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Madeiras brasileiras e exóticas

Cafezeiro do Mato

Cafezeiro do Mato

Taxonomia e Nomenclatura

De acordo com o Sistema de Classificação de Cronquist, a posição taxonômica de Caseariasylvestris obedece à seguinte hierarquia:

Divisão: Magnoliophyta (Angiospermae)
Classe: Magnoliopsida (Dicotyledonae)
Ordem: ViolalesFamília: Flacourtiaceae
Gênero: CaseariaEspécie: Casearia sylvestris Swartz.Publicação: Fl. Ind. Occid. 2.752, 1798
Sinonímia botânica: essa espécie tem umasinonímia considerável, disponível em Sleumer(1980).
Nomes vulgares por Unidades da Federação: caferana, em Alagoas; caiubim e caiumbim, no Acre; saritan, no Amazonas; marinheiro, marinheiro bravo, são gonçalo e são gonçalinho, na Bahia; cabatão, café brabo, café bravo, guaçatonga, língua de tiú e pau de lagarto, no Ceará; erva de tiú e tiú, no Distrito Federal: chá de frade, em Mato Grosso e em Mato Grosso do Sul; café do mato, cafezeiro do mato, erva de lagarto, erva de tiú, espeto, guaçatonga, língua de tiú e pau de lagarto, em Minas Gerais; caiubim, carniceiro e espeto, na Paraíba; baga de pomba, café de bugre, cafezeiro brabo, cafezeiro bravo, cafezeiro do mato, erva de lagarto, erva de macuco e vaçatunga, no Paraná; caiubim, caubim e quaiubim, em Pernambuco; arco de pipa, guaçatonga e guaçatunga, no Estado do Rio de Janeiro; ramo de carne, no Rio Grande do Norte; café de bugre, cafezeiro do mato, carvalhinho,chá de bugre, erva de bugre, erva de ponta da,guaçatunga e varre forno, no Rio Grande do Sul; breu de tucano, em Rondônia; cafeeiro, cafeeiro do mato, cafezeiro e erva de lagarto, em Santa Catarina; café bravo, café do diabo, cafezinho do mato, canela de veado, erva de lagarto, erva de macuco, fruta de pomba, guaçatonga,lagarteira, lagarteiro, línguadetiú, matagado e pau de lagarto, no Estado de São Paulo; camarão, em Sergipe.
Nomes vulgares no exterior: cusé, na Bolívia; cafecillo cimarrón e hierba de burro, no Paraguai;guazatunga, no Uruguai. Casearia sylvestris Cafezeiro do Mato
Etimologia: o nome genérico Casearia é em homenagem ao missionário holandês Casearius; o epíteto específico sylvestris vem do latim sylvestris, da floresta ou silvestre.

Descrição

Forma biológica: subarbusto, arbusto, arvoreta a árvore perenifólia. As árvores maiores atingem dimensões próximas de 20 m de altura e 40 cm de DAP (diâmetro à altura do peito, medido a1,30 m do solo), na idade adulta. No Pico das Almas, na Chapada Diamantina, BA, os indivíduos encontrados medem 0,50 m de altura, atingindo até 3,00 m de altura, na Serra do Cipó, em MG.
Tronco: de seção cilíndrica, é reto a tortuoso, com base normal a ligeiramente canaliculada, e com esgalhamento abundante. Fuste geralmente curto, com até 5 m de comprimento.
Ramificação: dicotômica e simpódica. A copa é baixa, densifoliada, fastigiada a arredondada, com folhagem verde escura. Os ramos apresentam extremidade glabra a pubescente, com lenticelas esparsas a numerosas.
Casca: com espessura de até 5 mm. A casca externa ou ritidoma é cinza escura, fissurada, com a separação em pequenas escamas (descamação).A casca interna é de cor amarelada; textura curto fibrosa; estrutura trançada.
Folhas: são simples, oblongas, elípticas ou ovadooblongas. A base foliar é atenuada, simétrica a assimétrica e a lâmina foliar mede de 4 a14 cm de comprimento por 1 a 4 cm de largura, de consistência membranácea a papirácea. São totalmente glabras, mas, às vezes, apresentam a nervura central numa ou em ambas as faces. Quando observadas contra a luz, notam se pontuações translúcidas pequenas, numerosas e distribuídas por toda a lâmina. A margem é levemente glandularserrulada a serrada. A venação nunca é subtriplinérvea, inconspícua a conspícuana face superior, e inconspícua a proeminentena face inferior. O pecíolo é glabro a pubescente, mede de 0,5 a 0,6 cm de comprimento. Apresenta estípulas caducas. Por ocupar diferentes ambientes, essa espécie apresenta grande variação com relação ao tamanho, à forma e à textura das folhas, e à pilosidade dos ramos mais jovens. O cafezeiro do mato apresenta folhas dísticas, como as da bicuíba (Virola bicuyba), que lembram folhas compostas, semelhantes às do cedro(Cedrela fissilis), da canjarana (Cabralea canjerana subsp. canjerana) e do cuvatã (Cupaniavernalis), motivo pelo qual pode ser confundida com essas árvores pelos inexperientes.
Inflorescências: são sésseis, reunidas em pequenas umbelas congestas e curto pedunculadas, com 20 a 40 flores afixadas na axila foliar.
Flores: são pequenas, mas numerosas, afixadas ao longo dos ramos, brancas, verde esbranquiçadas, verde amareladas ou creme, pouco vistosas e escondidas no meio das folhas.
Fruto: é uma cápsula ovóide e mede cerca de5 mm de diâmetro. É vermelha, tem cálice persistente e contém de 1 a 7 sementes.
Sementes: são glabras, apresentam testa foveolada, com o arilo amarelo e pegajoso.

Clima

Precipitação pluvial média anual: de 830mm, na Chapada Diamantina, BA, a 3.700 mm, na Serra de Paranapiacaba, SP.
Regime de precipitações: chuvas uniformemente distribuídas, no Sul do Brasil (excetuando se o norte do Paraná) e no sudoeste do Estado de São Paulo. Uniformes ou periódicas, na faixa costeira do sul da Bahia. Periódicas, nos demais locais.
Deficiência hídrica: nula, no Sul do Brasil(excetuando se o norte do Paraná) e no sudoeste do Estado de São Paulo. Nula ou pequena, na faixa costeira da Bahia. Pequena, no verão, no sul do Rio Grande do Sul. Pequena, no inverno, no norte do Paraná e no extremo sul de Mato Grosso do Sul. De pequena a moderada, no inverno, no Distrito Federal, no sudoeste do Espírito Santo, no sul de Goiás, no sul de Minas Gerais e no centro e no leste do Estado de São Paulo. De pequena a moderada no Amazonas, no norte de Mato Grosso, no Pará, em Rondônia e em Roraima. Moderada, no inverno, no sudeste e no leste de Minas Gerais, no norte do Paraná e no oeste do Estado de São Paulo. De moderada a forte, no inverno, no centro de Mato Grosso e no oeste de Minas Gerais. De moderada a forte, no oeste da Bahia.
Temperatura média anual: 16,2 ºC a 26,8 ºC.
Temperatura média do mês mais frio: 12,1ºC (Caxias do Sul, RS) a 26 ºC (Manaus, AM).Temperatura média do mês mais quente:19,9 ºC (Curitiba, PR) a 29,2 ºC (Caxias, MA).Temperatura mínima absoluta: 8,4 ºC  (Castro, PR). Na relva, a temperatura mínima absoluta pode chegar até 12 ºC.
Número de geadas por ano: médio de 0 a 13;máximo absoluto de 35 geadas na Região Sul. Classificação Climática de Koeppen:Af (tropical super úmido), na faixa costeira do sul da Bahia, do Paraná e do Estado de São Paulo. Am (tropical chuvoso, com chuvas do tipo monção, com uma estação seca de pequena duração), na Paraíba, no Estado do Rio de Janeiro, no Amapá, no Estado do Amazonas e no Pará. As (tropical chuvoso, com verão seco a estação chuvosa se adiantando para o outono), em Alagoas, na Paraíba, em Pernambuco, no Rio Grande do Norte e em Sergipe. Aw (tropical úmido de savana, com inverno seco), na Bahia, no Ceará, no Espírito Santo, no Maranhão, em Mato Grosso, em Mato Grosso do Sul, em Minas Gerais, no Pará, no Estado do Rio de Janeiro, em Rondônia e no Estado de São Paulo. Cfa (subtropical úmido, com verão quente), no Paraná, em Santa Catarina e no Estado de SãoPaulo. Cfb (temperado sempre úmido, com verão suave e inverno seco, com geadas freqüentes), no Paraná, no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. Cwa (subtropical, de inverno seco e verão chuvoso), no Distrito Federal, no sul de Goiás, em Minas Gerais e no Estado de São Paulo. Cwb (subtropical de altitude, com verões chuvosos einvernos frios e secos), na Chapada Diamantina, BA e no sul de Minas Gerais.]

Solos

Casearia sylvestris ocorre, naturalmente, em diversos tipos de solos, de fertilidade química baixa a alta, solos úmidos ou secos e de textura arenosa a argilosa. Os solos de fertilidade química baixa, normalmente apresentam baixos teores decátions trocáveis, altos teores de alumínio e pHbaixo. Essa espécie requer solos com drenagem boa a regular. Em plantios, tem crescido melhor em solos de fertilidade que varia de média a alta, com propriedades físicas adequadas, como bem drenados de textura argilosa a areno argilosa.

Sementes

Colheita e beneficiamento: os frutos devem ser colhidos diretamente da árvore, quando iniciar a abertura espontânea. Em seguida, devem ser expostos ao sol, para completar a abertura e a liberação das sementes.]
Número de sementes por quilo: 84 mil.
Tratamento prégerminativo: não é necessário.
Longevidade e armazenamento: as sementes dessa espécie têm comportamento recalcitrante com relação ao armazenamento. A viabilidade é curta, perdendo o poder germinativo após 20dias da colheita. Germinação em laboratório: essa espécie germina tanto na luz como no escuro.

Produção de Mudas

Semeadura: como as sementes são pequenas, recomendase semeálas em sementeiras e depois repicar as plântulas para sacos de polietileno com dimensões mínimas de 20 cm de altura e 7 cm de diâmetro ou em tubetes de polipropileno de tamanho médio. A repicagem deve ser feita 3 a5 semanas após a germinação.
Germinação: é epígea ou fanerocotiledonar. A emergência tem início 20 a 40 dias após a semeadura. O poder germinativo é baixo, de 10% a50%. As plantas atingem porte adequado para plantio cerca de 4 meses após a semeadura.
Cuidados especiais: durante a fase de viveiro, tolera sombreamento de intensidade média, pois a pleno sol as plântulas se desenvolvem bem mais lentamente do que as que permanecem na sombra.

Características Silviculturais

Espécie esciófila, que tolera baixas temperaturas.
Hábito: apresenta forma tortuosa, sem dominância apical definida, com ramificação pesada, bifurcações e com multi troncos. Apresenta, também, desrama natural fraca, devendo sofrer podas freqüentes de condução e dos galhos.
Métodos de regeneração: o cafezeiro do mato se desenvolve melhor em plantios sob cobertura. Rebrota da touça, com a formação de vários brotos.

Crescimento e Produção

Existem poucos dados de crescimento do cafezeiro do mato em plantios. Contudo, seu crescimento é lento.

Características da Madeira

Massa específica aparente (densidade):a madeira do cafezeiro do mato é densa  0,84g.cm 3.
Cor: a madeira do cafezeiro do mato é pardo amarelada.
Outras características: a anatomia da madeira dessa espécie pode ser consultada em Pinho;Camargo (1979). A madeira dessa espécie é resistente ao cupim.

Produtos e Utilizações

Madeira serrada e roliça: madeira de baixo valor comercial. Contudo, na Região Metropolitana de Curitiba, PR, é utilizável para cabos de ferramentas ou de utensílios domésticos .
Energia: o cafezeiro do mato produz lenha de pouco valor.
Celulose e papel: essa espécie é adequada para papel. O comprimento das fibras é 1,54 mm e o teor de lignina com cinza é 25,61%.Constituintes fitoquímicos: análises fitoquímicas dessa planta indicam a presença de óleo essencial em suas folhas (terpenos e triterpenos) esteróides ou triterpenóides, flavonóides, ácidos graxos e antocianosídeo. Outras partes dessa planta também apresentam taninos, saponinas e resinas. A marcante percentagem de óleo essencial justifica seu emprego como cicatrizante, antiséptico, antimicrobiano e fungicida. Alimentação animal: no Pantanal Mato Grossense, essa espécie é importante planta forrageira, tanto no período das cheias como durante a seca. Contudo, não é muito consumida quando não falta pasto. O teor de proteína bruta de 13% é bom para bovinos.
Apícola: as flores dessa espécie têm perfume de mel, sendo importante fonte melífera, com produção de pólen. Segundo Backes; Irgang (2004), é uma das poucas espécies arbóreas melíferas de inverno.
Medicinal: há muito tempo, as folhas dessa espécie são amplamente utilizadas na medicina tradicional brasileira, principalmente no tratamento de queimaduras, ferimentos, herpes e pequenas lesões cutâneas. As folhas e casca são consideradas tônicas, depurativas, antirreumáticas  e antiinflamatórias. Estudos clínicos já confirmaram algumas das propriedades preconizadas pela medicina popular. Em Minas Gerais, é utilizada no tratamento dedoenças de pele e como depurativo do sangue. Em muitos países da América do Sul, é incluída na composição de produtos dentários e antisépticos. Como indicações fitoterápicas, podem ser citadas úlcera gástrica, feridas, eczemas, pruridos, distúrbios da pele e picadas de insetos, hidropsia, distúrbios da orofaringe (aftas, herpes simples e halitose ou mau hálito), na forma de chá. A infusão das folhas é administrada por veterinários no tratamento de vacas com problemas de retenção de placenta. O cafezeiro do mato exerce uma significativa ação  antiúlcera, reduzindo o volume de ácido clorídrico produzido. Essa espécie não interfereno processo de digestão dos alimentos e nem na absorção das proteínas. Comparativamente à cimetidina, não aumenta o pH gástrico, o que ocasionaria dificuldades na digestão das proteínas. Ele também previne a irritação da mucosagástrica induzida pelo estresse. Por conter taninos, forma revestimentos protetores na pele e nas mucosas, dificultando infecções. Aumenta a diurese e ativa a circulação periférica, estimulando o metabolismo cutâneo, com consequente tonificação local. Segundo a crença popular, o lagartoteiú (Tupinamba sp.) só enfrenta uma cobra, se houver um pé de cafezeiro do mato por perto, tamanho é o poder cicatrizante da planta. Estudos farmacológicos com ratos, utilizando o extrato de sua casca, mostraram atividade antiinflamatória, protegendoos contra o veneno da cobra jararaca Bothrops jararaca. Por isso, essa espécie é usada, também, contra mordida de cobra.
Paisagístico: o cafezeiro do mato é uma espécie recomendada para arborização de ruas estreitas sob redes elétricas.Plantios em recuperação e restauração ambiental: essa espécie é recomendada para restauração de ambientes ripários, onde suporta inundação e encharcamento; é usada, também, na revegetação natural de voçorocas.As folhas dessa espécie fazem parte da dieta alimentar do macacobugio ou guariba – Alouattaguariba..
Principais Pragas Coleobrocas, entre as quais Engyum quadrinotatum (Cerambycidae: Cerambycinae); Xyleborusretusus e Xyloborus spinulosus –Scolytidae: Ipinae.

Espécies Afins

O gênero Casearia compreende cerca de 180espécies, das quais 75 espécies ocorrem nos neotrópicos, do México até a Argentina) considera duas variedades para essa espécie: C. sylvestris var. sylvestris e C. sylvestris var. lingua, mas admite a ocorrência deformas intermediárias entre ambas, dificultando sua identificação. Vegetativamente C. sylvestris, às vezes, é muito semelhante a C. obliqua ou a C. decandra

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