Madeiras brasileiras e exóticas
Bugreiro - Lithrea molleoides
Taxonomia e Nomenclatura
De acordo com o Sistema de Classificação de Cronquist, a posição taxonômica de Lithrea molleoides obedece à seguinte hierarquia:
Divisão: Magnoliophyta (Angiospermae)
Classe: Magnoliopsida (Dicotyledoneae)
Ordem: SapindalesFamília: Anacardiaceae
Gênero: LithreaEspécie: Lithrea molleoides (Vellozo) EnglerPublicação: in Martius,
Sinonímia botânica: Schinus molleoides Vellozo; Rhus clauseniana Turcz.; Lithraea aroeirinhaMarch.; Schinus terebinthifolius var. ternifoliusMarch.; Schinus leucocarpus Mart. ex Engl.; Lithraea lorentziana Hieron.
Nomes vulgares por Unidades da Federação: aroeira branca, na Bahia; aroeirinha, no Distrito Federal; aroeira, aroeira branca, aroeirinha e aroeirinha branca, em Minas Gerais;aroeira branca, aroeira brava, aroeira de fruto branco, aroeirinha e bugreiro, no Paraná; aroeira, aroeira branca, aroeira brava, aroeira preta e aroeirinha, no Rio Grande do Sul; aroeira branca e bugreiro, em Santa Catarina; aroeira branca, aroeira brava, aroeira preta, aroeirinha e corneíba, no Estado de São Paulo.
Nomes vulgares no exterior: molle de beber,na Argentina; iloke, na Bolívia.
Etimologia: o nome genérico Lithrea é uma adaptação ao nome indígena mapuche do Chilelythri ou llithi, que é dado a uma espécie desse gênero (Lithrea caustica) (FLEIG, 1989).Conforme Farr, Ellen R., Jan A. Leussink andFrans A. Stafleu, Index Nominum Genericorum(Plantarum), vol. 2, Bohn, Scheltema; Holkema,1979, p.995, a grafia correta é Lithrea e não Lithraea .
Descrição
Forma biológica: arbusto, arvoreta a árvore perenifólia. As árvores maiores atingem dimensões próximas de 15 m de altura e 40 cm de DAP(diâmetro à altura do peito, medido a 1,30 m do solo), na idade adulta.
Tronco: geralmente é tortuoso, com fuste curto.
Ramificação: dicotômica.
Casca: com espessura de até 10 mm. A superfície da casca externa é áspera, de coloração marrom acinzentada, superficialmente fissurada e com ocorrência de exsudato avermelhado.
Folhas: são alternas, compostas imparipinadas, raro paripinadas, subcoriáceas, raramente simples (em plântulas ou em brotações jovens), normalmente com 3 a 7 folíolos, às vezes, simples, na parte inferior do raminho; pecíolo medindo de2 a 3,5 cm de comprimento; raque alada, quase do tamanho do pecíolo; folíolos opostos, oblongoelípticos, inteiros, com terminal maior, ápice agudomucronado, sésseis, glabros; nervuras salientes nas duas faces, medindo de 5 a 10 cm de comprimento por 1,5 a 2,5 cm de largura.
Inflorescência: em panículas amplas, paucifloras, axilares ou terminais, laxas, medindo de 2 a7 cm de comprimento, pilosas, pauciflora, com forte cheiro de resina.
Flores: são pequenas, glabras, amarelo esverdeadas ou cremes, mais ou menos arredondadas nabase e sésseis.
Fruto: é uma drupa globosa ou ovóide e simples, semicarnosa, indeiscente, suavemente comprimida lateralmente, monospérmica, monocarpelar, com endocarpo unilocular, esverdeada, medindo cerca de 0,5 cm de diâmetro, com uma semente.
Semente: é piriforme, com superfície glabra, opaca, lisa, de tonalidade amarela ou creme.
Clima
Precipitação pluvial média anual: de 830mm, na Chapada Diamantina, BA, a 2.500 mm, em Pernambuco.
Regime de precipitações: chuvas uniformemente distribuídas, na Região Sul (exceto o nortedo Paraná). Periódicas, nas demais regiões.
Deficiência hídrica: nula, na Região Sul (exceto o norte do Paraná). Nula ou pequena, na faixa costeira de Pernambuco. De pequena a moderada, no inverno, no Distrito Federal, no sul de Goiás, no sul de Minas Gerais, e no centro e no leste do Estado de São Paulo. Moderada, no centro da Bahia.
Temperatura média anual: 13,4 ºC (Campos do Jordão, SP) a 25,5 ºC (Recife, PE).Temperatura média do mês mais frio: 8,2 ºC (Campos do Jordão, SP) a 23,9 ºC (Recife, PE).Temperatura média do mês mais quente:20 ºC (Diamantina, MG) a 26,6 ºC (Recife, PE).Temperatura mínima absoluta: 7,7 ºC(Campos do Jordão, SP). Na relva, a temperatura mínima absoluta pode chegar até 11 ºC.
Número de geadas por ano: médio de 0 a 30;máximo absoluto de 81 geadas no Planalto Sul Brasileiro, e em Campos do Jordão, SP. Classificação Climática de Koeppen:Am (tropical chuvoso, com chuvas do tipo monção, com uma estação seca de pequena duração), em Pernambuco. Cfa (subtropical úmido, com verão quente), no Paraná, no Rio Grande do Sul e no Estado de São Paulo. Cfb (temperado sempre úmido, com verão suave e inverno seco, com geadas freqüentes), no Paraná, no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina e no Estado de São Paulo. Cwa (subtropical,com inverno seco não rigoroso e verão quente e moderadamente chuvoso), no Distrito Federal, em Goiás, em Minas Gerais e no Estado de SãoPaulo. Cwb (subtropical de altitude, com verões chuvosos e invernos frios e secos), na ChapadaDiamantina, na Bahia, no sul de Minas Gerais e no Estado de São Paulo.
Solos
Ocorre, naturalmente, tanto em terrenos secos quanto em solo bem drenado, profundo e com teor de umidade suficiente.
Sementes
Colheita e beneficiamento: os frutos devem ser colhidos diretamente da árvore, quando maduros. Em seguida, devem ser levados ao sol, para facilitar sua separação da inflorescência. A retirada manual do epicarpo e a separação das sementes devem ser feitas por meio de maceração.
Número de sementes por quilo: 21 mil.
Tratamento pré germinativo: não é necessário.
Longevidade e armazenamento: a sementedo bugreiro apresenta comportamento ortodoxo com relação ao armazenamento . Sementes dessa espécie com 45% de germinação inicial, quando armazenadas após 103a secagem a 5 ºC e a 18 ºC, apresentaram, respectivamente, 46% e 51% de germinação.
Produção de Mudas
Semeadura: pode se, também, utilizar diretamente os frutos para semeadura, como se fossem sementes. Recomenda se usar canteiros semi sombreados, contendo substrato organo argiloso; as sementes devem ser levemente cobertas com o substrato e irrigadas diariamente. A repicagem deve ser feita quando as plântulas atingirem4 a 5 cm de altura.
Germinação: é epígea ou fanerocotiledonar. A emergência inicia se de 8 a 53 dias após a semeadura. A germinação é variável, entre 25%a 80%. As mudas atingem porte adequado para plantio cerca de 3 meses após a semeadura, apresentam altura média de 28 cm e um diâmetro médio de colo de 3,5 mm. Quando ultrapassarem 20 a 30 cm de altura, podem ser levadas para plantio, no local definitivo. Apresentam sistema radicial pivotante, com raiz axial longa, fina e pilosa, coloração marromescura e muitas raízes secundárias cilíndricas, curtas e finas. Associação simbiótica: essa espécie apresenta baixa incidência de micorriza arbuscular.
Características Silviculturais
O bugreiro é uma espécie heliófila, que tolera baixas temperaturas.
Hábito: apresenta forma tortuosa, sem dominância apical definida, com ramificação pesada e bifurcações. Apresenta, também, desrama natural fraca, devendo sofrer podas freqüentes de condução e dos galhos.
Métodos de regeneração: em função de suas exigências ecológicas, o bugreiro deve ser plantado a pleno sol. Apresenta brotação vigorosa da cepa ou da touça.
Crescimento e Produção
O crescimento do bugreiro é lento. O incremento volumétrico médio máximo registrado foi de 2,57 m 3.ha 1.ano 1, aos 8 anos).
Características da Madeira
Massa específica aparente (densidade): amadeira é moderadamente densa.Outras características: a madeira dessa espécie é dura, compacta, pouco elástica, fácil de rachar e de longa durabilidade.
Produtos e Utilizações
Madeira serrada e roliça: a madeira do bugreiro é útil para postes, construção civil, marcenaria, dormentes, obras de torno, obras hidráulicas, mourões e esteios.
Energia: o bugreiro é uma espécie produtora de carvão e de lenha de grande poder calorífico. Na Região de Luminárias, MG, essa espécie é considerada como produtora de lenha boa, porque dá labareda, produz menos fumaça e a brasa se conserva por mais tempo.
Celulose e papel: Lithrea molleoides é inadequada para esse uso.]
Substâncias tanantes: a casca é rica em tanino, o que a torna resistente à putrefação, além de fornecer material tintorial.
Alimentação humana: Na Argentina, os frutos dessa espécie são utilizados na elaboração de uma bebida tradicional (aloja). Em Catamarca, os frutos se misturam com os do algarrobo blanco (Prosopis chilensis) para o preparo da aloja de algarroba. Esses frutos também são vendidos no mercado, para o preparo de refrescos. Em Córdoba, também na Argentina, é costume generalizado associar esses frutos ao mate, com o propósito de adoçálo e de melhorar o sabor dessa erva.
Apícola: as flores do bugreiro são melíferas, produzindo pólen e néctar.
Medicinal: as folhas do bugreiro são aromáticas e medicinais. De todas as aroeiras, essa espécie é considerada extremamente cáustica, porque causa as maiores reações alérgicas a pessoas sensíveis (pré dispostas). O simples cheiro da planta ou o óleo volátil (que ao ser cortada dela se desprende), a seiva ou a madeira seca, ou mesmo aterra em que crescem suas raízes podem causar uma afecção cutânea semelhante à urticária, edema de pele ou eritema – muitas vezes penoso–, quando acompanhado de febre e de males targeral. Nesses casos, a lavagem com o de coctodas folhas da aroeira mansa (Schinus terebinthifolius) é um remédio eficaz. A casca dessa espécie é tida como depurativa e febrífuga. O cozimento da casca é indicado no combate à diarréia, à disenteria e a fecções das vias urinárias e respiratórias. Possui ainda, propriedades estimulantes e diuréticas.
Paisagístico: a árvore é bastante ornamental, podendo ser usada, com sucesso, em parques e jardins, tendo como único inconveniente seu princípio alérgico. Plantios em recuperação e restauração ambiental: essa espécie é importante para reconstituição de ecossistesmas degradados. Na restauração de ambientes ripários, o uso da semeadura direta em solos úmidos ou em áreas sujeitas a inundações periódicas é viável. É recomendada para revegetação natural de voçorocas .Óleo: os frutos encerram um óleo essencial. Deve se tomar muito cuidado com essa planta, por tratar se de espécie altamente tóxica. Em contato com a pele, seu óleo pode produzir edema e eritema. As sementes apresentam as aplicações da terebintina.
Espécies Afins
O gênero Lithrea Miers compreende dez espécies. Dessas, três ocorrem na América do Sul. Principalmente, Lithrea brasiliensis L. Marchand, que difere de L. molleoides, por apresentar folhas simples.