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REVISTA DA MADEIRA - EDIÇÃO N°59 - SETEMBRO DE 2001

Origens

O Eucalipto e Suas Origens

O nome eucalipto deriva do grego: eu(= bem) e kalipto(= cobrir), referindo-se à estrutura globular arredondada de seu fruto, caracterizando o opérculo que protege bem as suas sementes. O eucalipto pertence à família das Mirtáceas e é nativo da Austrália, onde cobre 90% da área do país, formando densos maciços florestais nativos. O Serviço Florestal da Austrália já identificou 670 espécies e apenas duas delas, Eucalyptus urophylla e E. deglupta, têm ocorrência natural fora do território australiano. Além do elevado número de espécies, existe um número muito grande de variedades e híbridos.

Os historiadores mencionam que, por volta de 1774, o eucalipto teria sido introduzido na Europa e, em 1788, foi descrito pela primeira vez pelo botânico francês L"Héritier de Brutelle, no Sertum Anglicum, em Paris, valendo-se do material recolhido em expedições no território australiano. Até a metade do século XIX, o eucalipto figurou apenas em coleções de alguns jardins botânicos, sem nenhuma importância comercial. Na Índia, os primeiros plantios ocorreram em 1843 e, por volta de 1856, já havia povoamentos de eucaliptos bem desenvolvidos. Na África do Sul, os primeiros ensaios com eucaliptos ocorrem em 1828, na colônia do Cabo. Os primeiros ensaios na Europa, visando à produção comercial, datam de 1854, principalmente com o Eucalyptus globulus , plantados em Portugal pelo Barão de Massarellos e por J. M. Eugênio de Almeida. Em 1863 foi introduzido na Espanha e, em 1869, foi introduzido na Itália

Na América do Sul, talvez o Chile tenha sido o primeiro país a introduzir o eucalipto, em 1823, recebendo as sementes de um navio inglês. A Argentina teria introduzido o eucalipto em seu país em 1865, através do Presidente Garcia Moreno. No Uruguai, as primeiras sementes de eucalipto foram recebidas em 1853.

É difícil se determinar, com segurança, a data de introdução do eucalipto no Brasil. Até há algum tempo, tinha-se como certo que os primeiros plantios aconteceram no Rio Grande do Sul, em 1868, por Frederico de Albuquerque. Tal pioneirismo é questionado, uma vez que, em 1869, chegara a Paris uma correspondência de Frederico de Albuquerque, solicitando sementes de eucalipto e que realizara tentativas de introdução de eucalipto no Brasil. No ano de 1868, o tenente Pereira da Cunha plantou alguns exemplares na Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro. O acadêmico Osório Duque Estrada afirmou que, em 1875, na antiga propriedade de seu pai, mais tarde transformada em Sanatório da Gávea, havia exemplares de Eucalyptus globulus que, pelo seu porte gigantesco, não deviam contar menos de vinte anos, o que faz recuar a data de sua introdução no Brasil para 1855.

O vigário de São Paulo José Tenório da Silva teria plantado um exemplar de Eucalyptus globulus, na Chácara da Cachoeira, entre 1861 e 1867. Em 1870, o médico Dr. Antônio Lazarini se interessou pela introdução do eucalipto na cidade de Vassouras, no estado do Rio de Janeiro, mandando plantar vários exemplares nas ruas da cidade e no jardim público. Coincidindo com o aparecimento da febre amarela na cidade, toda a população se revoltou e exterminou as árvores, julgando-as malignas e portadoras da doença. Segundo José Barbosa Rodrigues, em seu “Hortus Fluminensis”, o Frei Leandro do Sacramento, que foi diretor do Jardim Botânico, entre 1824 e 1829, o pioneiro no plantio de eucalipto no Brasil, ao plantar dois exemplares de Eucalyptus gigantea, na parte posterior do jardim. Tais árvores constam no Catálogo das Plantas Cultivadas no Jardim Botânico.

Introdução

Até o princípio do século XX, o eucalipto foi plantado como árvore decorativa, pelo seu extraordinário desenvolvimento como quebra-vento ou por supostas propriedades sanitárias. Pouquíssimas foram as plantações com fins industriais e caráter florestal. Deve-se à Companhia Paulista de Estradas de Ferro e ao Dr. Edmundo Navarro de Andrade a expansão da eucaliptocultura, através da sistematização da cultura e um sem número de experiências. Em fins de 1903, em Jundiaí, no estado de São Paulo, iniciou-se uma série de estudos experimentais que deram sustentação à implantação do eucalipto, em grande escala. Em vários estados brasileiros, iniciaram-se os estudos sobre a cultura, a partir dos resultados de Navarro de Andrade.

Pouco a pouco, o eucalipto foi sendo adotado como espécie alternativa para o suprimento de madeira, principalmente como combustível nas formas de lenha e carvão, em função do escasseamento das matas nativas. Até 1966, as estimativas dão conta de uma área total plantada de, aproximadamente, 400 mil hectares. Em função da grande demanda de madeira para futuros projetos industriais, o governo brasileiro instituiu, a partir desta data, um programa de incentivos fiscais para aumentar a área plantada. Em poucos anos, a área com plantações de eucaliptos saltou de 400 mil para 3 milhões de hectares. Criaram-se, nessa época, os cursos de engenharia florestal e várias instituições de pesquisa florestal que deram suporte ao desenvolvimento da cultura.

Como o “boom”do reflorestamento com eucalipto coincidiu com a implantação das escolas e instituições de pesquisa, inúmeras falhas ocorreram nas fases de implantação, manejo e exploração da cultura, em decorrência da falta de informações, de profissionais e técnicos especializadas, pela falta de equipamentos apropriados, de sementes melhoradas, de programas conservacionistas e de melhoramento etc. Tais falhas foram muito cobradas pelos ambientalistas, mas independente delas o atual setor industrial de base florestal está apoiado, em grande parte, na matéria-prima implantada à época dos incentivos fiscais.

Para o caso específico do Brasil, o eucalipto possui um caráter estratégico, uma vez que a sua madeira é responsável pelo abastecimento da maior parte do setor industrial de base florestal. Basta citar alguns números para se avaliar quão importante é a sua participação na economia nacional. Da madeira de eucalipto, atualmente, se produzem, por ano, no setor de celulose, 5,4 milhões de toneladas de celulose, representando mais de 70,0% da produção nacional; número também impressionante é o setor de carvão vegetal, com uma produção anual de 18,8 milhões de metros cúbicos, representando mais de 70,0% da produção nacional; outro setor importante é o de chapa de fibra, com uma produção anual de 558 mil metros cúbicos, representando 100.0% da produção nacional; o setor de chapas de fibra aglomerada produz 500 mil metros cúbicos, representando quase 30,0% da produção nacional.

Consumo

O Brasil consome atualmente 350 milhões de m3/ ano, o que significa 8% do consumo mundial de madeira. Os reflorestamentos localizados nas regiões Sudeste e Sul do País têm sido principal fator de competitividade de novos projetos industriais, oferecendo grandes volumes de madeira a baixo preço. Estudos mais recentes indicam que existem no País 4,6 milhões de hectares de florestas plantadas, sendo 1,7 milhões do gênero Pinus e 2,9 milhões do gênero Eucalyptus, o que corresponde, por sua vez, a 50% do total de florestas plantadas de Eucalyptus em todo o mundo( aproximadamente 6 milhões de hectares). A maioria dos plantios , está localizada nas regiões Sudeste e Sul do País.

Os reflorestamentos localizados nas regiões Sudeste e Sul do País têm sido principal fator de competitividade de novos projetos industriais, oferecendo grandes volumes de madeira a baixo preço, mas estudos indicam que, a médio prazo, a situação apresentará uma mudança drástica. A maior parte dos reflorestamentos existentes encontra-se comprometida com os programas de desenvolvimento dos setores de celulose e papel, bem como da indústria siderúrgica e, atualmente, estão servido, também, de base para atender o setor industrial de madeira sólida. Graças à atual estabilidade econômica e à pujança do mercado interno, novos projetos industriais de grande porte estão surgindo e terão impacto significativo sobre a base florestal e o mercado.

O eucalipto é considerado uma espécie muito importante na economia de mais de cem países, existindo, atualmente, uma área plantada no mundo superior a 13 milhões de hectares. As dez espécies de eucalipto mais importantes nas plantações florestais no mundo, em termos de incremento médio anual de madeira, são: Eucalyptus grandis, E. saligna, E. urophylla, E. camaldulensis, E. tereticornis, E. globulus, E. citriodora, E. robusta, E. esxerta e E. paniculata. No Brasil, as espécies mais plantadas são o Eucalyptus grandis( 55% ), Eucalyptus saligna( 17% ), Eucalyptus urophylla( 9% ), Eucalyptus viminalis (2 %), híbridos de E. grandis x E. urophylla( 11% ) e outras espécies( 6%) . Entre outras espécies, destacam-se o E. cloeziana e o E. citriodora.

A madeira de eucalipto é freqüentemente utilizada a uma idade tenra, em geral de oito a dez anos, para fins de produção de celulose, chapa de fibras, painéis de madeira aglomerada, lenha e carvão. Apenas uma proporção muito reduzida das plantações de eucalipto é normalmente manejada para a produção de madeira para serraria, requerendo rotações mais longas, geralmente a partir dos 20 a 25 anos.

Quando se pensa em espécies de rápido crescimento como alternativa para produção de madeira, o gênero Eucalyptus se apresenta como uma espécie potencial das mais importantes, não somente por sua capacidade produtiva e adaptabilidade a diversos ambientes, mas principalmente pela grande diversidade de espécies, tornando possível atender aos requisitos tecnológicos dos mais diferentes segmentos da produção industrial.

A despeito de tamanha potencialidade, o Brasil não está plantando eucalipto à altura de suas necessidades e repondo os seus estoques. Existe unanimidade entre todos os setores industriais de base florestal que a área plantada anualmente para abastecer as fábricas deveria exceder os 400 mil hectares, mas nem 1/3 desse total tem sido plantado. Já é unanimidade de que haverá um déficit considerável de madeira, principalmente de grande dimensões, para processamento mecânico, nas atividades de serraria e laminação, já a partir do ano de 2.003. As grandes empresas detentoras de madeira de qualidade deverão exercer grande pressão sobre o mercado nos próximos anos, tanto nos volumes comercializados, quanto em relação a preços. Setembro/2002