Madeiras brasileiras e exóticas
Espinheira-Santa
Taxonomia e Nomenclatura
De acordo com o Sistema de Classificação de Cronquist, a posição taxonômica de Maytenusilicifolia obedece à seguinte hierarquia:
Divisão: Magnoliophyta (Angiospermae)
Classe: Magnoliopsida (Dicotyledoneae)
Ordem: Celastrales
Família: Celastraceae
Gênero: MaytenusEspécie: Maytenus ilicifolia Martius ex Reissek
Publicação: in Martius, Fl. Bras. Mart. 11(1): 8,1861
Sinonímia botânica: Maytenus ilicifolia Mart.ex Reiss. F. angistior Briquet; Celastrus spinifo-lium Larrañaga; Maytenus muelleri Schwacke.
Nomes vulgares por Unidades da Federação: bom-nome, na Bahia; espinheira-santa, em Goiás e no Estado do Rio de Janeiro; limãozinho, em Minas Gerais; cancorosa, cancrosa, erva--cancrosa, erva-santa, espinheira, espinheira--santa e sombra-de-touro, no Paraná; cancerosa,cancorosa, cancrosa, congorça, coromilho-do--campo, erva-cancerosa, erva-santa, espinheira-de-deus, espinheira-divina, espinheira-santa,espinho-de-deus, quebrachilho, salva-vidas e sombra-de-touro, no Rio Grande do Sul; cance-rosa, cancorosa, cancrosa e espinheira-santa, em Santa Catarina; sombra-de-touro, no Estado de São Paulo.
Nomes vulgares no exterior: na Bolívia, cangorosa e no Paraguai, concorosa.
Etimologia: o nome genérico Maytenus provém de maitén, termo aborígene chileno (mapuche),que designa uma celastrácea arbórea do Chile(Maytenus boaria L.); o epíteto específico ilicifoliaé porque a planta apresenta folhas semelhantes às do gênero Ilex .O nome comum espinheira-santa refere-se às saliências pontiagudas da margem serreada pontiaguda das folhas que lembram espinhos e à sua extraordinária ação terapêutica sobre úlceras estomacais
Descrição
Forma biológica: subarbusto, arvoreta ou árvore perenifólia. As árvores maiores atingem dimensões próximas de 12 m de altura e 35 cm de DAP (diâmetro à altura do peito, medido a 1,30 m do solo),na idade adulta.
Tronco: é liso, com fuste curto.
Ramificação: é dicotômica e a copa apresenta galhos angulosos, estriados e glabros.
Casca: com espessura de até 5 mm. A casca externa apresenta estrias longitudinais.
Folhas: são alternas, simples, glabras e coriáceas e apresentam nervuras proeminentes na face abaxial. A lâmina foliar mede de 22 a 89 mm de comprimento e de 11 a 30 mm de largura. O pecíolo mede de 2 a 5 mm de comprimento. A formadas folhas varia de elíptica a estreitamente elíptica, com base aguda a obtusa e ápice agudo a obtuso, mucronado ou aristado. Podem apresentar margem inteira ou com espinhos em número variável, distribuídos regular ou irregularmente na borda, geralmente concentrados na metade apical de uma ou de ambas as margens.
Inflorescências: apresentam-se em fascículos axilares multifloros, com 2 a 3 flores.
Flores: são pequenas e de pétalas oblongas, ver-de-amareladas, com pedicelos curtos e delgados, medindo de 1 a 2 mm de comprimento.
Fruto: é uma cápsula loculicida bivalvar , orbicular, de coloração vermelho-alaranjada, medindo de 6 a 10 mm de comprimento, com estilete no ápice, e com 1 a 4sementes.Sementes: são eretas, suborbiculares, elipsóidesou obovais, às vezes angulosas, envoltas inteiramente pelo arilo carnoso, de coloração branca, cobrindo toda a semente. A testa é rija, lisa e brilhante, geralmente com coloração castanha ou negra.
Clima
Precipitação pluvial média anual: de1.100 mm, em Mato Grosso do Sul, no Rio Grande do Sul e no Estado do Rio de Janeiro, a 2.300mm, no Paraná.
Regime de precipitações: Chuvas uniformemente distribuídas, na Região Sul (excetuando--se o norte do Paraná). Periódicas, nas demais Regiões.
Deficiência hídrica: nula, na Região Sul (excetuando-se o norte do Paraná). Pequena, no verão, no sul do Rio Grande do Sul. De pequena a moderada, no inverno, no centro e no leste do Estado de São Paulo, no sul de Minas Gerais, no sudoeste do Espírito Santo e no nordeste de Goiás.
Temperatura média anual: 13,2 ºC (São Joaquim, SC) a 25 ºC (Corumbá, MS).
Temperatura média do mês mais frio: 9,4ºC (São Joaquim, SC) a 21,3 ºC (Rio de Janeiro,RJ).
Temperatura média do mês mais quente:17,2 ºC (São Joaquim, SC) a 27,2 ºC (Corumbá,MS).
Temperatura mínima absoluta: -10,4 ºC(Caçador, SC). Na relva, a temperatura mínima absoluta pode chegar até -17 ºC.
Número de geadas por ano: médio de 0 a30; máximo absoluto de 57 geadas, na Região Sul. Há também a possibilidade de ocorrência de neve na região de ocorrência dessa espécie, sendo que em São Joaquim, SC, neva quase todosos anos.
Solos
Ocorre, naturalmente, predominantemente, em várzeas aluviais e em beira de córregos, e em solos argilosos profundos de drenagem lenta. Em plantios, apresenta melhor crescimento em solos férteis, em solos bem drenados e com textura argilosa. Em Colombo, PR, apresentou crescimento lento em Cambis solo Húmico Álico de textura argilosa, com fertilidade química baixa .
Sementes
Colheita e beneficiamento: os frutos dessa espécie podem ser colhidos da árvore no estágio de maturação – caracterizado pela ocorrência de valvas abertas –, com coloração do pericarpo vermelho-escura e arilo exposto. Em seguida, os frutos devem serpostos à sombra, até completarem a abertura ea liberação das sementes. A extração das sementes é feita removendo-se, manualmente, o arilo.
Número de sementes por quilo: 10.090, com44% de umidade , a36.496, com 6% de umidade .
Tratamento pré-germinativo: não é necessário.
Longevidade e armazenamento: as sementes da espinheira-santa são de comportamento ortodoxo com relação ao armazenamento e, quando armazenadas fora da câmara fria, perdem a viabilidade rapidamente .Sementes de espinheira-santa armazenadas em câmara fria (5 ºC e 85% de UR), câmara seca(15 ºC e 45% UR) e em ambiente de laboratório apresentaram ao final de 120 dias, um poder germinativo de 85%, 66% e 28% respectivamente.
Produção de Mudas
Semeadura: recomenda-se proceder a semeadura em sacos de polietileno ou em tubetes de polipropileno de 120 cm 3.
Características Silviculturais
A espinheira-santa é uma espécie que pode ocorrer tanto com iluminação direta como sob cobertura, sendo encontrada na terceira e na quarta fases de sucessão . Essa espécie tolera baixas temperaturas.
Hábito: Maytenus ilicifolia é uma espécie sem dominância apical definida e com ramificação desde a base. Apresenta desrama natural fraca, devendo sofrer podas freqüentes de condução e dos galhos.
Métodos de regeneração: recomenda-se plantio consorciado, conforme exemplo bem--sucedido no Estado de São Paulo, com embaúba (Cecropia glaziovii). Nesse consórcio, embora intercaladas com embaúbas jovens, as plantas de espinheira-santa receberam aproximadamente a mesma radiação, como se estivessem a pleno sol recomendam plantio em linha em Floresta Secundária, no estágio de capoeirão.
Características da Madeira
Massa específica aparente (densidade): amadeira da espinheira-santa é moderadamente densa (0,70 g.cm-3), a 15% de umidade (LOREN-ZI, 1998).Cor: o alburno e o cerne são pouco diferenciados, de coloração esbranquiçada.
234Outras características: essa madeira apresenta média resistência mecânica, baixa durabilidade, textura média e grã revessa.
Produtos e Utilizações
Madeira serrada e roliça: pelas pequenas dimensões disponíveis, a madeira da espinheira--santa apresenta pouco valor comercial.
Energia: a madeira dessa espécie é indicada, principalmente, para lenha e carvão. Contudo, há restrições a esses usos, devido à pequena dimensão.
Celulose e papel: Maytenus ilicifolia é inadequada para esse uso. Constituintes fitoquímicos: destacam-set erpenos (maitensina entre outros), taninos,flavonóides, mucilagens, antocianos e açúcares ytansi-noides de M. ilicifolia, citando o uso medicinal como regulador da fertilidade, anticoncepcional eantitumoral.
Medicinal: em 1922, a espinheira-santa tornou--se conhecida no mundo médico, quando o professor Aluízio Franca, da Faculdade de Medicinado Paraná, relatou o sucesso obtido com ela no tratamento da úlcera gástrica Contudo, muito antes dessa constatação, a planta já era usada na medicina popular, por suas propriedades curativas e não só no combate aos males do aparelho digestivo. No Paraná e em Santa Catarina, os índios de várias etnias usavam as folhas, a casca do caule e a raiz da espinheira--santa no tratamento de doenças do trato urinário, câncer de pele, doenças relacionadas ao ciclo menstrual (amenorréia e dismenorréia), diarréia(com cólicas intestinais e melenas) e em lavagens de ferimentos e ulcerações, graça ao feito cicatrizante e antiinflamatório dessa planta .No Paraguai, a população rural usava a espinheira-santa como anticoncepcional, e na Argentina, como antiasmática e anti-séptica. O extrato das folhas dessa espécie apresentam princípios ativos e propriedades terapêuticas cientificamente comprovados pela medicina herbalística do Brasil e dos Estados Unidos, que confirmou o que já sabiam as populações do Sul do Brasil. No Rio Grande do Sul, por exemplo, essa planta é misturada ao chimarrão, para aliviar gastrite, azia e úlcera gástrica ou duodenal. Hoje, sabe-se que tem poderoso efeito contra a hiperacidez do trato digestivo, ulcerações estomacais e úlceras agudas. Nos Estados Unidos, o extrato de suas folhas vem sendo empregado no tratamento de úlceras, para recomposição da flora intestinal e na inibição de bactérias patogênicas, como laxante, para eliminar toxinas através dos rins e da pele, para regular a produção do ácido clorídrico do estômago e no combate a vários outros males.Essa espécie tem ação tonificante, antiúlcera,carminativa, cicatrizante, anti-séptica, levemente diurética e laxativa, auxiliando, também, na eliminação de gases intestinais. A ação antiúlcera gástrica da espinheira-santa, comparando-a à droga cimetidina, considerada de alta eficiência terapêutica. Entre as principais propriedades farmacológicas, destacam-se:• Sua propriedade tonificante se deve à reintegração das funções estomacais por ela promovidas.• Seu potente efeito antiúlcera resulta, provavelmente, da ação dos taninos presentes. Essa ação ocorre, principalmente, pelo aumento do volume e pH do conteúdo gástrico. Tem ainda poder cicatrizante sobre a lesão ulcerosa.• Por sua ação anti-séptica, paralisa, rapidamente, as fermentações gastrintestinais. Certas hepatopatias têm como causa perturbações intestinais, que podem ser combatidas com a espinheira-santa, que age corrigindo o funcionamento intestinal.• Nas gastralgias, acalma rapidamente as dores, não diminuindo a sensibilidade do órgão, mas estimulando ou corrigindo a função desviada. Como uso fitoterápico: infusão das folhas (20 gde folhas em 1 L de água). Tomar 3 a 4 xícarasao dia. Pó: 400 mg de pó, 1 a 2 vezes ao dia. Convém salientar que além da obtenção da espinheira-santa em supermercados e em farmácias e lojas especializadas, essa espécie é adquirida, também, diretamente dos ervateiros. É cultivada nos quintais de Santo Antônio do .Leverger, MT.
Paisagístico: apesar do crescimento lento, a espinheira-santa apresenta qualidades ornamentais, podendo ser empregada, com sucesso, na arborização urbana, principalmente em ruas estreitas e sob redes elétricas.
Plantios em recuperação e restauração ambiental: essa espécie é muito importante para restauração de ambientes ripários e de ecossistemas degradados
Espécies Afins
O gênero Maytenus Molina é constituído por 225espécies, distribuídas principalmente na América Tropical e Subtropical, com algumas espécies no Pacífico Sul, na Ásia, na Malásia e na África. No Brasil, está representado por 77 espécies e 14variedades.Maytenus ilicifolia é facilmente distinguível das demais espécies da seção Oxyphylla, por seus ramos angulosos tetra ou multicarenados e seus frutos orbiculares de coloração vermelho-alaranjada. Contudo, é freqüentemente confundida e identificada como M. aquifolia, espécie-tipo da seção, cujo nome comum também é espinheira-santa. Apesar de serem espécies taxonomicamente bem definidas pela forma de seus ramos, há uma grande similaridade entre suas folhas e flores. Na Floresta Ombrófila Mista (Floresta de Araucária), há duas outras espécies simpátricas de ocorrência comum: Maytenus aquifolium e Soro-cea bonplandii, uma Sapotaceae. Essas espécies, também chamadas de espinheira-santa, se diferenciam de M. ilicifolia por:• Maytenus aquifolium – Apresenta folhas maiores, com nervuras não muito proeminentes.• Sorocea bonplandii – Separa-se facilmente das espécies de Maytenus pela exsudação de látex. Outra espécie muito importante é Maytenus rigida, com ocorrência na Região Nordeste, conhecida por ‘bom-nome’ e com uso comum na medicina popular, com os mesmos usos de M. ilicifolia