Madeiras brasileiras e exóticas
Figueira Brava
Taxonomia e Nomenclatura
De acordo com o Sistema de Classificação de Cronquist, a posição taxonômica de Ficus enormis obedece à seguinte hierarquia:
Divisão: Magnoliophyta (Angiospermae)
Classe: Magnoliopsida (Dicotyledoneae)
Ordem: UrticalesFamília:
MoraceaeGênero: FicusEspécie: Ficus enormis (Martius ex Miquel) Miquel
Publicação: Ann. Mus. Bot. Ludg. Bat. 3: 298,1867.
Sinonímia botânica: Urostigma enorme Mart.ex Miq.; Ficus erubescens Warb. ex Glaziou; Ficussubaporuloides Warb. ex Glaziou.Nomes vulgares por Unidades da Federação: figueira, figueira das pedras e gameleira, em Minas Gerais; figueira e figueira branca, no Paraná; figueira da pedra e gameleira, no Estado doRio de Janeiro; figueira, figueira brava e figueira do mato, no Rio Grande do Sul; figueira branca e figueira miúda, em Santa Catarina; figueira, figueira branca, figueira matapau, figueira preta, gameleira e matapau, no Estado de São Paulo.
Nomes vulgares no exterior: ivapoy, na Argentina; guapoy moroti, no Paraguai; higuerón, no Uruguai.
Etimologia: o nome genérico Ficus é nome oriundo do latim clássico para designar o figo usado comercialmente; o epíteto específico enormis foi dado por Carl Friedrich Philipp von Martius, por encontra la de porte muito elevado em floresta, próximo a Aparecida, no Estado de São Paulo .
Descrição
Forma biológica: árvore perenifólia. As formasbiológicas dessa espécie são das mais variadas, desde exemplares sobre rochas escarpadas com apenas 1,5 m de altura e frutificando normalmente, e outros de muito maior porte. Contudo, as árvores maiores atingem dimensões próximas de 30 m de altura e 2 m de DAP (diâmetro à altura do peito, medido a 1,30m do solo), na idade adulta. O ciclo de vida é interessante porque pode existir como epífita ou como árvore. Os pássaros se alimentam dos frutos e deixam as sementes nas forquilhas de outras árvores. Ali, as sementes germinam e crescem como epífitas com raízes aéreas.
Casca: com espessura de até 8 mm. A superfície da casca externa é grisácea e lisa, muito delgada e com lenticelas horizontais. Ao ser raspada, apresenta cor verde. A casca interna é rosado amarelada a esbranquiçada, com textura arenosa. A incisão exsuda abundante látex leitoso e branco.
Folhas: são elípticas, lanceoladas a oblongas, de nervação broquidódroma. Apresentam de 6 a 8pares de nervuras secundárias. A face adaxial é glabra ou pubérula, principalmente nas nervuras. A face abaxial também é glabra ou mais freqüentemente pubescente. O ápice é agudo a obtuso e acuminado. A base é aguda, obtusa ou truncada. A lâmina foliar mede de 4 a 15 cm de comprimento por 2,5 a 9 cm de largura.
Flores: são diminutas, numerosas, masculinas e femininas (quase imperceptíveis).
Frutos: são sicônios globosos e aglomerados nas extremidades dos galhos, sésseis ou subsésseis, medindo de 7 a 20 mm de diâmetro. Quando maduros, apresentam cor brunoa vermelhada abruno violácea, com numerosas sementes.
Semente: é diminuta, medindo cerca de 1 mm de diâmetro.
Clima
Precipitação pluvial média anual: de1.100 mm, em Mato Grosso do Sul e no sul doRio Grande do Sul, a 3.380 mm, na Serra de Paranapiacaba, SP.
Regime de precipitações: chuvas uniformemente distribuídas, na Região Sul (excetuando-se o norte do Paraná) e o litoral do Estado de São Paulo. Periódicas, nas demais regiões.
Deficiência hídrica: nula, na Região Sul(excetuando se o norte do Paraná) e no litoral do Estado de São Paulo. Pequena, no verão, no sul do Rio Grande do Sul. Moderada, no inverno, no oeste do Estado de São Paulo, no norte do Paraná e no sul de Mato Grosso do Sul. De moderada a forte, no inverno, no oeste de Minas Gerais e no noroeste de Mato Grosso do Sul.
Temperatura média anual: 13,4 ºC (Campos do Jordão, SP) a 25 ºC (Corumbá, MS).
Temperatura média do mês mais frio: 8,2 ºC(Campos do Jordão, SP) a 21,1 ºC (Corumbá, MS).Temperatura média do mês mais quente:19,9 ºC (Curitiba, PR) a 27,2 ºC (Corumbá, MS).
Temperatura mínima absoluta: até 8,4 ºC(Castro, PR).
Número de geadas por ano: médio de 0 a 30;máximo absoluto de 81 geadas no Planalto Sul Brasileiro e em Campos do Jordão, SP.
Solos
A figueira brava ocorre, naturalmente, em diversos tipos de solos.
Sementes
Colheita e beneficiamento: os frutos (figos)devem ser colhidos diretamente da árvore, quando iniciarem a queda espontânea ou recolhidos no chão, sob a planta mãe, logo após a queda. Como suas sementes são muito pequenas para separálas, recomenda se deixar os frutos amontoados em saco de plástico durante alguns dias, até sua decomposição parcial. Depois, macerálos manualmente, em mistura com água, até forma ruma suspensão aquosa .
Número de sementes por quilo: 5 milhões.
Tratamento prégerminativo: não há necessidade.
Longevidade e armazenamento: Recomendam armazenamento das sementes em saco de plástico, em câmara fria(18 ºC e 60 % de umidade relativa), por até 12meses.
Produção de Mudas
Semeadura: a produção de mudas da figueira brava, via sementes, comumente fracassa, seja pela ausência de sementes viáveis nos frutos seja pela dificuldade do manuseio das sementes, que são muito pequenas.
Germinação: é epígea ou fanerocotiledonar.A emergência tem início de 10 a 35 dias após a semeadura, sendo a taxa de germinação geralmente baixa.
Propagação vegetativa: normalmente, as espécies do gênero Fícus são propagadas com facilidade, por estacas de caule, sendo necessário desenvolver métodos apropriados para as figueiras nativas. O tempo de permanência das estacas no viveiro é de 7 meses.
Características Silviculturais
A figueira brava é uma espécie esciófila, que tolera medianamente baixas temperaturas quando jovem.
Hábito: essa espécie apresenta alta plasticidade em forma, desde touceiras a crescimento monopodial.
Métodos de regeneração: a figueira brava é recomendada para plantio misto, a pleno sol.
Sistemas agroflorestais: às vezes, essa espécie é plantada por causa de sua grande sombra. No Paraguai, ela é usada em cercas vivas.
Crescimento e Produção
Há poucos dados de crescimento sobre a figueira brava em plantios
Características da Madeira
Massa específica aparente (densidade): amadeira da figueira brava é leve 0,40 g.cm 3.
Cor: o cerne é branco encardido, com tonalidade levemente acinzentada e o alburno é indistinto.
Características gerais: apresenta textura grosseira e grã direita. A superfície é levemente áspera ao tato, apresentando brilho pouco acentuado. O gosto e o cheiro são indistintos.
Produtos e Utilizações
Madeira serrada e roliça: a madeira dessa espécie tem poucas aplicações. É utilizada como desdobro, caixotaria e painéis.
Energia: a lenha da figueira brava é de péssima qualidade.
Celulose e papel: essa espécie é adequada para polpa para papéis.
Constituintes fitoquímicos: presença de cumarina, de esteróides, de triterpenóides e de antra derivados na casca e no lenho .
Alimentação humana: os frutos são comestíveis.
Medicinal: o látex das folhas tem valor medicinal. Em alguns lugares, esse látex é empregado como remédio contra os parasitos intestinais (gê
nero Ascaris) . O látex das folhas e do fruto extirpa calos e verrugas. O emplastro das folhas ajuda na cicatrização de feridas. Uma gota de látex alivia a dor de dente. A ingestão de 10 a 20 gotas de látex, em jejum, é suficiente para eliminar os vermes intestinais. Os índios do Paraná e de Santa Catarina usam a casca do caule e o látex das folhas da figueira brava no tratamento de contusões ou machucadura .
Paisagístico: devido à sua grande sombra, essa espécie é recomendada para parques . É também considerada importante suporte (forófito) para orquídeas, bromélias eoutras epífitas.
Plantios em restauração e recuperação ambiental: espécies de Ficus são consideradas peças importantes na dinâmica dos ecossistemas florestais onde ocorrem, principalmente por suas relações marcantes com a fauna. Seus galhos, quase sempre horizontais, seu tronco retorcido pelo processo de estrangulamento da árvore suporte e suas raízes tabulares que se elevam do solo são utilizados por aves, répteis e mamíferos para repouso e locais de construção de ninhos. Possui dupla importância na conservação da natureza: apresenta sistema radicular possante capaz de conter encostas em vias de desmoronamento e seus frutos são apreciadíssimos pela fauna de vertebrados e invertebrados. Plântulas dessa espécie podem ser encontradas, também, nas axilas dos pecíolos das folhas de palmeiras .
Espécies Afins
O gênero Ficus Linnaeus compreende cerca demil espécies. Carauta (1989) separa F. enormisde F. luschnatiana Miq. pela presença de ostíolo elevado e sicônios aglomerados no ápice dos galhos na primeira e ostíolo crateriforme ou plano esicônios distribuídos ao longo dos galhos na segunda. Contudo essas espécies devem ser melhor estudadas, pois para os espécimes encontrados a Reserva do Parque Estadual das Fontes do Ipiranga, em São Paulo, SP, aqueles que apresentam ostíolos elevados tornam se depressos após a secagem do material e a aglomeração dossicônios tanto no ápice como ao longo dos ramos ocorre num mesmo indivíduo. Ficus enormis assemelhasse a F. mexiae, comum em Minas Gerais. As diferenças entre essas duas espécies podem ser consideradas como as seguintes: no caso do F. mexiae, constatam se epibrácteas com 8mm de diâmetro e lobos arredondados, pecíolos curtos com 1,3 a 3 cm e lâmina foliar lanceolada oblonga.