde haja suficiente espaço para seu bom desenvolvimento.
Plantios em recuperação e restauração ambiental: o ingá feijão é uma espécie muito importante na ocupação de áreas degradada se na restauração de ambientes ripários, por ser uma planta que contribui na fertilização dos solos e auxilia a recuperação dos solos pobres ou esgotados pelo cultivo. Suporta encharcamento e inundação
Pragas
Em frutos maduros em decomposição, coletados no Estado do Rio de Janeiro, Ferraz et al. (2000)encontraram 78,8% de Nitidulidae, 1% de Curculionidae, 1% de Lyctidae, 1% de Cucujida,1,4% de Scolytidae, 14,7% de larvas de moscas e2,1% de outros.
Espécies Afins
O gênero Inga Miller, exclusivamente neotropical, apresenta cerca de 300 espécies distribuídas do sul do México até o Uruguai; no Brasil, ocorrem cerca de 143 espécies. Certas formas de Inga marginata, encontradas no Sul do Brasil, aproximam se de I. laurina (Sin: fagifolia) .O ingáfeijão distingue se dos demais ingás, principalmente por sua copa arredondada, com folhagem muito densa, verde escura, e por suas flores densamente agrupadas em cachos e vagens quase cilíndricas, finas e compridas.