Os reflorestamentos em larga escala iniciaram-se em 1966, com o plantio de extensas áreas de eucalipto, pinus e pinheiro-do-Paraná (Araucária), para produzir madeira para as indústrias de celulose e papel, de chapas de fibras e para produzir carvão siderúrgico. Em 1984 registraram-se 5,5 milhões de hectares de áreas reflorestadas.
Posteriormente, outros usos, cada vez mais nobres, foram desenvolvidos para estas madeiras, que despontaram finalmente no setor moveleiro, tanto na forma sólida, aparente ou revestida, como em painéis compensados, chapas de fibra ou mesmo lâminas. Podem ser citados desde os móveis de custo relativamente baixo, confeccionado em madeira aglomerada, até seu desenvolvimento posterior, em qualidade, desempenho e design, que caracterizaram os móveis em madeira sólida de pinus e araucária, com beleza e linhas escandinavas.
O sucesso da introdução de novas madeiras no setor moveleiro depende do conhecimento sobre suas características de comportamento e uso, além do suprimento assegurado com qualidade compatível ao uso desejado. Estes requisitos de mercado vem sendo atendidos pelas madeireiras de reflorestamento, que certamente passarão a contribuir mais intensamente para suprir o setor moveleiro com matéria-prima de ótima qualidade, a preços competitivos.
São muitas as espécies reflorestadas com potencial para a fabricação de móveis. Entre elas: araucária ou pinho-do-paraná, cinamono, eucalipto, grevílea, pinus e teca.
A araucária é uma das madeiras preferidas pela indústria de móveis devido às suas características de fácil usinagem, cor e peso adequados. Seu crescimento é relativamente lento, mesmo em plantações bem conduzidas. Requer terras férteis, competindo portanto com a agricultura, o que se reflete na sua pouca disponibilidade e preço relativamente altos. A madeira oriunda de plantações é leve, clara e de crescimento uniforme, com excelentes características físicas e mecânicas. Suas plantações concentram-se no Oeste do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
O cinamomo é uma madeira de crescimento rápido, leve e clara, da mesma família que o cedro e o mogno. Assemelha-se ao cedro embora apresente cor mais clara. Apresenta bons rendimentos na produção de lâminas faqueadas e como madeira sólida, seca facilmente, e proporciona excelente acabamento. Não existem muitas plantações e o volume de madeira produzido ainda não é significativo. Pode ser encontrado no estado do Paraná e no Rio Grande do Sul.
O eucalipto é a madeira mais estudada atualmente sob todos os aspectos e a mais plantada. Até 1996 existiam cerca de 2,92 milhões de hectares de plantações, com produção de 600 mil m³ por ano para chapas de fibras e aglomerados. Adicionalmente, outros 50 mil m³, por ano, de madeira de alta qualidade para serraria e móveis estão sendo produzidos no Rio Grande do Sul e em Minas Gerais.
Aproximadamente mais de 80 mil m³/ano estarão sendo produzidos no Espírito Santo, além da produção também no Paraná.
Uma das espécies mais favoráveis para a indústria moveleira é o eucalipto grandis, de cor clara, avermelhada e densidade média, que necessita cuidados no desdobro e secagem mas proporciona excelente material para móveis. Esta espécie pode ser clonada ou reproduzida vegetativamente, a partir das melhores árvores e assim, pode atingir as características mais apropriadas para o setor. O eucalipto citriodora é a madeira mais pesada, castanha clara, muito resistente, que apresenta excelentes resultados de acabamento em móveis. Pode ser encontrada comercialmente nos estados de São Paulo, Paraná e Minas Gerais.
A grevílea é uma madeira de crescimento rápido, densidade média, cor castanha clara levemente acinzentada, podendo apresentar efeitos quase prateados. Em planos de corte radiais assemelha-se ao carvalho. A usinagem é fácil, conseguindo-se excelentes rendimentos e acabamentos. Apresenta secagem fácil e produz lâminas e compensado de boa qualidade. Existem poucas plantações e portanto ainda há pouca disponibilidade da madeira; encontra-se no Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
Pioneira entre as madeiras de reflorestamento usadas pela indústria moveleira, o pinus representa cerca de 30% da madeira serrada produzida no Brasil, em especial nas regiões Sudeste e Sul. Várias espécies estão disponíveis, nas formas sólidas e em lâminas: o pinus elliotti mais comum, amarelado e resinoso, com anéis de crescimento bem demarcados, e os pinus oocarpa, patula e caribea, mais claros, poucos resinosos, mais ou menos densos.
As plantações destas espécies e seu processamento concentram-se nos estados de Minas Gerais, São Paulo, Paraná e Santa Catarina. A madeira de pinus taeda é mais firme, clara e pouco resinosa, No entanto, pode apresentar muito nós.
A madeira de todas as espécies de pinus é de fácil usinagem, apresenta bons rendimentos e excelentes acabamentos, mas tem pouca resistência mecânica e superficial, devendo ser utilizada com cuidados nas estruturas de móveis e requerendo acabamento superficial protetor. A madeira de pinus deve ser tratada com produtos preservantes que evitem a contaminação por fungos apodrecedores e fungos causadores da mancha azul.
A teça é uma madeira nobre, atualmente produzida em plantações no Mato Grosso, medianamente pesada, com boa resistência, grande estabilidade, fácil de secar e usinar, proporcionando excelente acabamento. É usada em todos os tipos de móveis internos e externos, com excelentes resultados. É madeira tradicional no comércio internacional e muito valorizada. Há uma previsão do uso crescente desta madeira no mercado moveleiro.
Características
Entre as árvores, dois grupos recebem nomenclatura diferentes: coníferas, para as gimnospermas, como o pinho-do-Paraná; e folhosas ou latifoliadas, para as angiospermas dicotiledôneas, como o ipê e a peroba.
O tronco ou fuste é a parte da árvore de maior interesse comercial, pois dele se obtém a madeira. O tronco apresenta, do centro para a periferia, respectivamente, a medula, o cerne, o alburno e a casca.
A medula é a parte central do tronco. O cerne e o alburno constituem o chamado lenho. O cerne é mais escuro e geralmente mais durável que o alburno: este último é uma madeira suscetível à deterioração devido à sua menor resistência aos ataques de insetos e fungos. Salvo exceções, como a virola, que apresenta cerne e alburno da mesma cor, a parte do tronco de maior interesse comercial é o cerne.
Um problema comum, mesmo para técnicos especializados, é a dificuldade para se identificar madeiras. É difícil distinguir uma madeira da outra dentro da enorme variedade de espécies encontradas no Brasil.
Para se ter uma idéia, o Instituto de Pesquisas Tecnológicas do estado de São Paulo – IPT conta com um acervo de 18 mil amostras de madeiras, pertencentes a 3 mil espécies, 600 gêneros e 100 famílias.
A identificação de madeiras tem como objetivo orientar sua comercialização nos mercados interno e externo, evitando enganos e substituição das espécies. Além disso, assegura a identificação correta constituindo uma base segura para estudos tecnológicos das madeiras. Para identificá-las são utilizados três planos de observação: a superfície transversal, a tangencial e a radial.
Superfície transversal (ou de topo): é o plano de caule. Nessa seção, podem ser facilmente observados, com lupa, o cerne, o alburno, os anéis de crescimento e os raios da madeira.
Superfície tangencial: é o plano de corte longitudinal, perpendicular aos raios e tangencial às camadas de crescimento.
Superfície radial: é o plano de corte longitudinal, que passa pelo centro do tronco, paralelamente aos raios e perpendicularmente às camadas de crescimento. A identificação das características sensoriais da madeira, tais como cor, cheiro e sabor, pode dar-se pelo processo macroscópico ou através da observação a olho nu. É necessário grande prática e, mesmo assim, é possível distinguir apenas as poucas espécies que possuem caracteres de identificação muito pronunciados, como, por exemplo, a cor do pau-roxo, o cheiro do cedro, e o sabor do pau amargo.
Para um exame mais preciso, usa-se uma lupa de 10 vezes de aumento, uma navalha para polimento da superfície da madeiram conhecimento e experiência na comparação entre madeiras.
Características anatômicas
As características essenciais para a identificação de madeiras são o parênquima, os vasos, os poros e os raios, observáveis nos processo macroscópico e microscópico.
Parênquima é um tecido todo composto de células curtas, de paredes finas, em geral mais claro que a parte fibrosa do lenho. Existem diversos tipos de parênquima: o aliforme (presente no cumaru e na sucupira), o confluente (Angelim-pedra, garapa), o difuso (piquiá), em faixa ou linha (cedro, goiabão), o marginal (jatobá, mogno) e o vasicêntrico (cabreúva-vermelha).
Poro é a seção transversal de um vaso. A ausência de poros na madeira indica espécie pertencente ao grupo das coníferas, como o pinho-do-Paraná, araucária e o pinus elliotti.
A presença de poros classifica a madeira no grupo das folhosas, isto é, espécies de madeira provenientes da região amazônica, como, por exemplo o mogno, o jatobá, o ipê e a muiratiara.
Os raios dispõem-se no sentido radial em relação ao eixo da árvore. Na superfície do topo da amostra, apresentam-se como abundantes linhas retilíneas próximas umas das outras, em geral mais claras. Na superfície radial, apresenta-se como linhas ou faixas horizontais, observáveis a olho nu, como no louro-faia e no carvalho-brasileiro.
Características Sensoriais
São as características que podem ser reconhecidas pelos órgãos dos sentidos, como cor cheiro, sabor e brilho.
A cor é uma das propriedades da madeira diretamente relacionada ao seu uso, principalmente como elemento decorativo. A coloração da madeira origina-se normalmente dos pigmentos e outros materiais, como taninos e resinas, que se fixam principalmente no cerne.
A cor é alterada pela incidência da luz solar, pelo teor de umidade e pela exposição ao ar. A madeira escurece devido à oxidação de componentes orgânicos. O aspecto acinzentado da madeira velha ocorre porque as fibras de celulose da superfície se soltam. Isso acontece principalmente quando a madeira não recebeu verniz, tinta ou outro tratamento superficial preservativo. Para identificação, a cor pode ser observada na superfície do cerne recém-polido com uma navalha. Madeiras identificáveis por sua cor típica são o pau-roxo, o pau amarelo e a braúna-preta.
Quanto ao cheiro, a presença de compostos orgânicos determina esta característica. Estas substâncias em geral são encontradas no cerne, onde o odor é mais pronunciado. É possível identificar algumas espécies de madeiras apenas pelo seu odor característico.
Alguns exemplos de espécies com cheiro agradável são os louros e o cedro. A cupiúba tem odor desagradável. O piquiá tem cheiro suave de fermento ou vinagre; a cerejeira tem odor agradável, lembrando baunilha. O cheiro também determina o uso da madeira, pois caixas para embalagens de alimento, por exemplo, não podem ter odor algum. O sabor ou gosto da madeira está relacionado com o seu cheiro e em geral é mais pronunciado em madeiras verdes ou recém cortadas.
O brilho é a propriedade que faz com que as paredes celulares da madeira reflitam luz. Em geral, as madeiras são mais brilhantes nas fases radicais. Espécies consideradas brilhantes são a itaúba e a canela.
A textura da madeira é a impressão visual produzida pelo tamanho dos poros e raios. O carvalho-brasileiro e o louro-faia, por exemplo, possuem textura grossa. O guatambu e a grumixava, entre outras, são madeiras de textura fina.
A grã refere-se à disposição dos elementos fibrosos do lenho, identificados na seção longitudinal da madeira. O angelim-preta, por exemplo, tem grã irregular.
Figura é o termo usado para descrever o desenho natural das faces da madeira, que resulta de várias características como cerne, alburno, cor, grã e principalmente, de dois elementos estruturais: anéis de crescimento e raios. O corte realizado na madeira também influencia na figura. A imbuia, por exemplo, tem grã ondulada; o pinus elliotti possui anéis de crescimento de cores distintas.
Fonte: Instituto de Pesquisas Florestais – IPT-SP |