Madeiras brasileiras e exóticas
Almecegueira
Taxonomia e Nomenclatura
De acordo com o Sistema de Classificação de Cronquist, a posição taxonômica de Protium hep-taphyllum obedece à seguinte hierarquia:
Divisão: Magnoliophyta (Angiospermae)
Classe: Magnoliopsida (Dicotyledonae)
Ordem: Sapindales
Família: Burseraceae
Gênero: ProtiumTribo:
Protieae
Espécie: Protium heptaphyllum (Aubl.) Mar-chand
Publicação: Vidensk. Meddel. Dansk Naturhist.Foren. Kjobenhavn. ser. 3, 5: 54. 1873.
Sinonímia botânica: Icica heptaphylla Aubl.;Icica guianensis Aubl.; Amyris ambrosiaca Mart.;Protium aromaticum Engl.; Protium tacamahacaMarch.
Nomes vulgares por Unidades da Federação: amecega, amescla, amescla-de-cheiro,amescla-cheirosa, amescla-de-resina e breu, em Alagoas; almesca, amescla, amescla-mirim e breu-branco-da-praia, na Bahia; almécega, almêcega, almesca, almíscar e amescla, no Ceará; amescla-cheirosa e breu-vermelho, no Espírito Santo; almecega e ameciqueira, em Mato Grosso; almécega, almesca, armesca e amécicla, em Mato Grosso do Sul; almecega, almecega-cascuda, amescla, armescla, breu-branco, breu-cascudo, breu-vermelho, carne-de-vaca, folha, mangueira--brava, mangueira-do-mato, mangueirinha, manguinha e margaridinha, em Minas Gerais; almescla, breu e cicantã, no Pará; almecega-brava, amescla e amescla-aroeira, na Paraíba; almécega, almésca e breu, no Paraná; almécega e amescla, em Pernambuco; amescla, amescla-de-cheiro e incenso, no Rio Grande do Norte; almécega, noEstado do Rio de Janeiro; almaceagueira, almecega, almecegueira, almesca, amesca, amescla, animé, breu, breu-almecega, mangue e ubiracica, no Estado de São Paulo; amescla, em Sergipe.
Nomes vulgares no exterior: ysy, na Argentina; isigo, na Bolívia; anime, na Colômbia; boisd’encense, na Guiana Francesa; yvyra ysy, noParaguai.Protium heptaphyllumAlmecegueira
Etimologia: o nome genérico Protium vem deum nome javanês; oepíteto específico heptaphyllum, em virtude de apresentar folhas compostas com sete folíolos. O nome vulgar almécega vem do árabe al-mas-taka e quer dizer “mastique ou resina”.
Descrição
Forma biológica: arbusto, arvoreta a árvore perenifólia ou semi decídua fortemente aromática devido ao óleo-resina abundante em todas assuas partes. As árvores maiores atingem dimensões próximas de 20 m de altura e 60 cm de DAP(diâmetro à altura do peito, medido a 1,30 m do solo), na idade adulta.
Tronco: geralmente apresenta troncos múltiplos ou um único tronco curto. O fuste também é curto.
Ramificação: é cimosa. A copa é densa, arredondada, com ramos baixos, abundantes e glabros.
Casca: com espessura de até 15 mm. A superfície da casca externa é quase lisa, de cor acinzentada, com lenticelas abundantes. Nos exemplares adultos, é finamente fissurada, com fissuras de pouca profundidade, formando descamações arredondadas e grossas que se desprendem facilmente. A casca interna é fibrosa, de cor rosada próximo à casca externa e de uma cor mais clara (esbranquiçada) próximo ao alburno. É aromática, com odor parecido com a terebintina. Exsuda pequenas quantidades de uma seiva transparente, resinosa e semi viscosa.
Folhas: são compostas pinadas, medindo de 15a 25 cm de comprimento, glabras, geralmente com 2 a 4 pares de folíolos glabros, em formato variado, de obovados a elípticos, glabros, sem estípulas, de consistência subcoriácea, medindo 5a 10 cm de comprimento, e 2 a 5 cm de largura, com borda lisa, de cor verde-escuro na face superior e verde-pálido na face inferior, ápice acumi-nado e base obtusa; peciólulos pulvinulados. Ao serem trituradas, exalam odor de terebintina.
Inflorescências: apresentam-se em panículas fasciculadas axilares, medindo de 1 a 4 cm de comprimento.
Flores: são numerosas, unissexuais ou bissexuais, de coloração verde-amarelada a avermelhada, pequenas, medindo de 2 a 3 mm de comprimento, com quatro pétalas, e com estames obdiplostêmones.
A caracterização morfológica dos grãos de pólen dessa espécie é encontrada em Aguilar-Sierra;Melhem .
Fruto: do tipo nuculânio, de cor vinácea, medindo 1,2 cm de comprimento por 1 cm de diâmetro, com 1 a 4 sementes.
Sementes: trigonas, de coloração castanha, medindo 1,5 a 2 cm de comprimento, com cotilédones contor duplicados.
Sementes
Colheita e beneficiamento: os frutos devem ser colhidos diretamente da árvore, quando iniciarem a abertura espontânea, o que é facilmente notado pela exposição da semente envolta pelo arilo, que é de cor branca. Em seguida, esses frutos devem ser expostos ao sol, para completara abertura e a liberação das sementes. Devido à suculência do arilo, que envolve as sementes, é necessária uma secagem prolongada, para que se possa armazená-las.
Número de sementes por quilo: 2.160.
Tratamento pré-germinativo: não é necessário.
Longevidade e armazenamento: sua viabilidade em armazenamento é curta, não ultrapassando 90 dias
.
Produção de Mudas
Semeadura: é feita em sementeiras. Depois, as plântulas são repicadas para sacos de polietileno com dimensões mínimas de 20 cm de altura e7 cm de diâmetro ou em tubetes de polipropileno, de tamanho grande. A repicagem deve ser feita 4 a 8 semanas após a germinação.
Germinação: é epígea ou fanerocotiledonar.
A emergência tem início 17 a 66 dias após a semeadura. O poder germinativo varia de 40% a 85% . As mudas atingem cerca de 20 cm de altura, aos 4 meses.
Características Silviculturais
A almecegueira é uma espécie heliófila, que não tolera baixas temperaturas.
Hábito: irregular, sem dominância apical e com tronco curto. Não apresenta desrama natural. Necessita de podas periódicas de condução e dos galhos.
Métodos de regeneração: essa espécie é recomendada para plantios a pleno sol, puros ou mistos.
Sistemas agroflorestais: Protium hepta-phyllum é deixada no sistema de cabruca, ou seja, Floresta Atlântica raleada sob plantação de cacau, no sul da Bahia.
Crescimento e Produção
Existem poucos dados de crescimento em plantios para a almecegueira.
Características da Madeira
Massa específica aparente (densidade):a madeira da almecegueira é moderadamente densa (0,55 a 0,81 g.cm-3) Massa específica básica: 0,65 g.cm-3.
Cor: o cerne é bege-claro-rosado e uniforme; o alburno é pouco diferenciado, branco-sujo e levemente rosado.
Características gerais: a superfície da madeira dessa espécie é lisa ao tato e pouco lustrosa, de textura média a fina e grã direita. Sem cheiro ou gosto perceptíveis.
Durabilidade: em lugares secos, essa madeira é de grande durabilidade.
Secagem: essa espécie apresenta secagem moderada, com tendência ao encanoamento, torcedura e endurecimento superficial. A secagem artificial deve ser controlada, para evitar alta incidência de defeitos.
Trabalhabilidade: essa madeira é de fácil manuseio em serraria e aplainamento. Sua superfície permite um bom acabamento. Não é rara a presença de sílica, o que colabora para o desgaste das ferramentas de corte. Não são reportados problemas de colagem. Recebe acabamento um tanto agradável.
Outras características: as características anatômicas da madeira dessa espécie podem ser encontradas em Loureiro, 1968a, e em Mattoset al. (2003).
Produtos e Utilizações
Madeira serrada e roliça: a madeira da al-mecegueira é apropriada para construção civil, obras internas, assoalhos, esteios, serviços de torno, caixotaria, carpintaria e marcenaria, além de construção de barcaças e de canoas.
Energia: essa espécie é usada como lenha, no Paraguai.
Celulose e papel: Protium heptaphyllum é uma espécie inadequada para esse uso.
Constituintes fitoquímicos: no Brasil, uma análise dessa espécie apresentou os seguintes resultados: resina amorfa (60%); resina cristalizada ou goma (24%); extrato amargo (2%) e impurezas (1,5%).
Alimentação animal: a almecegueira é uma forrageira bem pastada, principalmente no Pantanal Mato-Grossense. Essa espécie é uma das principais plantas apícolas do Pantanal da Nhecolândia, em Mato Grosso, predominando nomel colhido de maio a julho.
Medicinal: as cascas e as folhas dessa espécie são amplamente empregadas na medicina caseira em todo o País, embora sem comprovação científica da eficácia e da segurança de suas preparações.Contudo, a literatura etnofarmacológica registra o emprego da casca e das folhas como hemostáticas, cicatrizantes e antiinflamatórias, no tratamento de úlceras gangrenosas e de inflamações sem geral. Algumas tribos indígenas da Amazônia usam sua resina como descongestionante nasal, nos casos de fortes resfriados. Em uso externo, a goma-resina ou seiva resinosa é usada no tratamento de infecções cutâneas.
Paisagístico: a almecegueira proporciona boa sombra e apresenta qualidades ornamentais, podendo ser utilizada na arborização urbana e rural.
Plantios em recuperação e restauração am-biental: seus frutos são avidamente procurados por várias espécies de aves, que comem o arilo adocicado que envolve as sementes. Por isso, não pode faltar na composição de florestas mistas destinadas à recuperação de áreas degradada se na restauração de ambientes ripários, onde suporta encharcamento moderado e inundações periódicas de rápida duração.
Óleo-resina: todas as espécies do gênero Pro-tium exsudam, por incisão feita no tronco, um óleo-resina de cor branco-esverdeado a amarelo-claro e de aroma agradável, que se solidifica ao contato com o ar e se inflama facilmente. Trata-se da resina de almécega, resina alami ou almíscar, que outrora, nos cultos de adoração, substituía o incenso procedente do Oriente, sendo por isso chamado de “incenso brasileiro”. Esse óleo apresenta 12,5% a 24% de óleo essencial. Quimicamente, é formado por uma mistura natural de 30% de protamirina, 25% de protelemícica e 37,5% deproteleresina, que são constituídos de triterpenos, principalmente das séries oleano, ursano e eufano, com óleo essencial rico em compostos mono e sequiterpênicos, semelhante ao encontrado em suas folhas.
Espécies Afins
O gênero Protium Burm. F. inclui cerca de 147espécies neotropicais, das quais apenas não ocorrem no Brasil. O centro de diversidade do gênero está na Amazônia, onde ocorrem 42 espécies endêmicas. Protium heptapt]hylium é a espécie mais polimórfica do gênero, talvez em razão de sua ampla distribuição e diversidade de habitats. Swart reconheceu 7 variedades e 5 formas separadas por caracteres como número de elementos do perianto (flores 4 ou 5 meras), número, tamanho e forma dos folíolos, dimensão e densidade das inflorescências e flores. A distinção desses táxons infra-específicos é, com poucas exceções, bastante difícil nos materiais apenas com frutos, tal é o grau de variabilidade morfológica exibido. Protium heptaphyllum é muito semelhante aP. ovatum Engl., ocorrendo inclusive em simpatria em certos tipos de habitats. Contudo, na primeira, as nervuras secundárias ramificam-se próximas à margem dos folíolos e o disco intra-estaminal é bastante raso nas flores masculinas, cerca de 0,5 mm de comprimento. O centro de diversidade do gênero Protium está na Amazônia. Protium heptaphyllum é a espécie sul-americana mais amplamente distribuída. Atualmente, está subdividida em duas variedades: atípica heptaphyllum e a ulei. Protium heptaphyllum é uma espécie muito próxima de P. almecega March., separando-se pelo exame da casca, que na primeira espécie é cascuda, enquanto na segunda espécie é lisa.